Opinião de: Anish Mohammed, cofundador do Panther Protocol

A proposta recente do cofundador da Binance, Changpeng “CZ” Zhao, de criar uma exchange descentralizada (DEX) de swaps perpétuos com dark pool vai além de uma ideia inovadora, é um reflexo oportuno de onde a Web3 está ficando para trás.

Em um mercado cada vez mais movido por instituições e grandes participantes, o apelo de CZ por execuções privadas e proteção contra ataques de valor máximo extraível (MEV) destaca uma verdade mais profunda: a atual infraestrutura de negociação no setor cripto não foi projetada para escala, discrição ou sofisticação.

A suposta manipulação on-chain da Hyperliquid, na qual uma liquidação de quase US$ 100 milhões foi rastreada publicamente e aparentemente visada, evidenciou o problema. Blockchains públicas oferecem acesso igual aos dados, mas, ao fazer isso, também expõem os traders de grande volume a práticas como front running, copy trading e vigilância de carteiras. No mercado financeiro tradicional, os dark pools foram criados justamente para evitar isso.

O descompasso entre maturidade de mercado e infraestrutura

O setor cripto amadureceu. Agora temos ativos digitais avaliados de forma consistente na casa dos bilhões. A base de usuários se expandiu para além dos primeiros adeptos e passou a incluir investidores institucionais, fundos regulados e tesourarias corporativas.

Ainda assim, continuamos dependentes de modelos de execução ultrapassados: mesas de balcão com escopo limitado, agregadores e swaps ponto a ponto sujeitos a slippage e ineficiência. A infraestrutura atual do setor não é madura o suficiente para investidores institucionais, que estão acostumados a meios mais sofisticados para realizar negociações.

Ainda pior, há a ameaça constante de exposição. As carteiras pertencentes a fundadores, fundos e grandes investidores são frequentemente rastreadas em tempo real. Cada movimentação, por menor que seja, pode enviar sinais ao mercado. Esse nível de visibilidade pode atrair traders de varejo ávidos por informações sobre o mercado, mas é um grande obstáculo para players sofisticados e instituições que precisam entrar e sair de posições sem causar alvoroço.

O dark pool DEX de CZ

A ideia de uma DEX com liquidez oculta, onde as ordens não são visíveis até serem executadas, não é nova no mercado tradicional, mas ainda está ausente no setor cripto. CZ propõe construir um protocolo que utilize tecnologias de aprimoramento de privacidade, como provas de conhecimento zero (zero-knowledge proofs) ou computação multipartidária (MPC), para ocultar a mecânica das negociações até que sejam finalizadas. A intenção é clara: proteger contra bots de MEV, reduzir a manipulação e criar um ambiente seguro para negociações de grande volume.

A privacidade traz concessões. Opacidade total pode abrir espaço para manipulação não revelada. Reguladores e alguns usuários podem reagir negativamente caso as estruturas de dark pool reduzam a transparência do mercado. O desafio será equilibrar a necessidade de discrição com a exigência por responsabilidade.

O sinal mais amplo do mercado

Independentemente de a ideia de CZ se concretizar ou não, seu apelo já é um sinal.

Existe uma demanda crescente por infraestrutura que viabilize transações cripto privadas e em grande escala, sem depender de intermediários centralizados ou ferramentas ultrapassadas. Não se trata apenas de ocultar negociações; trata-se de permitir escala, criar rotas de saída e reduzir o atrito para participantes sérios do mercado.

À medida que a Web3 amadurece, as premissas com as quais operamos na última década precisam evoluir. A noção de que toda transação deve ser pública por padrão pode agradar aos puristas ideológicos, mas já não condiz com a realidade de uma indústria crescente e intensiva em capital.

O apelo de CZ por uma DEX com dark pool não é apenas uma reação a um evento específico; é o diagnóstico de uma necessidade sistêmica.

Se o setor cripto deseja atrair capital sério, precisa oferecer infraestrutura séria. Isso significa privacidade nas execuções, proteções inteligentes e uma distinção clara entre transparência e exposição. A Web3 está finalmente amadurecendo. Agora, suas ferramentas precisam fazer o mesmo.

Opinião de: Anish Mohammed, cofundador do Panther Protocol.

Este artigo é para fins informativos gerais e não se destina a ser, nem deve ser interpretado como, aconselhamento jurídico ou de investimento. As opiniões, pensamentos e pontos de vista aqui expressos são exclusivamente do autor e não refletem ou representam necessariamente as opiniões e pontos de vista do Cointelegraph.