O desmoronamento do império cripto da FTX pode ter prejudicado o varejo brasileiro e o sentimento institucional em relação aos criptoativos. Seu impacto, no entanto, não afetará os cidadãos comuns — que ainda usarão criptomoedas para transações internacionais.

Refletindo sobre a recente queda da FTX, Thiago César, CEO do Transfero Group, disse que a queda da exchange, como em muitos países ao redor do mundo, prejudicou a confiança nas exchanges de criptomoedas centralizadas e os ativos digitais no geral.

O Transfero Group está intimamente ligado ao ecossistema brasileiro de criptomoedas e à FTX, pois era o provedor da solução para entrada e saída de moedas fiduciárias, além de emitir a stablecoin com valor pareado ao real, o BRZ.

César disse ao Cointelegraph que o colapso da exchange removeu uma “grande fonte de liquidez” do mercado, já que a FTX estava classificada entre as três maiores em termos de volume de negociação.

Ele também salientou que a incerteza em torno das exchanges centralizadas causou uma “grande saída de fundos” das exchanges no Brasil, com muitos usuários buscando a autocustódia – estimando que pelo menos 20% do volume de negociação foi perdido nas exchanges até agora.

“Muitas pessoas estão tentando liquidar quaisquer posições que tenham em cripto para guardar o dinheiro no banco.”

César observou que a saga FTX tornará o investimento em criptomoedas uma narrativa "mais difícil de vender" para novos investidores e traders.

“Para o investidor/trader de criptomoedas, é claro. É uma venda mais difícil agora. Se você for até uma pessoa que não entende de cripto e tentar convencê-la a investir, principalmente no Brasil — a população sempre foi muito cética em relação à cripto. Agora é mais difícil", disse.

Ele observa, porém, que para as pessoas que usam cripto como meio de pagamentos intercionais, ou a “internacionalização do dinheiro”, é improvável que haja qualquer impacto do colapso do FTX.

“Boa parte do volume de criptomoedas negociado no Brasil vem de players que estão dispostos a trocar sua moeda local por um ativo internacionalmente líquido denominado em dólares. Então, nesse sentido, o mercado não vai diminuir porque as criptomoedas são apenas trilhos para isso.”

Em outubro, um relatório da Chainalysis descobriu que envio de remessas e o combate à inflação foram dois dos impulsionadores mais significativos da adoção de criptomoedas na América Latina.

César disse que o colapso do FTX provavelmente será usado pelas exchanges locais "como uma ferramenta de lobby" para pressionar por regulamentações destinadas a colocar as exchanges internacionais em conformidade.

O CEO da Transfero acrescentou que essas exchanges de criptomoedas estavam pressionando por uma regulamentação no Brasil que “separaria” as exchanges locais e internacionais, tirando o acesso das exchanges internacionais aos seus livros de liquidez global.

“Eles estavam propondo que a regulamentação obrigasse, por exemplo, que a liquidez nos livros em reais fosse segregada dos livros internacionais.”

César explicou que tal regulamentação prejudicaria as exchanges internacionais, já que sua principal vantagem vem de livros de ofertas globais líquidos e internacionais.

Em um relatório de 18 de novembro da Reuters, Roberto Dagnoni, presidente executivo e CEO do Mercado Bitcoin, disse que o projeto de regulamentação do mercado cripto no Brasil estiveram "meio adormecidas" durante o período eleitoral, mas agora precisam de prioridade.

“As regras que existem atualmente não foram aplicáveis ​​a alguns players, então eles podem fazer o que quiserem”, disse ele.

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