As incertezas sobre a confiabilidade e a segurança da então gigante – e agora falida – exchange de criptomoedas FTX tiveram início há dez dias quando foi divulgado um balanço da sua empresa irmã, o fundo de hedge Alameda Research, mostrando que suas reservas eram constituídas majoritariamente pelo FTX Token (FTT), uma altcoin criada e emitida pela própria FTX.

À medida que a crise se agravou, a partir da declaração do CEO da rival Binance, Changpeng "CZ" Zhao, afirmando que estava disposto a se desfazer da totalidade de suas posições de FTT, a utilidade e o valor intrínseco do FTT provaram-se praticamente nulos. E agora, com o pedido de recuperação judicial da massa falida do ex-bilionário Sam Bankman-Fried (SBF) junto à Justiça dos EUA, é provável que o destino do FTX Token vá nominalmente a zero.

Segundo o programador, libertário e maximalista do Bitcoin (BTC), Jimmy Song, a ascensão e a queda do FTT são uma metáfora da trajetória comum reservada à grande maiora das altcoins – criptoativos alternativos ao BTC. O caso da FTX serviu para evidenciar tal fato, disse Song:

"É uma lição bem cara para essas pessoas. Todas as moedas tem esse incentivo de confiar ao invés de verificar, não há uma cultura de verificar essas entidades, e quando elas vão à falência, perde-se todo o dinheiro investido ali."

Agora, à medida que a regulação ganha caráter de urgência e contornos dramáticos adicionais após as novas perdas impostas aos usuários da FTX e da FTX US, que se somam aos casos do colapso do ecossistema Terra, a falência das plataformas de empréstimos Celsius e Voyager, sem falar nos efeitos colaterais do contágio, as altcoins podem estar com os dias contados, sugeriu Song em entrevista à Exame:

"Pode ser o começo do fim para muitas altcoins, e para elas a trajetória de longo prazo é de queda. Foi uma quebra de confiança gigantesca. Mas acho que o bitcoin ficará bem por ser descentralizado."

O aperto do cerco regulatório aliado à desconfiança dos investidores desencadeados pela falência da FTX poderão ser lembrados no futuro como o marco do "início do fim" das altcoins. Segundo Song, um "novo boom" das altcoins como os que ocorreram no passado "podem nunca mais acontecer". Mesmo diante de uma reversão das condições atuais do mercado.

Além da descentralização, o Bitcoin é não permissionado, o que significa que qualquer pessoa está autorizada a participar da rede desde que tenha os conhecimentos necessários, e independe de relações de confiança entre partes desconhecidas. Esses três aspectos o fazem único e inigualável e são potencializados pela simplicidade e eficiência de seu design, segundo Song: 

"O Bitcoin permite essa autossoberania, é o que o faz ser diferente, e espero que essa crise deixe isso bem claro. Não queremos confiar em ninguém, porque essas são as pessoas que podem te prejudicar."

Para o bitcoiner, o fato de SBF ter tomado decisões erradas, que incluem a malversação dos fundos dos usuários e acionistas de suas empresas, aqueles que confiaram seu dinheiro a ele não estão isentos de parte da culpa pelos desdobramentos catastróficos que se seguiram. 

"As pessoas confiaram sem verificar, as pessoas acreditaram na FTX e perderam". Essa atitude, segundo ele, só é aceitável no caso do Bitcoin, que permite que as pessoas "verifiquem sem confiar."

Em uma entrevista recente ao Cointelegraph Brasil, Song afirmou que os contratos inteligentes adotados pela Ethereum e outras redes blockchains de camada 1 são "um erro completo", pois é "impossível analisar todas as suas nuances", o que dá margem a constantes hacks e explorações.

"Acho muito estúpido apresentá-los como algo inovador ou interessante, quando, na verdade, eles são todos construídos como um castelo de cartas gigante", concluiu, com mais uma crítica contundente sobre o ecossistema de criptomoedas que foi construído a partir das inovações trazidas pelo Bitcoin.

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