O Bitcoin (BTC) começa uma nova semana com uma alta signficativa que conduziu seu preço acima de US$ 22.000, à medida que o Banco Central dos EUA (Fed) volta a injetar liquidez na economia dos Estados Unidos.

Em um movimento que pode rivalizar com qualquer retorno clássico do Bitcoin, o par BTC/USD subiu 15% em relação às mínimas de dois meses registradas em 10 de março.

A volatilidade – que representa ao menos um alívio temporário para os touros – deve-se a eventos que sacudiram os mercados financeiros nos EUA após a falência de um banco e a interrupção forçada das operações de outro.

O Silicon Valley Bank e o Signature Bank são as últimas vítimas da continuação dos efeitos de um ano brutal para as instituições financeiras sob as crescentes taxas de juros do Fed – a grande questão agora é se esta tendência será mantida?

Apesar do Signature ser focado em cripto e fornecer uma grande rampa de acesso às empresas e ao mercado de criptomoedas a moedas fiduciárias, o mercado até agora não viu razão para abandonar o otimismo com a perspectiva de o Fed voltar a colocar dinheiro novo em circulação.

Nem todo mundo, no entanto, acredita que isso constitui um “pivô” no comportamento do banco em relação aos aumentos contínuos das taxas de juros ou de sua política monetária mais ampla.

À medida que a poeira continua a baixar em meio às novas notícias dos eventos recentes, o Cointelegraph detalha os principais fatores que podem movimentar o preço do BTC no curto prazo.

Fed resgata clientes do Silicon Valley Bank

A história do momento é, obviamente, a queda do Silicon Valley Bank (SVB) durante o fim de semana recém encerrado.

Engolindo centenas de bilhões de dólares em depósitos, o SVB foi forçado a assumir uma perda gigantesca de US$ 1,8 bilhão graças ao aporte de fundos de clientes em títulos lastreados em hipotecas, cujo preço declinou devido aos aumentos das taxas de juros pelo Fed ao longo do ano passado.

Um efeito bola de neve teve início quando os clientes do banco começaram a desconfiar de que algo poderia estar errado em termos de liquidez. Todos tentaram sacar seus fundos do SVB de uma vez, e não houve liquidez suficiente, exigindo que o banco vendesse ativos com prejuízo e tentasse abrir uma rodada de financiamento de emergência que acabou falhando.

Como resultado, o Fed se viu obrigado a intervir para proteger o dinheiro dos depositantes do SVB. Em 12 de março, anunciou o “Bank Term Funding Program” (BTFP).

“Os depositantes terão acesso a todo o seu dinheiro a partir de segunda-feira, 13 de março”, confirmou o Fed em uma declaração conjunta com o Departamento do Tesouro, do Conselho do Fed e da Corporação Federal Asseguradora de Depósitos (FDIC).

“Nenhuma perda associada à resolução do Silicon Valley Bank incorrerá sobre o contribuinte.”

@federalreserve @USTreasury @FDICgov emitem uma declaração sobre as suas ações para proteger a economia dos EUA, fortalecendo a confiança do público em nosso sistema bancário, garantindo que as economias dos depositantes permaneçam seguras:

— Federal Reserve (@federalreserve) 

Como os comentaristas do mercado foram rápidos em apontar, a decisão efetivamente marca um retorno às injeções de liquidez do Fed – também conhecida como flexibilização quantitativa (QE) – enquanto antes, a liquidez estava sendo drenada da economia dos EUA.

Os ativos de risco subiram instantaneamente com as notícias, pois o aumento da liquidez acaba aumentando o apetite dos investidores pelo risco.

As criptomoedas não foram exceção, apesar das autoridades dos EUA anunciarem o fechamento repentino do Signature Bank em um movimento que alguns argumentam ter sido uma tentativa direta de impedir que os mercados de criptomoedas capitalizassem as consequências do fechamento do SVB.

“Também estamos anunciando uma exceção de risco sistêmico semelhante para o Signature Bank Nova York, de Nova York, que foi fechado hoje pela autoridade estadual competente. Todos os depositantes desta instituição serão ressarcidos integralmente. Tal como acontece com a resolução do Silicon Valley Bank, nenhuma perda incorrerá sobre o contribuinte”, lê-se no mesmo comunicado conjunto.

Reagindo à criação do BTFP, o popular comentarista Tedtalksmacro o descreveu como uma forma de “flexibilização quantitativa furtiva.”

“A flexibilização quantitativa não oficial começa nesta segunda-feira. Isso é razão para otimismo”, acrescentou em parte de postagens subsequentes no Twitter.

“TL;DR, o balanço do Fed se expandirá e isso aumentará a liquidez em dólares.”

Como o Cointelegraph relatou, as criptomoedas como um todo são altamente sensíveis ao aumento de liquidez promovido por bancos centrais – e não apenas nos EUA.

Entre os que sublinham tal afirmativa está Arthur Hayes, ex-CEO da bolsa de derivativos BitMEX, que em um postagem em seu blog pessoal no início do ano explicou como a mudança nas condições de liquidez provavelmente afetaria o desempenho do Bitcoin e das altcoins.

Agora, ele está visivelmente otimista.

“Prepare-se para uma recuperação dos ativos de risco. IMPRESSORA DE DINHEIRO VAI BRRR!!!” ele disse aos seus seguidores no Twitter sobre o BTFP em uma de suas várias postagens em 12 de março.

Especulações sobre o "pivot" da taxa de juros do Fed se avolumam

Com a liquidez voltando ao mercado, não eram apenas as criptomoedas que estavam se perguntando sobre o destino da política de aperto quantitativo (QT) do Fed em vigor nos últimos 18 meses.

Houve especulações desenfreadas sobre a decisão deste mês sobre o ajuste na taxas de juros dos EUA, com apostas de que o Fed pode deixar a taxa atual inalterada ou até mesmo promover uma redução.

Anteriormente, as apostas em relação à taxa de referência a ser anunciada na reunião de 22 de março do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) oscilavam entre um aumento de 0,25% e 0,5%.

“À luz do estresse no sistema bancário, não esperamos mais que o FOMC proponha um aumento de juros em sua próxima reunião em 22 de março”, escreveu Jan Hatzius, economista do Goldman Sachs, em uma nota divulgada em 12 de março citada pela CNBC e outros veículos de mídia.

David Ingles, editor-chefe de mercados da Bloomberg TV, interpretou os comentários como se o Goldman considerasse a impressão do CPI de fevereiro um “não evento”.

O colaborador do Cointelegraph, Michaël van de Poppe, fundador e CEO da empresa de trading Eight, olhou mais de perto a situação, observando que a próxima semana produziria outro catalisador de preços sob a forma dos dados sobre a inflação dos EUA com a divulgação do Índice de Preços ao Consumidor (CPI) de fevereiro.

“'QE' e 'Socorro' para os bancos, o que significa alívio temporário + potencial bom CPI e não teremos mais aumentos de taxas de juros (ou apenas 25bps)", escreveu ele em parte dos seus comentários no Twitter em 13 de março.

“Os mercados agora esperam que o CPI dê a luz verde”, continuou a popular conta de negociação e análise Daan Crypto Trades.

“Se o CPI vier quente, veremos algum caos, pois basicamente teríamos um CPI crescente + Fed flexibilizador. Se o CPI ficar abaixo das estimativas, não vejo razão para o mercado se conter.”

Mais cauteloso foi Alasdair Macleod, que à luz da decisão do BTFP alertou contra assumir que o Fed havia abandonado o aperto monetário para sempre.

“A reação inicial do mercado à crise bancária é baseada na percepção do pivô do Fed. Mas isso pode ser um erro”, escreveu.

“Independentemente da política monetária do Fed, a contratação de crédito bancário força o preço dos empréstimos, se você conseguir um. Monitore os mercados monetários!”

De acordo com a FedWatch Tool do CME Group, as expectativas gerais ainda favorecem uma nova alta das taxas de juros, em vez de uma taxa de referência estagnada em 22 de março. No entanto, um aumento de 0,5%, parece estar fora de questão.

Gráfico de probabilidades de taxa-alvo do Fed. Fonte: CME Group

Preço do BTC salta para US$ 22,7 mil em retorno empolgante

Com isso, o Bitcoin estava claramente otimista durante o pregão da Ásia em 13 de março.

Antes da abertura de Wall Street, o par BTC/USD era negociado a cerca de US$ 22.365 no momento da redação deste artigo, depois de atingir máximas locais de US$ 22.775 na Bitstamp, de acordo com dados do Cointelegraph Markets Pro e da TradingView.

A maior parte da recuperação das mínimas de menos de US$ 20.000 em 10 de março veio após o anúncio da injeção de liquidez do Fed, apagando totalmente qualquer traço da implosão do SVB.

Gráfico de 1 hora BTC/USD (Bitstamp). Fonte: TradingView

“Bitcoin se recuperou do maior colapso bancário dos EUA desde 2008... em apenas 3 dias”, resumiu o popular comentarista Bitcoin Archive.

Entre os traders, os alvos permaneceram variados, pois a volatilidade ainda moveu o par BTC/USD para cima e para baixo antes da abertura do mercado de ações nos EUA.

Van de Poppe argumentou que US$ 21.300 devem ser mantidos em benefício de posições compradas, mas vislumbrou o preço do BTC potencialmente chegando a US$ 23.700.

“A liquidez de 22,7 mil parece pronta para ser tomada”, continuou o trader Crypto Chase.

“Para qualquer compra local, stops abaixo de 21K devem ser programados na minha opinião. Lá embaixo não faria muito sentido para mim se o preço continuasse rasgando."

Enquanto isso, o trader em tempo integral Jackis observou que a baixa da semana passada correspondeu exatamente ao nível de retração de Fibonacci de 0,618 das máximas de 2023 acima de US$ 25.000.

“Não é surpresa que estejamos obtendo um grande suporte mensal”, acrescentou Credible Crypto sobre o comportamento atual dos preços em prazos de 4 horas.

O fechamento semanal do Bitcoin, portanto, ficou muito acima do esperado, em mais de US$ 22.000. Para o trader e analista Rekt Capital, isso “provavelmente” pagou o padrão de topo duplo de baixa que se desenrolava anteriormente em prazos semanais.

“O fechamento semanal acima de US$ 21.770 provavelmente invalida o topo duplo”, dizia parte de uma postagem em 12 de março.

Uma análise mais aprofundada, no entanto, deu abril como o ponto mais próximo em que o Bitcoin poderia começar a efetuar uma mudança de tendência de longo prazo.

“Grande reação do BTC de ~ $ 20.000, a faixa baixa desta faixa macro”, escreveu Rekt Capital.

“Enquanto ~ $ 20.000 se mantiverem, o $BTC tem uma chance de desafiar a macro tendência de baixa nas próximas semanas mais uma vez, no mínimo em abril.”
Gráfico anotado BTC/USD. Fonte: Rekt Capital/ Twitter

USDC se aproxima de recuperação da paridade com o dólar

No que poderia fazer os investidores respirarem aliviados esta semana, uma das primeiras vítimas cripto da implosão do SVB voltou à ativa em 13 de março.

O USD Coin (USDC), a segunda maior stablecoin por capitalização de mercado, praticamente recuperou sua paridade com o dólar no momento da redação deste artigo.

Tendo caído 20% anteriormente, o USDC era negociado a US$ 0,99 na Bitstamp, já que as garantias da Circle ajudaram a amenizar o pânico que inicialmente tomou conta do mercado.

Gráfico de 1 hora USDC/USD (Bitstamp). Fonte: TradingView

Em uma thread no Twitter publicada em 12 de março, o CEO da Circle, Jeremy Allaire, confirmou que o BNY Mellon e um novo parceiro bancário não identificado assumiriam o lugar q o Signaueture e o SVB, que engoliram mais de US$ 3 bilhões de suas reservas, ocupavam.

“Confiança, segurança e capacidade de resgate 1:1 de todos os USDC em circulação são de suma importância para a Circle, mesmo diante do contágio bancário que afeta os mercados de criptomoedas”, acrescentou ele em um comunicado à imprensa, elogiando as ações do Fed e dos congressistas dos EUA.

Enquanto isso, a maior exchange dos EUA, a Coinbase, confirmou que as conversões do USDC seriam retomadas em 13 de março.

“Apesar da turbulência que vimos recentemente no setor bancário tradicional, a Coinbase continua operando normalmente. Na Coinbase, todos os fundos dos clientes continuam seguros e acessíveis, incluindo as conversões de USDC que serão retomadas na segunda-feira”, declarou a empresa.

Outras grandes stablecoins que também foram impactadas pela perda da paridade do USDC tentaram recuperar suas perdas em relação ao dólar, com o Dai (DAI) em US$ 0,989 e USDD (USDD) em US$ 0,986, respectivamente.

Dados os últimos desdobramentos relativos aos bancos e às stablecoins, a #Binance converterá o restante dos fundos de sua Iniciativa de Recuperação da Indústria de US$ 1 bilhão de BUSD para ativos criptonativos, incluindo #BTC, #BNB e ETH. Alguns movimentos de fundos ocorrerão on-chain. Transparência.

— CZ Binance (@cz_binance)

Changpeng Zhao, CEO da maior exchange global de criptomoedas, a Binance, anunciou a conversão de parte de sua própria  stablecoin nativa, o Binance USD (BUSD) para Bitcoin, Ether (ETH) e Binance Coin (BNB) como parte de sua “Iniciativa de Recuperação da Indústria.”

“Com quase US$ 1 bilhão inexplorado, isso significa que o mercado terá uma pressão de compra extrema em breve”, dizia parte de um comentário do pesquisador de dados on-chain The Data Nerd.

Sentimento do mercado se recupera com o aumento do risco de "short squeeze"

Em um reflexo do quanto o sentimento do mercado cripto permanece extremamente sensível a eventos macro, o Índice de Medo e Ganância de Criptomoedas voltou ao “medo” pela primeira vez em dois meses em 10 de março.

Os últimos eventos tiveram uma reviravolta dramática, com a pontuação do Índice passando de 33/100 para 49/100 — classificado como “neutro” — em um único dia.

Índice de Medo e Ganânca de Criptomoedas. Fonte: Alternative.me

Nas bolsas de derivativos, no entanto, a baixa permanece. No fim de semana, as taxas de financiamento atingiram o nível mais baixo desde a implosão da FTX em novembro de 2022, mostraram dados da empresa de análise on-chain Glassnode.

“Os comprados estão sendo pagos para serem comprados”, resumiu Tedtalksmacro.

Gráfico de taxas de financiamento de futuros de Bitcoin. Fonte: Glassnode

Taxas de financiamento excessivamente negativas têm a capacidade de desencadear um "short squeeze" – um evento em que posições vendidas são liquidadas em massa em um efeito em cascata, uma vez que a maioria das entidades do mercado espera que o preço continue caindo.

Gráfico de liquidações de criptomoedas. Fonte: Coinglass

As liquidações de posições vendidas entre criptomoedas já totalizaram mais de US$ 150 milhões apenas em 12 de março, de acordo com dados da Coinglass, com a contagem de 13 de março em US$ 39 milhões.

As visões, pensamentos e opiniões expressas aqui são exclusivas dos autores e não necessariamente refletem ou representam as visões e opiniões do Cointelegraph.

LEIA MAIS