A União Europeia sancionou indivíduos ligados a uma operação que utilizava ativos digitais para burlar sanções e financiar campanhas de desinformação pró-Rússia.

Em uma decisão anunciada nesta terça-feira no âmbito da Política Externa e de Segurança Comum da UE, foram impostas sanções a nove indivíduos e seis entidades. Entre eles está o influenciador ligado ao Kremlin Simeon Boikov, conhecido como AussieCossack, por disseminar desinformação pró-Rússia.

Boikov teria sido também responsável por divulgar um vídeo fabricado alegando fraude eleitoral na Geórgia durante a eleição dos Estados Unidos em 2024. Segundo um relatório da TRM Labs publicado nesta terça-feira, ele arrecadou doações por meio de diversos canais, aceitando dinheiro em espécie e criptomoedas.

A TRM Labs relata que Boikov interagiu com exchanges russas de alto risco que não exigem verificações de identidade (KYC) e recebeu fundos por meio de serviços de conversão de dinheiro em criptoativos e mercados da darknet.

Gráfico da TRM mostrando fluxos diretos e indiretos para a carteira de doações de Boikov. Fonte: TRM Labs

Negócio de stablecoin russo é alvo de sanções

As sanções também atingiram a A7 OOO, uma empresa supostamente responsável por tentativas de influenciar as eleições presidenciais da Moldávia de 2024 e o referendo sobre adesão à UE por meio da compra de votos. A empresa foi fundada por Ilan Shor, oligarca moldavo foragido, que teria usado a organização para transferir US$ 1 bilhão de três bancos do país.

O Reino Unido já havia sancionado a A7 OOO em maio por envolvimento na manipulação eleitoral na Moldávia. O projeto está ligado à A7A5, uma stablecoin lastreada no rublo, que teria se tornado o principal meio de transações na Grinex, uma exchange de criptomoedas amplamente vista como sucessora da Garantex, plataforma russa sancionada.

O papel das criptomoedas no conflito geopolítico

A TRM Labs explica que a A7 foi criada inicialmente para facilitar o comércio transfronteiriço após a invasão da Ucrânia pela Rússia. A empresa sugere que a Grinex e a A7A5 provavelmente estão “ligadas à importação de bens de uso dual da China para a Rússia por meio da Ásia Central”.

Bens de uso dual são itens como tecnologias, materiais ou equipamentos que podem ter usos civis e militares. Devido ao seu potencial uso em armamentos ou sistemas de vigilância, sua exportação costuma ser rigidamente controlada.

Esses itens podem variar desde processadores que alimentam computadores civis ou guiam mísseis até materiais como o algodão, que pode ser usado tanto em roupas quanto como componente de pólvora. A TRM Labs comentou sobre a decisão da UE:

“Ao atingir tanto os indivíduos quanto a infraestrutura que viabiliza essas táticas, a UE sinaliza uma mudança estratégica mais ampla, voltada a interromper todo o ciclo das operações de influência, desde os fluxos de financiamento até a disseminação das narrativas.”