Quem não quer dinheiro de graça? A ganância dos usuários de protocolos DeFi da rede Ethereum pode estar inflando artificialmente o número de pessoas que realmente interage com o ecossistema de finanças descentralizadas, sugeriu uma reportagem do site Decrypt.
Em busca de maximização de lucros e benfícios no momento em que protocolos novos lançam seus tokens nativos e os distribuem a todos os endereços que em algum momento anterior interagiram com eles, é cada vez mais comum que usuários do Ethereum criem múltiplas carteiras para tornarem-se aptos a recebê-los em maiores quantidades. Parte do crescente volume de ativos bloqueados em DeFi pode ser explicada pelo fenômeno dos airdrops.
A distribuição do token nativo da Uniswap (UNI) em setembro do ano passao já se tornou uma lenda do mercado de criptomoedas. Qualquer usuário que tivesse interagido com o protocolo antes de 1º de setembro estaria recebê-lo. Isso incluía os provedores de liquidez da exchange, os traders e os compradores de SOCKS NFT - tokens não fungíveis que reprsentavam a posse de meias físicas da marca Uniswap.
A todos os endereços elegíveis bastaria conectar sua carteira da rede Ethereum à Uniswap para recber 400 UNI. Pela cotação da época, os tokens distribuídos gratuitamente equivaliam a cerca de US$ 1.200. Aqueles que se tornaram hodlers da UNI e não os venderam, hoje acumulam mais mais de US$ 10.600.
Um detalhe importante do evento: usuários que interagiram com a Uniswap através de mais de um endereço receberam mais UNIs, na proporção direta de 400 tokens por endereço. Desde então, tornou-se comum o recurso de usar várias carteiras para interagir com um mesmo protocolo tendo em vista benefícios futuros.
Para os "DeFi degens" - ou "degenerados do DeFi" em tradução livre, termo utilizado para qualificar usuários dedicados dos protocolos de finanças descentralizadas - tornou-se um hábito utilizar endereços diferentes para interagir com protocolos que ainda não haviam lançado seu token nativo.
Em vez de especular sobre o preço de um token, agora especula-se sobre possíveis airdrops. Assim, não é verdadeiramente preciso calcular o total de usuários DeFi em função do número de carteiras com endereços ativos, pois muitos usuários têm mais do que uma carteira.
Antes disso, as única utilidades de utilizar mais de uma carteira era aumentar a privacidade e a segurança distribuindo os ativos em múltiplos endereços ou como uma forma de organizar melhor as operações, determinando carteiras específicas para diferentes tipos de interação. Pelo lado dos protocolos, o hábito também trouxe benefícios, uma vez que se torna maior o número de endereços a interagir com o aplicativo.
Máxima ganância
A mais nova lenda dos airdrops DeFi revelou-se bastante constrangedora para os seus principais agentes. No caso, um fundo de capital de risco foi desmascarado ao criar inúmeras carteiras para interagir com um protocolo ainda sem token lançado no qual havia investido.
Isso tudo porque a Divergence Ventures estava antecipando o lançamento do token nativo da Ribbon, um protocolo que permite a criação de produtos estruturados arbitrariamente por meio da combinação de vários instrumentos de deritativos DeFi.
Em um tópico de autodefesa publicado no Twitter, os representantes do fundo negaram ter informações privilegiadas sobre o lançamento do token. "Simplesmente imaginamos que haveria um airdrop", diz uma passagem do texto postado.
Mais tarde, a Divergence Ventures publicou uma nota adicional para explicar o modus operandi de sua estratégia de investimento:
“Primeiro, fazemos farm de TUDO partindo do pressuposto de que todo projeto fará um airdrop [retroativo]. Porque praticamente todo mundo faz... É um segredo aberto.”
Ficam duas lições: a primeira é que não há mal nenhum em criar diversas carteiras para interagir com protocolos DeFi na esperança de ser recompensado com seus tokens nativos quando - e se - eles forem lançados. É uma prática do mercado e não há razão para se envergonhar disso. Porém, alguns desenvolvedores estão criando novas estratégias para beneficiar os usuários de forma mais igualitária e equitativa, distribuindo os novos tokens proporcionalmente ao volume movimentado pelos usuários em suas interações com o protocolo, por exemplo.
A segunda é que os números sempre crescentes dos usuários de DeFi devem ser encarados como uma meia verdade. Se por um lado, é impossível negá-los ao ver a quantidade de endereços aumentando a cada dia, por outro é importante entender que esses números não são absolutos. Um novo endereço não necessariamente corresponde a um novo usuário.
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