A gigante de cosméticos brasileira Natura se viu envolvida em uma grande polêmica na última terça-feira. Um influenciador digital usou as redes sociais para acusar a empresa de favorecer a startup de delivery de cosméticos Singu, que teria ligação com as exchanges de Bitcoin brasileiras Foxbit e Bitcoin Trade.

A polêmica começou quando o influenciador digital Raiam Santos disse que a operação de compra de Singu pela Natura, em agosto deste ano, teria sido o resgate de uma empresa com dificuldades financeiras.

Um dos maiores acionistas da Natura, Guilherme Peirão Leal, que tem 25% das ações da empresa, seria padrasto de um dos donos da Singu, Matheus Farah. A Natura não divulgou os valores envolvidos na aquisião, que prevê a possibilidade de aportes nos próximos 4 anos e a opção da compra total da startup.

Raiam Santos publicou documentos internos da Singu, um deles constando as contadas auditadas da empresa e da operação de compra pela Natura. Segundo ele, os fatos não confirmam que a startup faturava "dezenas de milhões de reais mensais", como informado no anúncio de ambas as empresas, pelo contrário:

“E através desses documentos auditados que descobri que o Sr. Matheus Farah, enteado do Sr. Guilherme Peirão Leal, dono Natura, tinha colocado cerca de R$ 646 mil do próprio capital na Singu, se tornando sócio. E Matheus, que nas redes sociais se apresenta como Matheus Farah Leal, tomando emprestado o sobrenome do dono da Natura, é um dos melhores amigos de Tallis Gomes“

Tallis Gomes, outro dono da Singu, é o fundador da startup Easy Taxi, enquanto Guilherme Peirão Leal é copresidente do conselho administrativo da Natura. Em 2010, foi candidato à vice-presidência da República pelo Partido Verde na chapa de Marina Silva.

Segundo documentos obtidos pelo Cointelegraph Brasil, a Singu também consta no documento junto à Junta Comercial do Estado de São Paulo, na seção de Passivo Não Circulante, dentro de Empréstimos e Financiamentos com mais de R$ 2 milhões para as exchanges brasileiras de criptomoedas Foxbit e Bitcoin Trade.

Ao Cointelegraph, a Foxbit disse através de sua assessoria que "não é e nem nunca foi investidora da Singu" e a Bitcoin Trade negou qualquer relação com a startup:

"Em relação às informações recém-divulgadas no balanço da Singu - empresa ligada à Natura, e publicada em alguns veículos de comunicação, a BitcoinTrade, corretora brasileira especializada no mercado de criptomoedas, esclarece que não é investidora da Singu e jamais fez empréstimo a esta companhia ou a qualquer outra."

Ao SUNO Notícias, Raiam Santos diz que a compra, que teria sido de R$ 65 milhões segundo a Junta Comercial do Estado de São Paulo, teria supervalorizado uma empresa que, na melhor das hipóteses, apresentava faturamento de R$ 50.000 por mês.

“A Singu nunca deu lucro, e o melhor mês deles registrou um faturamento de cerca de R$ 50 mil. E aí veio o conflito. A Natura comprou a Singu a uma valuation de R$ 65 milhões. E como pode valer R$ 65 milhões uma empresa que nunca deu um centavo de lucro e cujo melhor mês foi R$ 50 mil?", questionou ele. E completou:

"A venda para a Natura que foi celebrada pomposamente havia sido apenas um resgate, pois a empresa estava sem caixa e iria falir. E se a empresa quebrasse iria sujar a imagem do Tallis Gomes que é um especialista em gestão e vende cursos de gestão. Como o cara quer vender cursos de gestão se vai sair à tona que a empresa dele faliu?”

O professor de derivativos da B3 e do IBMEC-SP, Alexandre Cabral, disse que a avaliação da startup pela Natura para compra é "um pouco exagerada", e explica:

“Quando falamos em valuation estamos discutindo de 20-30 vezes o Ebitda. Mas aqui não é nem isso, é receita bruta. É o topo do DRE. Pagar R$ 65 milhões para uma empresa que fatura R$ 55 mil é um pouco alto. Eu espero sim que a Natura possa esclarecer. Vão surgir outras operações que não sabemos? Não custa à Natura explicar para o público o que ocorreu”.

A polêmica fez com que as ações da Natura na Bolsa de Valores de São Paulo (B3) despencassem na terça-feira, perdendo 3,51% de valor, negociada a R$ 48,64. A empresa ainda não se manifestou sobre o caso.

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