Ao longo de 2021, durante o ciclo de alta do mercado de criptomoedas, tornou-se comum ver celebridades do mundo do entretenimento e dos esportes estrelando comerciais de empresas da indústria, ou mesmo divulgando coleções de NFTs ou aplicativos cripto em suas redes sociais.
Mais do que apenas emprestarem as suas imagens para divulgar as criptomoedas, as celebridades utilizaram seu poder de atração e influência para apresentar os ativos digitais como um instrumento de emancipação financeira, mais inclusivas do que o mundo das finanças tradicionais – e, especialmente, que esse mercado oferecia oportunidades para ganhar muito dinheiro.
Até pouco tempo, a narrativa mantinha-se válida, apesar da baixa do mercado iniciada no final de 2021, que acabou se aprofundando ao longo de 2022. Em 13 de fevereiro, a final da Liga Profissional de Futebol Americano dos EUA, o Super Bowl, foi apelidada de Crypto Bowl devido a presença ostensiva das criptomoedas nos intervalos comerciais mais caros da televisão norte-americana. Para se ter uma ideia, a veiculação de uma peça publicitária de 30 segundos em espaços comerciais do mais tradicional evento esportivo dos EUA chega a custar US$ 7 milhões.
O investimento mostrou-se rentável para exchanges de criptomoedas como a Coinbase, a FTX e Crypto.com, que registraram aumentos de até quase 300% dos downloads de seus aplicativos móveis na semana seguinte ao evento. O site da Coinbase chegou a sair do ar durante a transmissão devido a um aumento significativo do tráfego.
O comercial da FTX foi protagonizado pelo comediante Larry David, o da Crypto.com contou com a presença do astro do basquete LeBron James.
Outras personalidades que associaram suas imagens à indústria das criptomoedas foram os atores hollywoodianos Matt Damon, Reese Whiterspoon, Gwyneth Paltrow.
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O casal formado pela lenda do futebol americano Tom Brady e a super modelo brasileira Gisele Bündchen foi além. A dupla não apenas estrelou um comercial da exchange FTX como ambos tornararam-se sócios da empresa de Sam Bankman-Fried, o mais jovem bilionário da indústria cripto.
Em maior ou menor grau, todos eles vêm enfrentando críticas por terem incentivado seus fãs a investir em criptomoedas sem emitirem qualquer tipo de alerta sobre os riscos inerentes a esse mercado, conforme destacou reportagem do The New York Times publicada na semana passada.
Giovanni Compiani, pesquisador de marketing da Universidade de Chicago, ressaltou à reportagem que jovens e investidores de baixa renda tendem a ser mais suscetíveis às promessas de lucros vantajosos das criptomoedas e deveriam ser alertados que nesse mercado os riscos tendem a ser proporcionais aos possíveis ganhos:
“É dinheiro real que as pessoas estão investindo. Aqueles que o promovem devem ser mais diretos sobre as possíveis desvantagens ”.
Beth Egan, professora associada de publicidade da Universidade de Syracuse, declarou à reportagem que para as celebridades a vinculação de suas imagens a empresas do setor trata-se de uma proposta comercial como outras quaisquer. No entanto, ponderou que a reputação das celebridades que se associaram diretamente aos criptoativos pode vir a sofrer danos, dependendo do que o futuro reserva ao mercado:
"Isso é o que eles fazem – eles são celebridades, eles receberam dinheiro para promover algo que promete. Se eu fosse o Matt Damon ou a Reese Witherspoon, eu questionaria minha disposição para assumir esse tipo de responsabilidade."
Como sócia e embaixadora da FTX para causas sociais, Gisele Bündchen participou da conferência Crypto Bahamas, realizada em abril, com patrocínio e organização da exchange. Na ocasião foi divulgada a primeira peça publicitária impressa da FTX estrelada por Bündchen.
O anúncio que foi veiculada em revistas tradicionais como Vogue, Vanity Fair e The New Yorker mostra a modelo brasileira ao lado de Sam Bankman-Fried e destacam o comprometimento da FTX com iniciativas de impacto social e ambiental.
Ao lado da imagem de Bündchen, um texto em primeira pessoa afirma:
"Eu estou dentro da FTX porque nós compartilhamos a paixão comum de criar uma mudança positiva."
A brasileira é uma das poucas celebridades que segue emprestando sua imagem ao mercado, defendendo o poder transformador das criptomoedas em um momento de perdas enormes para os investidores e para a indústria como um todo.
Conforme noticiou o Cointelegraph Brasil recentemente, o mercado de criptomoedas perdeu aproximadamente US$ 1,9 trilhão em capitalização de mercado em relação ao topo histórico acima de US$ 3 trilhões alcançado em novembro do ano passado.
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