Depois de lançar um token próprio, o ReitzBz, de lançar fundos de investimento em criptoativos, de listar ETFs de criptomoeda e de lançar uma exchange própria de Bitcoin, o Banco BTG Pactual, o maior banco de investimento da América Latina, está estudando como montar uma fazenda de mineração de Bitcoin.

Segundo informações exclusivas compartilhadas com o Cointelegraph, no início deste ano o BTG negociava a compra de cerca de 1500 máquinas da Bitmain, em sua maioria equipamentos ASIC Antminer S19 PRO. As máquinas seriam usadas para o BTG montar uma fazenda própria de mineração de Bitcoin.

Para montar a fazenda, o banco estudava iniciar uma operação no Texas (EUA), Hernandarias (Paraguai) ou na região norte/nordeste do Brasil com o uso de energia eólica ou solar. No entanto, após o crash do mercado e a queda no rendimento dos mineradores o banco adiou a compra dos equipamentos que provinham de um minerador chinês.

No entanto, o banco não desistiu do mercado de mineração. De acordo com Andre Portilho, head de Digital Assets do BTG Pactual, o banco tem hoje pequenos 'drives' no mercado de mineração. 

"Estamos olhando todo o mercado cripto. Sobre mineração temos pequenos drives já em operação. Há muita coisa por vir na Mynt e em nosso produtos relacionados a criptomoedas", revelou ao Cointelegraph durante o lançamento da Mynt a exchange de criptoativos do grupo.

Ainda sobre o tema mineração, Portilho afirmou que o halving não deve ser visto como um gatilho que deve elevar o preço do BTC daqui para frente. Segundo ele, o evento foi importante no passado, porém agora há um contexto totalmente diferente que torna o halving um mito que não tem o poder de elevar o preço do Bitcoin como acreditam alguns entusiastas.

Portilho revelou que comprou seu primeiro Bitcoin em 2017, ano em que marcou sua entrada no mundo cripto e também a entrada do BTG. Desde então sua exposição e a do próprio banco a este mercado aumentou assim como a demanda dos clientes, o que levou o Banco ao lançamento da Mynt.

Andre Portilho, head de Digital Assets do BTG Pactual, durante o lançameto ofcial da Mynt em São Paulo

Não acredite em vendedores de sonhos

O executivo revelou que, ao contrário do Nubank, Mercado Pago e PicPay que vendem Bitcoin e criptomoedas por meio de uma solução externa, no caso a Paxful, o BTG construiu uma plataforma própria. Inicialmente a exchange do BTG terá negociação de Bitcoin, Ethereum, Polkadot, Cardano e Solana permitindo apenas ordens de mercado e compra e venda.

No entanto, nos planos do BTG até o final do ano estão a liberação de saque e depósito cripto, além da criação de ordens de limite, stop order e até mercados futuros. A previsão também é adotar taxas diferentes para os clientes de acordo com o volume de negociação.

O executivo também revelou que a empresa fará um KYT (Conheça sua transação) para identificar de onde vem as criptomoedas que a plataforma irá receber além da adoção de outros procedimentos de KYC e compliance.

"Queremos ajudar a construir o futuro. A Mynt será integrada com outros aplicativos do banco e outros produtos do BTG. Também teremos uma stabelcoin em breve. Já temos um extenso roadmap de novas moedas, novas funcionalidades e novos desenvolvimentos que vão entrar na plataforma. Porém temos que ser dinâmicos para acompanhar o mercado e atender a demanda de nossos clientes. Se eles demandarem por exemplo uma integração com o MetaMask, iremos estudar como fazer isso. O cliente é nosso foco principal", revelou.

Portilho também destacou que há um mito relacionado a volatilidade do Bitcoin e que o mercado de ações é tão ou mais volátil que o BTC e que a volatilidade de um ativo não é um demônio e sim um fato com o qual os investidores devem saber lidar

"Todo investimento de renda variável é volátil. O investidor tem que saber usar a volatilidade a seu favor, de acordo com o seu portfólio, expectativa e alocação", destacou.

Por isso o executivo defende que o BTG assim como outros players do mercado incentivem o processo de educação financeira e educação em criptoativos. Ele aponta que o BC e a CVM têm feito muitos esforços em incentivar a educação financeira e que as empresas também devem fazer a sua parte para que as pessoas não acreditem em 'vendedores de sonhos'.

Interesse em cripto continua alto

Questionado sobre o interesse dos investidores em criptoativos, Portilho, destacou que esse interesse continua alto mesmo com o Bear Market e que o cenário atual é diferente do de 2018 quando a queda eliminou muitos investidores de varejo.

Agora, segundo ele, os pequenos investidores vem segurando suas moedas acreditando em uma recuperação no valor e grandes isnvestidores que não tinham exposição ao mercado estão procurando entender se "agora é a hora de entrar nesse mercado". Neste sentido, o executivo defende que todo mundo precisa ter uma alocação em criptomoedas.

"Todos devem ter uma alocação em cripto. Agora quanto cada um deve alocar depende de vários fatores, sendo o principal deles o perfil de cada um e o 'estômago' que é uma expressão que usamos no mercado para definir o quanto cada um tem coração e coragem para suportar um cenário de queda", afirmou.

O head do BTG também destacou que o banco está olhando todo o mercado de criptoativos e, com isso, pode lançar iniciativas envolvendo NFTs em breve, assim como outros tokens ligados a ativos físicos como o Reitz

"O Reitz nos deu uma grande experiência sobre o mercado. Acreditamos que ainda precisamos de uma regulamentação sobre o tema, que vem andando muito bem na CVM com o sandbox, o BC e o PL que está na Câmara. Também olhamos o mercado de NFTs. Hoje a melhor pergunta não é que estamos olhando neste mercado, mas o que nós não estamos olhando", revelou Portilho.

Bancos não concorrem com exchanges

Portilho afirmou que atualmente o mercado está em um período de convergência que é quando as criptomoedas saíram de um nicho de mercado e provaram seu valor para a sociedade.

Ele também afirma que o melhor termo para o mercado não é "criptomoedas" mas "criptoativos" pois isso permite um entendimento mais claro de que elas não são apenas 'moedas digitais' mas uma nova classe de ativos digitais ligadas a era da internet de valor, no qual dados, ativos físicos e tantas outras coisas podem ser tokenizadas dentro de uma economia digital.

Inclusive uma das áreas, envolvendo criptomoedas, que o banco tem desenvolvido com 'menos' força é o de pagamentos com criptomoedas, pois segundo o executivo, a demanda por pagamentos simples com cripto, do tipo comprar um café pagando com Bitcoin, não é uma demanda do brasileiro que já usa outras formas de dinheiro digital com muito mais efetividade.

No entanto o executivo defende que os pagamentos via contratos inteligentes são uma tendência que deve moldar a economia digital para os próximos anos e concorda com a visão do Banco Central do Brasil sobre o dinheiro programável e como a convergência entre criptoativos e sistema financeiro será remodelada com os smart contracts e DeFi.

"Não acho que a integração de DeFi com a economia tradicional não vai acontecer tão rápido, mas a visão que o RCN deu é a nossa visão. Como isso vai acontecer é muito difícil dizer. Porém não é mais uma questão de 'se' mas agora de 'quando'", disse.

The Flippening: Ethereum substituir o Bitcoin pouco importa

Durante o lançamento da Mynt, Portilho ainda destacou que o Ethereum pode eventualmente substituir o Bitcoin já que a economia caminha para uma integração maior com plataformas de contratos inteligentes, porém, isso pouco importa já que é só uma questão de valor e posição em market cap, porém com relação à sociedade e a transformação da economia o "The Flippening" não tem importância nenhuma.

No entanto, o executivo ressaltou a importância do The Merge, a atualização que irá mudar o consenso do Ethereum de PoW para PoS. Segundo ele, se for bem sucedido o Merge pode mudar muita coisa no mercado e impactar as plataformas de Layer 2.

"O The Merge pode ser transformador para o mercado. Porém é difícil  prever como isso irá impactar as plataformas de Layer 2. O próprio vitalik ta considerando as layer 2. muito difícil prever como o processo vai acontecer, mas eu vejo um mundo conectado entre diversas plataformas, mas onde a base é um pouco mais centralizada", destacou.

Sobre centralização, o executivo também afirmou não acreditar que os bancos podem centralizar o mercado de criptomoeda e, eventualmente, superar as exchanges de criptoativos. Há espaço para todo mundo, segundo ele.

"É um processo natural os bancos entrarem em cripto. O mercado que vai dizer quem tá oferecendo o melhor produto e experiência. Temos tipos diferentes de plataformas, tipos diferentes de criptomoedas, tipos diferentes de perfis, ou seja, tem mercado para todo mundo no final das contas. Hoje a experiência de cripto não vai atingir o que Satoshi queria. O papel do mercado é aproveitar essa tecnologia e construir aplicações e funcionalidades que vão convergir em soluções para que o cliente comum e o 'especializado', possam usar com a mesma segurança", finalizou.

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