Gabriel Shipton, irmão mais novo do fundador do Wikileaks, Julian Assange, que atualmente está preso em Londres, cobrou mais apoio da comunidade Bitcoin na campanha pela liberdade do ativista, e alertou: "O Bitcoin pode ser o próximo".

Shipton escreveu um longo artigo no portal Bitcoin Magazine, dizendo que a acusação de espionagem contra Assange não é apenas um ataque contra a Primeira Emenda dos Estados Unidos, que trata das liberdades individuais, como também é uma cruzada contra a internet livre e, em última análise, contra o Bitcoin.

Ele contou que visitou Assange na prisão em agosto de 2020 e encontrou o irmão mais abatido do que o comum:

"Fui ver Julian na Prisão HM Belmarsh e percebi que algo havia mudado. Depois de anos do que os representantes das Nações Unidas classificaram formalmente como tortura psicológica, o efeito sobre ele foi mais visível do que nunca. Percebi que agora era minha vez de ajudar meu irmão. Falamos sobre coisas como a resposta ao COVID-19, quando nosso pai iria desacelerar, além das distrações e consequências do QAnon. No entanto, um dos tópicos favoritos dele era Bitcoin e criptomoedas."

Shipton dá mais detalhes sobre a conversa com Assange sobre o criptomercado:

"WikiLeaks e Bitcoin nasceram do movimento cypherpunk. E foi naqueles dias embrionários da lista de mala direta dos Cypherpunks que Julian começou seu longo interesse intelectual e curiosidade pelo Bitcoin. Julian participou de discussões e debates que cimentaram os valores dos movimentos cypherpunk em torno da liberdade, privacidade, domínio da tecnologia e curiosidade codificada. A maioria dos suspeitos criadores e primeiros apoiadores do Bitcoin pertenciam ou foram inspirados por essa comunidade de pensadores."

Ele conta que em 2010, depois da publicação do material do Wikileaks sobre as guerras no Iraque e no Afeganistão nas gestões Bush e Obama, a organização foi alvo de um bloqueio financeiro internacional, com Visa e Mastercard recusando-se a processar doações e perseguição de bancos e do PayPal às contas de Assange.

Foi então que apareceu ninguém menos que Satoshi Nakamoto na vida do fundador do Wikileaks, que pediu que os fundadores do Wikileaks não adotassem Bitcoin para as doações, com medo que as autoridades também perseguissem a primeira criptomoeda, que tinha apenas um ano de existência:

"Foi nessas circunstâncias que Satoshi (seja ele quem for) fez um apelo ao WikiLeaks para que não aceitasse essa moeda digital nascente para doações e, assim, renunciasse à atenção que ela poderia atrair. Satoshi temia que o Bitcoin não sobrevivesse se o protocolo enfrentasse o mesmo escrutínio e pressão política com que o WikiLeaks estava lidando. Julian e WikiLeaks atenderam aos pedidos de Satoshi."

Depois de seis meses de suspensão nas doações em BTC, a relação entre Wikileaks e Bitcoin se estreitou nos anos seguintes e a organização foi a primeira da história a aceitar Bitcoin como forma de doação, em junho de 2011. Nos 10 anos seguintes, a maior criptomoeda ajudou o Wikileaks a driblar bloqueios econômicos de governos e grandes empresas, mantendo o portal à prova de censura e expandindo suas publicações ao longo dos anos.

O irmão de Assange também lembra que Bitcoin e WikiLeaks são inerentemente anti-establishment e que por isso sempre sofreram ataques de autoridades e instituições:

"Uma década de ataques individuais à reputação, tramas para envenenar Julian e atingir seu bebê recém-nascido, abuso de poder para tentar de restringir seus movimentos e limitar sua expressão. Em abril de 2019, meu irmão foi preso sob acusações da Lei de Espionagem dos EUA de 1917. Apesar de ter cumprido a pena máxima de 50 semanas (...) Julian agora está preso na prisão de Belmarsh nos arredores de Londres por dois anos, separado de seu noivo e dois filhos pequenos durante uma pandemia global."

A Justiça do Reino Unido desde então rejeitou o pedido de extradição de Assange, "concluindo que extraditá-lo equivaleria a prescrever a pena de morte", mas a fiança foi igualmente recusada e o fundador do Wikileaks aguarda uma audiência de apelação no Tribunal Superior do Reino Unido. Gabriel Shipton faz um alerta sobre a perseguição dos governos contra a mídia e até contra executivos de alta tecnologia que desagradam os interesses do país:

"Mas não são apenas jornalistas e editores que estão em apuros. Aqueles que não receberam a proteção das corporações de mídia - blogueiros, podcasters, YouTubers - estão todos no mesmo caminho. É ainda mais preocupante para os Bitcoiners, já que os tratados de extradição em vigor após o 11 de setembro agora estão sendo usados contra tecnólogos que entram em conflito com os interesses dos EUA. Mike Lynch da Autonomy no Reino Unido ou Meng Wanzhou da Huawei no Canadá são alguns exemplos. E, para Julian, a luta ainda não acabou."

Finalmente, o irmão de Julian Assange cobra o apoio da comunidade Bitcoin e evoca "as crenças fundamentais" da maior criptomoeda e do Wikileaks:

"Bitcoin e WikiLeaks são os utilitários de uma internet gratuita. Eles são necessários para que ela se desenvolva e prospere de uma forma significativa. Ambos nascidos do movimento cypherpunk, Bitcoin e WikiLeaks permaneceram fiéis a suas visões de descentralização e transparência. O poder da comunidade criptomoeda cresceu exponencialmente. Com esse poder, vem a responsabilidade de defender as crenças fundamentais do Bitcoin em face da institucionalização iminente.

Minha esperança é que os tecnólogos racionais que fizeram grandes apostas contra o sistema se reúnam para ver os benefícios de defender um de seus irmãos e suas próprias raízes cypherpunk. Assim como em 2011, quando foi adotado pelo WikiLeaks, o Bitcoin tem mais uma oportunidade de mostrar seu poder para o mundo. Uma vitória de Julian Assange demonstrará às ondas de interesses corporativos e reguladores que a comunidade da criptomoeda está disposta a usar seu poder para defender aquilo em que acredita."

O Wikileaks e a família de Assange agora lançaram uma campanha para arrecadar 40 Bitcoins que ajudarão a pagar os custos dos processos contra Julian Assange, em uma parceria com a organização sem fins lucrativos Wau Holland, com sede na Alemanha.

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