Jornalistas e portais especializados em Bitcoin e criptomoedas no Brasil têm sofrido ameaças virtuais e até mesmo físicas por conta de reportagens que informam sobre supostos esquemas financeiros que usam criptoativos.

Um levantamento exclusivo feito pelo Cointelegraph revelou que praticamente todos os portais especializados no Brasil sofreram este tipo de coação em algum momento, seja por meio de processos ou ameaças a jornalistas.

Há relatos de ameaças virtuais nas quais membros da supostas pirâmides financeiras ou até mesmo usuários destes esquemas buscam intimidar o veículo e/ou seus jornalistas. Entre os casos há denúncias de ameaças físicas na qual pessoas teriam sido intimidadas pessoalmente a remover conteúdo referente aos supostos golpes.

Ligações telefônicas e mensagens nas redes sociais são as práticas mais comuns. No entanto, em um dos casos relatados à reportagem do Cointelegraph, uma equipe inteira de um portal foi vítima de “fake news”. Dias depois de divulgar notícias referentes a uma suposta pirâmide financeira, os jornalistas foram surpreendidos com uma série de postagens em redes sociais que ligavam o nome dos mesmos ao compartilhamento e venda de pedofilia na internet, com pagamento em Bitcoin.

A Justiça também tem sido uma arma usada pelos supostos esquemas fraudulentos. Valendo-se da lei como forma de intimidação, empresas abrem processos judiciais com intuito de gerar custos e recursos dos veículos de comunicação. Há portais no Brasil que têm processos abertos, sobre o mesmo caso, em diferentes estados, estratégia muitas vezes usadas para “exaurir recursos” do réu e intimidar pela lei.

Há até casos de “carteiradas”, no qual os criminosos utilizam distintivos e armas de fogo para se apresentar como “autoridade”, buscando pressionar jornalistas pela remoção de conteúdo que lhes é incômodo. Na outra ponta, alguns jornalistas, em caso de ameaças, têm evitado registrar Boletins de Ocorrência (BOs) dos casos, temendo por novas represálias.

Sobre os processos, os portais evitam comentar o caso, mas há plataformas com mais de 20 processos em tramitação abertos por empresas que respondem por processos judiciais, têm bens bloqueados e até estão “condenadas” pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

"Ameaças a jornalistas no exercício de sua profissão são inaceitáveis. Ações que têm intenção de calar a imprensa não podem ser toleradas. Esta forma de intimidação prejudica a democracia e atenta à ordem constituída. O Cointelegraph se compromete e denunciar e combater tais atitudes e seus profissionais continuarão a cumprir sua principal missão – de informar a sociedade sobre fatos de interesse público – a todo e qualquer custo.", declarou Gabriel Rubinsteinn, editor-chefe do Cointelegraph Brasil

Há entre os intimidadores empresas que declaradamente realizam atividades de “Forex” e promovem “ICOs” no Brasil, práticas expressamente proibidas pela CVM.

A Associação Brasileira de Criptoeconomia (ABCripto), por meio de sua diretora Natalia Garcia, condenou a perseguição e disse que ressaltou no Senado Federal que as autoridade tem que ajudar a combater as pirâmides financeiras para que este tipo de crime não aconteça e acabe prejudicando o mercado. Já o presidente da Associação Brasileira de Criptoeconomia e Blockchain (ABCB), Fernando Furlan, destacou que a entidade repudia qualquer tipo de intimidação a jornalistas.

“A ABCB repudia qualquer tentativa de intimidação a jornalistas. Suspeitas de esquemas de pirâmide devem ser reportados às autoridades e investigados, independentemente do ativo sobre o qual estão baseados. No caso da criptoativos, a ABCB tem discutido com os agentes públicos possíveis estratégias de identificação dos chamados “bad players”, sejam eles investidores ou empresas.

A Associação Brasileira de Jornalistas Investigativos, publicou recentemente um manual para orientar jornalistas quando estes viram “alvo” por conta de reportagens produzidas de destaca que “Pela natureza investigativa da sua profissão, o jornalista está suscetível a críticas. Mas é importante separar a crítica ao trabalho de ofensas à pessoa. Também é fundamental não naturalizar os assédios como se fossem ossos do ofício ser alvo de ataques", destaca.