A Polícia Federal do Brasil (PF) está investigando usuários de Tether (USDT). Segundo informações apuradas pelo Cointelegraph, as investigações apontam que a stablecoin vem sendo usada para operações de lavagem de dinheiro por doleiros e mesmo por pessoas que atuando como vendedores P2P de criptomoedas estariam ajudando grupos a enviar dinheiro para fora do país sem pagar impostos.

A PF apura também que o USDT vem sendo usado para enviar para o exterior grande parte do lucro de empresas e comerciantes de grandes regiões do Rio de Janeiro e São Paulo. Segundo informações, os investigados buscam driblar as autoridades pagando impostos de uma parte menor de suas operações, enquanto a maior parcela é executada 'fora da lei' usando USDT.

As operações estão sendo conduzidas com apoio da Receita Federal, que teria identificado inconsistências nas movimentações financeiras dos investigados. Levantamentos da Receita Federal, realizados mensalmente desde 2019, indicam crescimento significativo do uso de stablecoins.

Flavio Prado, vice-presidente do Sindifisco em Santos, disse ao Poder 360 que a segurança das stablecoins levou a criação de um “mercado paralelo” de câmbio.

“A pessoa que vai diretamente no tether está provavelmente muito interessada em remeter esse dinheiro para o exterior”, afirmou.

Polícia Federal está atenta ao uso do USDT

As investigações em andamento fazem parte de uma nova linha de atuação da PF que tem cada vez mais dedicado atenção ao uso de criptomoedas, em especial stablecoins, para operações ilicitas.

Em 2022, a PF realizou uma das maiores operações do tipo para reprimir crimes de evasão de divisas, lavagem de dinheiro e associação criminosa, a Operação Colossus, que tiveram início a partir de Relatório de Inteligência Financeira, com comunicações de movimentações bancárias suspeitas envolvendo a negociação de criptoativos.

Devido à complexidade e ao grandiosidade das operações financeiras analisadas, os investigados foram divididos em grupos. 

O grupo dos arbitradores era responsável pela aquisição de grandes quantidades ativos virtuais no exterior, em países como Estados Unidos da América, Singapura e Hong Kong, e a sua venda no Brasil. Para tanto foram realizadas remessas de valores para o exterior na ordem de mais de R$ 18 bilhões.

As investigações apontaram que parte da documentação apresentada aos bancos possui indícios de desvio de finalidade.  A documentação em questão tinha como objetivo ocultar a origem nacional dos valores, já que, segundo apurado, as exchanges americanas não aceitavam a compra de criptoativos com recursos oriundos do Brasil.

O grupo das Exchanges era responsável pela compra dos ativos virtuais dos arbitradores e a sua revenda para pessoas físicas e jurídicas, com fortes indícios de envolvimento em ilícitos antecedentes.

Já o terceiro grupo era formado por empresas de fachada que adquiriam os criptoativos das exchanges com a finalidade de lavagem de dinheiro. Chama atenção o fato de dentre os clientes dessas existirem pessoas mortas, beneficiários de programas assistenciais, idosos com mais de 90 anos de idade, doleiros, contrabandistas e comerciantes de bairros de comércio popular de diversas cidades do país, em especial do Brás e da 25 de Março em São Paulo/SP.

Um único contador era responsável por mais de 1.300 empresas sediadas nesses locais de comércio popular de São Paulo. A maioria dessas empresas era de fachada.  Durante o período investigado, as empresas administradas por esse contador movimentaram, aproximadamente, R$ 1 bilhão com os arbitradores e as Exchanges investigadas.

Foi possível apurar a conexão dos fatos investigados com diversas operações já deflagradas pela Polícia Federal, como a Planum, Rekt, Valeta, Sucessão, Mardof, Kryptos, Betka e outras. Essas investigações tinham por objetivo apurar crimes relacionados ao tráfico internacional de drogas, organização criminosa, crimes contra o sistema financeiro nacional, pirâmides financeiras e lavagem de dinheiro.

Além desses, os indícios levantados apontam para a compra direta de criptoativos por traficantes de drogas, doleiros, contrabandistas e outros interessados em realizar operações de cripto-cabo.

Em comum, todos os investigados nessas operações adquiriram milhões de reais em criptoativos, cuja finalidade era remessa de valores para fora do país.

Siga o Cointelegraph Brasil para acompanhar as notícias em tempo real: estamos no X, no Telegram, no Facebook, no Instagram e no YouTube, com análises, especialistas, entrevistas e notícias de última hora do mercado de cripto e blockchain no Brasil e na América Latina.