O Banco Central do Brasil vai divulgar os resultados da segunda fase do Drex neste mês, no dia 31 de julho, de acordo com informações de participantes dos consórcios. Na data, o BC também vai apresentar os resultados das soluções de privacidade atualmente em testes.
Além disso, serão apresentados todos os casos de uso testados, bem como os resultados e quais foram as dificuldades. De acordo com informações compartilhadas com o Cointelegraph, o BC estuda adotar múltiplas soluções de privacidade para o Drex, sendo escolhida de acordo com o caso de uso.
Assim, para casos de uso em que há poucas operações, o BC deve optar por uma solução com menos escalabilidade e para operações que envolvam muitas transações, outra. Deste modo, o BC espera resolver o trilema que o Drex enfrentou na primeira fase e na segunda.
Na data o BC também deve ‘inaugurar’ a fase 3 do Drex, que pode envolver, pela primeira vez, testes com a população, como no caso da Caixa que vem desenvolvendo infraestrutura para pagamentos offline, dentro e fora do Drex.
Drex
Recentemente, durante a TokeNation, Henrique Videira, auditor do Banco Central, salientou que há muitos casos de uso interessantes na fase 2 do Drex e que o BC escolheu aqueles que podem gerar benefícios reais para a sociedade, como ganhos de eficiência operacional, redução de custos e mitigação de riscos, inclusive os riscos relacionados à dependência de intermediários.
O nosso foco passou a ser analisar cada caso de uso de forma específica e buscar soluções de privacidade, escalabilidade e arquitetura sob medida para cada um deles. Em vez de tentar criar uma solução genérica, agnóstica, que funcione para todos os casos, entendemos que podemos — e devemos — desenhar smart contracts dedicados a finalidades específicas, com a lógica e os requisitos adequados para cada operação”, revelou
Como exemplo, ele citou o caso de mercado secundário de liquidez, onde você pode consultar, em tempo real, os preços de ativos e realizar trocas sem a necessidade de intermediários. Ele destacou que esse é um mercado que movimenta bilhões e que pode ganhar muito com mais transparência e automação.
Outro exemplo citado por é o trade finance, especialmente relevante para o agronegócio. Imagine um produtor de soja brasileiro negociando diretamente com compradores na China por meio de uma plataforma integrada. Com a tecnologia certa, ele já sabe o preço, a logística está conectada, o frete está precificado e, melhor ainda, ele pode obter financiamento para exportar seu produto, tudo isso em uma cadeia digitalizada e segura.Inclusive, temos um grupo muito dedicado cuidando do caso de trade finance.Estamos falando de um mercado que, hoje, é burocrático, lento e ineficiente — e que precisa evoluir. Com o Drex, temos a oportunidade de estruturar e distribuir ativos reais e financeiros de forma muito mais eficiente. Casos como CBRs verdes, debêntures, CCBs, automóveis e imóveis já estão sendo testados, e os resultados mostram que os benefícios para a economia são concretos e significativos.
Infraestrutura unificada com o Drex
De acordo com o executivo do BC, uma das grandes vantagens da infraestrutura blockchain unificada, como a que está sendo construída com o Drex, é a possibilidade de manter ativos tokenizados em um mesmo ambiente, com benefícios que vão muito além da digitalização em si.
Primeiro, teremos garantias altamente líquidas, porque os ativos estarão registrados na blockchain. Com isso, o valor desses ativos tende a refletir seu preço real de mercado, graças à existência de mercados secundários, leilões digitais e plataformas de negociação descentralizadas, onde imóveis, automóveis ou outros bens poderão ser transacionados com base em smart contracts que atribuem e atualizam os valores em tempo real.
Segundo ele, isso proporciona dois ganhos claros: a execução rápida e segura da garantia e um valor de referência mais preciso e confiável — tudo isso em um ambiente auditável, transparente e imune a manipulações centralizadas.
Para o BC, esse modelo também é muito atrativo para o setor de gestão de ativos. Hoje, os fundos de investimento tradicionais estão fortemente correlacionados. Ou seja, quando o mercado sobe, todos os ativos sobem; quando o mercado cai, todos caem juntos. Não há diversificação real de risco.
Assim, com a DLT unificada do Drex, será possível incluir ativos reais, como imóveis, em fundos de investimento, criando carteiras mais exóticas, mas ainda assim dentro dos padrões de segurança e regulação exigidos. Isso pode aumentar o retorno dos fundos com menor risco, ampliando a criatividade dos gestores e oferecendo novos produtos ao mercado com menos volatilidade.
Além disso, há um impacto direto no mercado de crédito, que hoje é insuficiente para sustentar a inovação e o empreendedorismo brasileiros. O Drex pode impulsionar esse ecossistema, com maior oferta de crédito, avaliação mais justa das garantias e redução dos riscos operacionais e de crédito.
No caso de trade finance, o Drex viabiliza acesso direto a mercados internacionais, conectando exportadores brasileiros a compradores em outros países, como a China, em plataformas descentralizadas, integradas com soluções logísticas e financeiras, inclusive com financiamento embutido na cadeia.
Nada de Bridges Cross-Chain
Embora o Drex traga todas as vantagens citadas o executivo também destacou que os desafios são significativos, sendo a privacidade é um dos mais debatidos. Outro ponto crítico é a interoperabilidade. O Drex, por ser uma rede permissionada, não pode depender de intermediários como acontece em blockchains públicas com cross-chain bridges. Isso exige um arcabouço técnico específico.
Para isso, foi criado um programa em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (e outros parceiros) com foco em desenvolver soluções de interoperabilidade compatíveis com o ambiente do Drex, que não comprometam segurança nem dependam de terceiros.
Nos bastidores, o Banco Central também trabalha com atenção à regulação. Tudo que está sendo desenvolvido precisa caminhar em paralelo com o arcabouço jurídico, para garantir que nenhuma norma seja descumprida. Isso requer alinhamento contínuo entre os avanços tecnológicos e as estruturas legais.
Além disso, há esforços voltados à segurança cibernética. É necessário antecipar cenários de ataque, desenhar respostas a possíveis explorações criativas por hackers — mesmo em um ambiente restrito a instituições financeiras, como o Drex
“Tudo isso mostra que o Drex é uma agenda estratégica para o Banco Central. Se alguém perguntar por que o projeto parece “devagar”, a resposta é simples — o Drex é um projeto complexo e ambicioso.Cada caso de uso testado no Drex — seja para imóveis, automóveis, trade finance ou pagamentos internacionais — é mais complexo que o próprio Pix. E, como o Pix já exigiu um grande esforço institucional, imaginem o desafio de criar um ecossistema interoperável e multifuncional, que envolve, além de reguladores como a CVM, entidades internacionais como o FMI e autoridades monetárias de países como Hong Kong”, finalizou.