Resumo da notícia

  • Capital mínimo sobe e ameaça empresas cripto pequenas.

  • Exchanges podem fechar ou buscar fusões rapidamente.

  • Grandes players tendem a dominar o mercado nacional.

O Banco Central do Brasil lançou uma calculadora oficial de capital mínimo, que permite simular o valor exato exigido de cada tipo de empresa. A ferramenta se soma a um conjunto maior de medidas que, segundo o BC, reforçam a segurança do sistema financeiro brasileiro e que afetam diretamente o mercado cripto.

“O Capital Mínimo é o limite mínimo de capital social integralizado e de patrimônio líquido que deve ser mantido pelas instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil (BC).Capital social integralizado: é o valor efetivamente aportado pelos sócios ou acionistas, disponível para uso nas atividades da instituição. Esses recursos são utilizados para cobrir despesas operacionais, realizar investimentos e garantir a segurança das operações. No caso das instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central, o capital social integralizado também serve como uma reserva de proteção contra riscos, especialmente antes do início das atividades.Patrimônio líquido: representa a diferença entre os ativos e os passivos da instituição. Ele mostra, de forma atualizada, os recursos próprios que a empresa possui, incluindo o capital integralizado e as reservas de capital e de lucros.”, explica o BC.

O lançamento é parte de um pacote de medidas que elevam de forma significativa o capital social mínimo necessário para que prestadoras de serviços de ativos virtuais possam operar no país. A decisão ativou um alerta no setor, porque a exigência pode forçar fusões, encerramentos e uma forte concentração de mercado.

As novas regras estabelecem que qualquer empresa do setor deverá manter pelo menos R$ 8 milhões de capital social integralizado, valor que pode chegar a R$ 13 milhões se houver serviços de custódia.

Antes do anúncio, o mercado esperava exigências muito menores, entre R$ 1 milhão e R$ 3 milhões, dependendo da atividade. A mudança surpreendeu até executivos e advogados que acompanham de perto o processo regulatório.

De acordo com o advogado Rafael Stanfield, as novas exigências elevam radicalmente o nível de capitalização necessário. Ele afirmou que o setor se preparava para regras duras, mas não para uma elevação tão expressiva.

“Com o novo valor, várias empresas simplesmente não terão condições de se adequar”, disse.

Novas regras vão prejudicar as pequenas empresas

A trajetória regulatória começou em 2022, quando a Lei 14.478 estabeleceu o marco legal dos criptoativos. Depois disso, um decreto de 2023 determinou que o Banco Central seria o regulador das prestadoras de serviços de ativos virtuais. O setor aguardava uma norma definitiva para 2025, mas o órgão decidiu antecipar a parte que trata do capital mínimo, pressionando imediatamente as empresas.

Para Stanfield, o endurecimento tem ligação direta com fraudes recentes em instituições financeiras e de pagamento.

“Esses desvios milionários levaram o BC a elevar os padrões prudenciais para todo o sistema”, afirmou. Isso significa que setores antes pouco supervisionados agora entram no radar de exigências rígidas.

O impacto inicial deve ser forte. Empresas menores e médias, muitas vezes dependentes de fluxo constante de caixa, terão dificuldades para integralizar rapidamente R$ 8 milhões. Para várias delas, esse valor supera a própria receita anual. Assim, o mercado pode ver uma onda de fechamentos ou fusões, especialmente entre startups que aguardavam apenas a regulamentação para se formalizar.

O cenário favorece empresas grandes, como Mercado Bitcoin, Foxbit e Binance, que já possuem estrutura financeira sólida. Essas companhias tendem a suportar o novo patamar de capital e, portanto, podem ampliar sua participação no mercado. A concentração, porém, preocupa especialistas porque reduz a inovação e limita a competição.

Outro ponto sensível é que o setor ainda não pode solicitar a licença formal do Banco Central. Para isso, será necessária uma norma complementar específica para as PSAVs, ainda não publicada. Stanfield acredita em um período de transição de cerca de seis meses, em que as empresas deverão começar a preparar seus pedidos de autorização. Depois desse prazo, o BC analisará cada caso de forma individual.

O advogado lembra que bancos e instituições de pagamento também receberam prazos escalonados para atender às novas regras. Até o final de 2027, precisam cumprir o capital mínimo exigido. No caso do setor cripto, ainda falta clareza sobre como ocorrerá essa adaptação.