Um novo estudo da ABCripto (Associação Brasileira de Criptoeconomia), revelado ao Cointelegraph nesta quinta, 10, coloca o Brasil em posição de destaque no cenário internacional de tokenização (Tokens RWA), reforçando a percepção de que o país está na vanguarda da transformação digital dos mercados financeiros e econômicos.
De acordo com o estudo, com marcos regulatórios recentes, forte crescimento no volume de ativos digitais e um ambiente institucional mais estável, o país aparece como um dos mais promissores do mundo neste setor.
O estudo aponta que o ano de 2024 foi decisivo para a criptoeconomia brasileira. O Banco Central passou a supervisionar o setor em conjunto com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), fortalecendo a segurança jurídica e institucional para investidores e empresas.
Esse novo arranjo regulatório já apresenta impactos diretos: o volume financeiro reportado foi de R$ 440 bilhões, com 5,8 milhões de pessoas naturais movimentando ativos mensalmente, segundo dados da Receita Federal.
A reforma tributária e a Instrução Normativa RFB 2.180 também contribuíram para um ambiente mais favorável, ao lado de consultas públicas da CVM e do Banco Central sobre temas como criptoativos e tokenização. O resultado foi um salto de 300% nas ofertas de crowdfunding e um volume de R$ 1,3 bilhão em ativos tokenizados em 2024, conforme a CVM.
Diante da rápida expansão, a ABCripto reforça a necessidade de ampliar a educação sobre ativos digitais. A associação, que lançou um modelo de autorregulação em 2020, atua como ponte entre reguladores, investidores e empresas. O objetivo é impulsionar iniciativas que fomentem a criptoeconomia com responsabilidade e inovação.
Segundo Bernardo Srur, presidente da ABCripto, "a economia tokenizada tem o potencial de transformar profundamente todo o sistema econômico e financeiro no Brasil e no mundo." A expectativa para 2025 é de ainda mais crescimento, impulsionado por tokenização de ativos imobiliários e financeiros.
A consultoria Boston Consulting Group projeta que o mercado global de ativos tokenizados pode atingir US$ 16 trilhões até 2030 — e o Brasil quer ser protagonista nesse cenário.
Indicadores reforçam maturidade do mercado nacional
Os dados do mercado reforçam a tendência de consolidação do Brasil como potência em tokenização. Apenas em 2023, foram tokenizados R$ 542 milhões em ativos. No total, o país movimentou R$ 1 bilhão em tokens entre 2019 e 2023..
O ambiente de sandbox regulatório também floresceu, com destaque para a Vórtx QR, que captou R$ 212 milhões, e a BEE4, com R$ 26 milhões. Somente a plataforma estar emitiu 84 projetos dentro do sandbox da CVM, com captação de R$ 21 milhões.
No crowdfunding, a captação em 2024 foi de R$ 1,5 bilhão, um crescimento de 80% em relação aos cinco anos anteriores somados, com 474 ofertas registradas. O número de plataformas autorizadas saltou para 66, revelando um ecossistema em plena maturação.
O interesse dos brasileiros por criptoativos também se reflete nos investimentos na Bolsa. Os ETFs relacionados ao setor, como BITH11, QBTC11 e BIT11, registraram valorização de até 175,43% em 2024 e mais de 130 mil cotistas cada — superando até o ETF do índice Bovespa (BOVA11).
Hoje, o Brasil conta com 5,1 milhões de investidores pessoas físicas na B3, movimentando R$ 5,8 bilhões em média diária com ações. No setor cripto, 9,1 milhões de brasileiros declararam investimentos em 2023, com R$ 23 bilhões de volume médio diário.
Ethereum (ETH) lidera entre os ativos mais populares, com 19,8% da preferência, seguido por Bitcoin (BTC), Solana (SOL) e AAVE. O perfil do investidor ainda é majoritariamente conservador, com 64% focados em renda fixa, mas há crescimento visível entre traders (11%) e investidores diversificados (16%).
Tokenização em alta no Brasil

O estudo também destaca casos como a tokenização de recebíveis, impulsionada por empresas como PeerBR e Liqi, que viabilizam a conversão de duplicatas e direitos creditórios em tokens digitais negociáveis. Além disso, a Netspaces e a Mynt estão inovando na tokenização de imóveis, possibilitando o fracionamento de propriedades de alto valor para democratizar o acesso ao mercado imobiliário.
No agronegócio, a Agrotoken lidera iniciativas para transformar commodities como soja, milho e trigo em ativos digitais, ampliando opções de financiamento para produtores rurais. Paralelamente, bancos brasileiros vêm explorando a tokenização para oferecer novas modalidades de investimento e ampliar o acesso ao mercado de capitais.
Outro avanço destacado é a infraestrutura para Web3 e soluções white label desenvolvidas por empresas como Klever e BlockBR, que criam plataformas para facilitar a tokenização em diversos segmentos. Esse movimento reforça o papel do Brasil como um dos mercados mais promissores para a digitalização de ativos.
A adoção da tokenização no país é impulsionada por um ambiente regulatório favorável, com o Marco Legal dos Ativos Virtuais e diretrizes da CVM e do Banco Central garantindo segurança jurídica para investidores e empresas. Além disso, a experiência bem-sucedida do Pix e o desenvolvimento do Drex são fatores-chave para a expansão do setor.
"Com um volume diário de R$ 23 bilhões movimentados em criptoativos e mais de 9,1 milhões de investidores pessoas físicas no país, o Brasil se posiciona na vanguarda global da tokenização. O estudo da ABcripto reforça que essa tendência deve crescer nos próximos anos, tornando o mercado financeiro mais acessível, eficiente e dinâmico", conclui a associação.