Analistas de criptomoedas no X (a plataforma de rede social anteriormente conhecida como Twitter) e no YouTube têm falado muito sobre a tendência recente de saques de Bitcoin de exchanges centralizadas.

Em 29 de agosto, a quantidade de Bitcoin (BTC) mantida nas exchanges sofreu um novo declínio, atingindo seu nível mais baixo desde janeiro de 2018. Embora vários fatores possam estar por trás desse movimento, os especialistas que analisam dados de blockchain geralmente interpretam essa tendência como um indicador positivo. Assim, os traders agora estão questionando o que poderia estar impossibilitando o Bitcoin de ultrapassar US$ 31.000, uma vez que a ação de preço atual do BTC não se alinha com a tese de que menos moedas nas exchanges é um indicador de alta para o preço do ativo.

A tese é decorrente da noção de que quando os traders sacam suas moedas das exchanges estão adotando uma estratégia de manter seus bitcoins em autocustódia como um investimento de longo prazo.

Embora essa tese não se baseie em evidências conclusivas, sua popularidade provavelmente decorre de um precedente histórico. No entanto, o estabelecimento de uma relação entre os saques e um comportamento específico da ação de preço do Bitcoin permanece ilusória, independentemente da frequência de tais ocorrências. Embora a compra de Bitcoin em exchanges exija o depósito prévio de moedas fiduciárias, o inverso não é necessariamente verdadeiro.

Dados não mostram correlação entre as métricas on-chain e a ação de preço do Bitcoin

Dados on-chain de transações mostram uma redução consistente nos depósitos de Bitcoin em exchanges desde meados de maio. Ao mesmo tempo, a trajetória de preços do Bitcoin não oferece indicações substanciais de uma tendência de alta, com exceção de um breve aumento em meados de junho, que coincidiu com a apresentação do pedido para lançamento de um fundo negociado de BTC à vista pela BlackRock.

Variação do saldo líquido agregado de Bitcoin mantido em exchanges. Fonte: Glassnode

Vale a pena observar que o período que testemunhou uma alta de 30% do preço do Bitcoin, de 12 a 19 de março, registrou um aumento nos depósitos de BTCs em exchanges, contrastando com as previsões baseadas nas análises de dados on-chain. Apesar dessa contradição, são escassos os casos de influenciadores que abordam os pontos fracos desses mitos duradouros. Isso pode ser atribuído à visão simplória de vincular depósitos em exchanges a uma maior inclinação para a venda.

Certamente, todos os indicadores são propensos a imprecisões ocasionais, e depender exclusivamente da análise on-chain para ditar as tendências do mercado não é sensato. No entanto, a noção de que os saques de exchanges são predominantemente destinadas à transferência para soluções de armazenamento a frio carece de base substancial e existe em grande parte como uma proposição hipotética. Por exemplo, há três possíveis razões que explicam a redução dos bitcoins mantidos em exchanges não relacionadas a uma menor intenção de venda de curto prazo.

Investidores estão dando preferência a soluções de custódia confiáveis

A principal explicação para o fato de os saques de Bitcoin das exchanges não indicarem necessariamente uma diminuição na pressão vendedora no curto prazo é a crescente confiança nas soluções de auto-custódia. Isso implica que essas moedas podem ter sido adquiridas no passado e só recentemente o proprietário se sentiu à vontade para transferi-las para uma carteira sob sua responsabilidade particular.

Notadamente, custodiantes de boa reputação, como a Prime Trust, pegaram os investidores de surpresa quando deram entrada a pedidos de falência sob o Capítulo 11 devido à escassez de fundos dos clientes. Além disso, uma soma impressionante de aproximadamente US$ 35 milhões em criptoativos foi roubada dos usuários da Atomic Wallet em junho. A falta de confiança prevalecente em soluções de custódia terceirizadas poderia elucidar a abordagem cautelosa que os investidores adotaram antes de realizar os saques de exchanges.

Investidores perderam a confiança nas exchanges centralizadas

Em 5 de junho, a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC) abriu um processo judicial contra a Binance, alegando a oferta de valores mobiliários não registrados. Apenas um dia após a abertura do processo contra a Binance, a comissão voltou seu foco para a Coinbase por motivos análogos, alegando que muitas das altcoins oferecidas para negociação na plataforma da exchange atendem aos critérios de valores mobiliários.

Para agravar ainda mais a situação, uma reportagem de 2 de agosto da Semafor revelou que o Departamento de Justiça dos Estados Unidos expressaram preocupações de que uma acusação contra a Binance desencadeasse uma corrida bancária semelhante aos eventos que resultaram no colapso da FTX em novembro de 2022. Essas ações regulatórias podem ter influenciado os usuários a manter suas moedas depositadas fora de exchanges, independentemente de suas intenções de compra e venda, fazendo com que os saques não estivessem relacionadas às flutuações de preço.

Diminuição do interesse dos compradores pode equilibrar a tendência

Mesmo que se postule que a maior parte do Bitcoin que sai das exchanges está de fato indo para carteiras frias, o que implica que os detentores têm uma propensão reduzida a se envolver em vendas de curto prazo, a demanda do mercado é uma questão a parte. Por exemplo, uma busca por "comprar Bitcoin" no Google Trends dificilmente ultrapassou 50% de seu pico registrado há dois anos.

Pesquisas no Google por "comprar Bitcoin" em todo o mundo. Fonte: Google Trends

Da mesma forma, o volume de negociação à vista do Bitcoin atingiu uma média modesta de US$ 7 bilhões por dia em agosto – menos da metade da atividade de negociação observada entre janeiro e março.

Volume diário de negociação ajustado de Bitcoin em USD. Fonte: Messari e Kaiko

Como resultado, os dados destacam um interesse cada vez menor por parte dos compradores, o que, por sua vez, reflete tem reflexo na ausência de um impulso de alta no preço do Bitcoin. Essa tendência paralela se alinha com a diminuição do número de BTC depositado em exchanges. Consequentemente, apesar de a quantidade de Bitcoin mantido em exchanges ter caído para níveis vistos pela última vez em 2018, o efeito sobre o equilíbrio entre oferta e demanda é insignificante, devido à atividade de negociação moderada que prevaleceu no período.

Em última análise, embora a análise de métricas on-chain possa fornecer indícios que justifiquem a tese da transição de moedas para investimento de longo prazo, esse ponto de vista oferece pouco suporte a teses sobre a dinâmica de preços, pois o movimento pode refletir uma relutância mais ampla em negociar ativamente o ativo.

Este artigo é para fins de informação geral e não se destina a ser e não deve ser tomado como aconselhamento jurídico ou de investimento. Os pontos de vista, pensamentos e opiniões aqui expressos são de responsabilidade exclusiva do autor e não refletem nem representam necessariamente os pontos de vista e opiniões do Cointelegraph.

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