A recuperação do Bitcoin até sua máxima histórica pode ser ameaçada pelo aumento dos temores de recessão — algo que pode ser amenizado caso Estados Unidos e China iniciem negociações tarifárias ainda este mês, disseram analistas de pesquisa ao Cointelegraph.

O apetite por ativos de risco globais, como o Bitcoin (BTC), pode sofrer novo impacto, com analistas da Apollo Global Management prevendo uma recessão até o verão (no hemisfério norte).

“A Apollo está prevendo recessão no verão: queda mais acentuada nas projeções de lucros desde 2020”, escreveu a analista cross-asset Samantha LaDuc em uma publicação no X em 26 de abril.

O avanço nas negociações tarifárias pode ser o fator mais importante a influenciar uma possível recessão e a trajetória do preço do Bitcoin, segundo Aurelie Barthere, analista principal de pesquisa da plataforma de inteligência em criptoativos Nansen.

Fonte: Samantha LaDuc

Maio é considerado um mês decisivo, já que remessas chinesas chegam aos portos dos EUA, e isenções em algumas categorias tarifárias, como autopeças e remessas abaixo de US$ 800 vindas da China/Hong Kong, expiram”, disse Barthere ao Cointelegraph. Ela acrescentou que a ausência de negociações em maio pode levar a uma recessão econômica e a “perdas de dois dígitos” para o Bitcoin.

No entanto, esse é o cenário menos provável, já que nem China nem Estados Unidos “têm interesse econômico na interrupção do comércio bilateral”, afirmou Barthere, acrescentando:

“Diante disso, o cenário principal para as tarifas envolve os EUA fechando acordos — ou ao menos ‘acordos de princípio’ — com seus principais parceiros comerciais, provavelmente se estabilizando em torno do piso tarifário recíproco de 10%.”

Se esse cenário se concretizar e as tensões comerciais diminuírem em maio, o Bitcoin provavelmente revisitará sua máxima histórica, disse Barthere.

Os Estados Unidos “proativamente entraram em contato com a China por meio de vários canais”, sinalizando abertura para negociações tarifárias, informou a Reuters em 1º de maio, citando fontes anônimas que falaram com a plataforma de mídia chinesa afiliada ao Estado, Yuyuan Tantian.

Bitcoin pode subir mesmo diante de uma recessão

Embora a maioria dos analistas espere que as negociações comerciais em maio aliviem as preocupações econômicas, o Bitcoin pode continuar em alta mesmo diante de uma possível recessão.

“Num primeiro momento, o Bitcoin e as criptomoedas podem sofrer volatilidade, caindo junto com ativos de risco como ações devido a vendas por parte dos investidores”, disse Anndy Lian, autor e conselheiro intergovernamental em blockchain, ao Cointelegraph, acrescentando:

“Dados históricos, como a recuperação do Bitcoin após a recessão de 2020, sugerem que ele pode se recuperar, especialmente se for visto como proteção contra a inflação.”

“Em cenários de estagflação (alta inflação e crescimento lento), o Bitcoin — frequentemente comparado ao ouro — pode ter bom desempenho, atraindo investidores em busca de preservação de valor. No entanto, seu aumento na correlação com o mercado de ações, especialmente com ações de tecnologia, adiciona incerteza”, afirmou Lian. Ele aconselhou que investidores em cripto fiquem atentos às mudanças na política econômica para avaliar a direção do mercado.

Gráfico BTC/USD, semanal, 2020–2021. Fonte: Cointelegraph/TradingView

Contudo, a crescente correlação do Bitcoin com ações de tecnologia adiciona incerteza a esse cenário. Após o crash da COVID-19 em março de 2020, o Bitcoin disparou mais de 1.050%, subindo de US$ 6.000 para a máxima histórica de US$ 69.000 em novembro de 2021. Esse rali veio após o Federal Reserve lançar um programa de compra de ativos de US$ 4 trilhões em março de 2020.

Outros observadores do setor seguem preocupados com a resposta do mercado cripto diante da estagnação econômica.

“Se os analistas estiverem certos quanto à recessão (o que certamente não é garantido), os mercados de cripto provavelmente cairão junto com outros ativos de risco e ações”, afirmou Marcin Kazmierczak, cofundador e diretor de operações da empresa de oráculos blockchain RedStone.

Kazmierczak disse que as tarifas do “Dia da Libertação” em abril e a desaceleração no transporte rodoviário podem gerar um efeito de contágio econômico que, historicamente, atinge com mais força os ativos especulativos.

“Apesar da crescente adoção institucional das criptomoedas trazer alguma incerteza, isso ainda não é suficiente para anular a classificação de alto risco que continua a dominar o comportamento do mercado”, concluiu.