Enquanto as discussões sobre a incorporação de criptomoedas nas reservas corporativas estão lentamente ganhando tração nos Estados Unidos, algumas das maiores corporações da América Latina já estão aderindo ao Bitcoin — acumulando ganhos significativos em seus investimentos e expandindo serviços cripto para usuários finais no processo.
Seguindo os passos de grandes empresas como a Strategy (anteriormente MicroStrategy) e até mesmo de nações soberanas como El Salvador, que acumularam quantidades significativas de Bitcoin, muitas empresas da região recorreram às criptomoedas como forma de diversificação de reservas e proteção contra a inflação, que persiste no continente.
Três empresas argentinas, incluindo o Mercado Livre, a maior empresa de capital aberto de toda a região, atualmente possuem um total combinado de 1.300 Bitcoin em ativos, de acordo com dados compilados pelo BitcoinTreasuries.NET sobre holdings corporativas e soberanas.
Top 10 empresas de capital aberto com participações em Bitcoin. Fonte: BitcoinTreasuries
A nação sul-americana tem atraído interesse global desde que o presidente pró-Bitcoin Javier Milei assumiu o cargo há mais de um ano, implementando uma agenda de desregulamentação e facilitando transações em cripto e outras moedas. Mas, em alguns casos, o interesse das corporações vem de antes.
A Bitfarms, uma empresa global de mineração de BTC sediada no Canadá, mas fundada por empreendedores argentinos, é atualmente a maior detentora de Bitcoin na região, segundo a BitBo. A empresa, fundada em 2017, possui 870 BTC. Seus dados mais recentes mostram que a Bitfarms produziu uma média de 250 Bitcoin por mês em 2024 por meio de suas operações, que incluem centros de dados na Argentina, Paraguai, Canadá e Estados Unidos.
Mercado Livre, o “Amazon da América Latina”
Conhecido como a “Amazon da América Latina” devido ao seu domínio no comércio eletrônico da região, o unicórnio argentino Mercado Livre vem investindo no Bitcoin há vários anos. Com um valor de mercado de US$ 100 bilhões, a empresa fez seu primeiro investimento em cripto em 2021, adquirindo menos de US$ 10 milhões em Bitcoin e Ethereum. Atualmente, possui mais de 412 BTC (BTC) e 3.040 Ether (ETH), de acordo com documentos da empresa, totalizando cerca de US$ 50 milhões aos preços atuais do mercado.
“Acredito que o Bitcoin como reserva de valor é melhor do que o ouro,” disse o fundador argentino e bilionário da internet Marcos Galperín na época. A Globant, uma empresa de software com sede em Buenos Aires, vem logo em seguida, embora com uma participação bem menor, de pouco mais de uma dúzia de Bitcoins.
“O interesse crescente das empresas argentinas em criptomoedas não é apenas um movimento repentino de marketing,” disse Natalia Motyl, economista e analista cripto, ao Cointelegraph.
"Começou a tomar forma em 2021, e desde então, diversas empresas se aventuraram no ecossistema, aproveitando suas vantagens como reserva de valor e veículo de investimento."
Por anos, o país tem enfrentado uma inflação crônica, criando um terreno fértil para o crescimento das criptomoedas, à medida que os argentinos recorrem a ativos alternativos para enfrentar esses desafios financeiros. As empresas também enfrentam essas dificuldades em uma região com moedas fracas.
Mas, para ter certeza, o Mercado Livre e outras gigantes regionais ainda estão longe de serem consideradas baleias cripto. Comparadas a empresas que apostam tudo no Bitcoin — como a Strategy, que detém quase meio milhão de BTC —, o valor investido por empresas latino-americanas nesse ativo ainda é relativamente pequeno. De fato, embora esses investimentos tenham se mostrado financeiramente benéficos, há também um aspecto de branding envolvido.
Empresas latino-americanas intensificam serviços cripto
Além dos investimentos em tesouraria, o interesse das gigantes fintech da América Latina no setor cripto está crescendo significativamente, à medida que essas empresas percebem altos níveis de adoção entre os cidadãos e reconhecem oportunidades de negócios significativas.
Com mais de 50 milhões de usuários fintech na região, o Mercado Livre recentemente lançou sua própria stablecoin, chamada “Meli dollar”, no Brasil, seu maior mercado. Anteriormente, a empresa introduziu seu token como parte de um programa de fidelidade para manter os usuários engajados em sua plataforma de marketplace.
Motyl afirmou que:
“A Argentina é atualmente um dos países da América Latina com o maior volume de transações em criptomoedas, e grandes empresas, cientes dessa tendência, começaram a incorporar criptomoedas em seus modelos de negócios — seja como meio de pagamento, investimento ou reserva de valor."
Uma das maiores empresas facilitando serviços cripto na América Latina, além das exchanges especializadas, é o Nubank. O banco digital brasileiro de capital aberto, que tem participação da Berkshire Hathaway de Warren Buffett e mais de 100 milhões de usuários no Brasil, Colômbia e México, tem expandido sua oferta cripto para atender à crescente demanda do mercado latino-americano. Embora tenha inicialmente introduzido o trading em 2022, citando uma “tendência crescente na América Latina”, desde então vem ampliando seu portfólio gradualmente.
Em dezembro, anunciou que permitiria aos usuários trocar BTC, ETH, SOL (SOL) e UNI (UNI) diretamente por USDC (USDC) — e vice-versa. A empresa afirmou que até 30% de seus usuários já possuem USDC em suas carteiras e recentemente aprimorou seu programa de recompensas para esses investimentos em stablecoins.
“Swaps são uma demanda crescente dos clientes à medida que começam a incorporar ativos cripto em suas estratégias,” disse Thomaz Fortes, diretor executivo de criptomoedas e ativos digitais do Nubank, em um comunicado à imprensa.
“Esse lançamento inicial com USDC e as quatro criptomoedas mais populares oferece uma maneira de garantir potenciais lucros com a valorização de preços sem sair do mercado, tudo isso enquanto se beneficia de taxas mais baixas.”
Este artigo é apenas para fins informativos gerais e não deve ser considerado como aconselhamento jurídico ou de investimento. As opiniões expressas aqui são exclusivamente do autor e não refletem necessariamente as opiniões do Cointelegraph.