O ex-diretor de política monetária do Banco Central do Brasil, Aldo Luiz Mendes, disse que as características do Bitcoin favorecem o uso da criptomoeda por criminosos e que o Libra, do Facebook, representa um sério risco ao sistema monetário. A declaração foi feita em entrevista ao jornal Correio Braziliense, em 8 de julho.

“O anonimato das moedas dessa natureza traz risco reputacional e dificuldades com relação ao programa de prevenção à lavagem de dinheiro. Não há como rastreá-las, e elas estão sujeitas a ataques cibernéticos. Além disso, elas têm dificuldade de aceitação, porque é um universo pequeno que negocia com isso. Como reserva de valor, elas são extremamente arriscadas”, disse. 

Ainda segundo o executivo, as criptomoedas podem até vigorar no futuro, entretanto, elas "não se provaram substitutas da moeda convencional por enquanto".

“Basta ver a volatilidade que o Bitcoin tem oferecido, por exemplo. É uma loucura, uma montanha-russa. As criptomoedas enfrentam dificuldade para cumprir papéis tradicionais das moedas físicas. Sem contar que as moedas virtuais têm um defeito no DNA: são anárquicas. Ou seja, não têm nenhum controle central”, destaca.

Sobre o Libra, a stablecoin do Facebook, Mendes destacou que seu potencial é enorme em desestabilizar o sistema monetário justamente pelo poder e número de usuários que usam a rede social.

“Também há a particularidade de que ela quer abrir mão de ser uma moeda anárquica. Os idealizadores querem que seja regulada, neste início. Para atrair 1,7 bilhão de pessoas, eles acreditam que é necessário haver regularização. É um projeto ambicioso. Muitos dos usuários do Facebook estão fora do sistema financeiro, pois são pobres e teriam de pagar mais caro pelos serviços. Então, essas pessoas serão trazidas para dentro da libra. Essa moeda, com certeza, será uma grande ameaça aos métodos financeiros tradicionais”.

Como reportou o Cointelegraph, o Bacen tornou público recentemente o seu objetivo de modernizar os procedimentos da instituição usando novas tecnologias, entre elas a blockchain, e anunciou a  Agenda BC#, que busca aliar inovação tecnológica a uma agenda microeconômica da instituição. 

"Ela norteará o trabalho do BC durante os próximos anos e está estruturada em quatro dimensões: inclusão, competitividade, transparência e educação financeira", diz o anúncio oficial.