O dono da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) e da TV Record, o pastor Edir Macedo, publicou em seu canal do YouTube um vídeo que associa o Bitcoin à "profecia da Besta" nesta semana.

Como noticiou o Cointelegraph Brasil, a Igreja Universal comandou no começo de abril uma "caça" aos pastores investidores de Bitcoin da Igreja, com uma investigação financeira que levou 400 pastores a abandonarem a IURD por terem investimentos em uma corretora de criptomoedas.

Antes, em 2020, curiosamente a Igreja Universal permitiu que seus pastores promovessem - inclusive durante os cultos - uma pirâmide de Bitcoin que deixou um prejuízo milionário no país: a AirBit Club.

Agora, porém, a postura de Macedo e seus seguidores mudou radicalmente. O vídeo, entitulado "Blockchain, Bitcoin e a marca da besta" - com comentários desativados -, tenta narrar com ar documental a história do Bitcoin, da blockchain, e do criador anônimo do BTC, Satoshi Nakamoto, forçando associações para colocar a comunidade cripto ao lado do satanismo e do totalitarismo.

A narrativa conta a história do Bitcoin, e logo no começo diz que a moeda foi criada para ser um "sistema de moeda global para substituir os governos e bancos". As associações com Satanás começam aí, com a alegação de que a criptomoeda foi lançada propositalmente durante um Halloween (31 de outubro de 2009), o que seria "mais um indício" das ligações satânicas do BTC e de seu criador, Satoshi.

Depois de dar pequenas "pistas" do lado diabólico do Bitcoin, a narrativa força a barra: diz que a blockchain do BTC seria controlada por uma espécie de "elite", com acesso especial à programação da cadeia:

“Enquanto a blockchain está sendo conhecido como algo descentralizado, que significa que não está sob controle de ninguém, ele está sendo desenvolvido e implementado por um grupo de pessoas que possuem um acesso ao sistema de maneira que os usuários normais não possuem”.

A Igreja Universal também cobra os usuários de blockchain por eventual sonegação de impostos, já que a tecnologia permitiria que os usuários não cumpram seus compromissos com a Receita, permitindo abusos financeiros. Para os autores do vídeo, o Bitcoin é um "plano de Satanás":

“Isto é exatamente o que o plano de Satanás e a marca da Besta envolve(m)"

E o discurso vai além: a tecnologia blockchain estaria eliminando a confiança da humanidade em Deus, para que as sociedades passem a acreditar somente nos homens:

“De fato essa tecnologia está nos encorando a eliminar o conceito de confiança e fé e trocá-lo por uma simples aceitação humana de registro de dados desprovidos de qualquer elemento moral. Estamos sendo encorajados a nos livrarmos dos bancos e governos, mas que vai nos levar para o maior sistema totalitário da história do planeta”.

No fim, a "denúncia" da Universal chega ao seu ápice, escancarando o discurso:

“Satanás sempre manipulou a raça humana para entregar para ele mais poder e controle simplesmente apelando para nossa cobiça. A tecnologia blockchain e bitcoin só são o cavalo de Tróia da última geração. Será que esta tal presente para o mundo não é somente parte das finais preparações de Satanás para se manifestar como o Deus deste mundo?”

Apesar do interesse da IURD em combater a sonegação de impostos, a igreja e seus pastores são beneficiários de uma série de incentivos e isenções fiscais, muitas vezes questionados pela sociedade civil, já que os pastores costumam ostentar riquezas pessoais. Ainda assim, a Igreja Universal responde a seis processos no CARF por não honrar suas obrigações fiscais. 

No começo deste mês, a Igreja Universal foi proibida de atuar em Angola, onde o governo local acusa os pastores brasileiros da igreja de forçar operações de vasectomia em líderes religiosos do país e de desviar a contribuição dos fiéis. A IURD diz que é "perseguida" no país africano.

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