Os ciclos de alta das criptomoedas são marcados pelo surgimento de novos setores que apresentam inovações tecnológicas e trazem novos casos de uso para os usuários finais.

Em relatórios divulgados recentemente pela Binance Research, dois setores despontam como candidatos a preencher essa lacuna no atual mercado de alta: ciências descentralizadas (DeSci) e aplicações que integram inteligência artificial (IA) às finanças descentralizadas (DeFi).

Em um ciclo em que as inovações têm sido ofuscadas pela especulação pura e simples por meio das memecoins, a ascensão de narrativas que não apenas multipliquem capital, mas também oferecem valor estratégico, ampliam as oportunidades de mercado para investidores focados em fundamentos.

Se em 2020, os protocolos de DeFi introduziram novas formas de interação on-chain, desbloquearam valor e promoveram novas aplicações, expandindo o alcance e a das criptomoedas, em 2025 a integração com IA promete facilitar o acesso ao ecossistema de DeFi por meio de comandos em linguagem natural que abstraem suas complexidades inerentes.

Os protocolos de ciências descentralizadas, por sua vez, visam revolucionar a pesquisa científica por meio de novas formas de financiamento e coordenação, permitindo que as diferentes partes envolvidas no processo alinhem seus interesses de forma mais ágil e eficiente.

DeFAI

A integração de ferramentas de IA em DeFi elimina três barreiras fundamentais a uma adoção mais ampla de operações on-chain como staking, yield farming, prover liquidez em exchanges descentralizadas (DEX), entre outras, de acordo com um boletim publicado pela Binance.

A primeira e mais importante é simplificar processos complexos. “No contexto das criptomoedas, isso significa ocultar operações complexas, como bridging e staking, por trás de interfaces intuitivas e perfeitas", afirma a Binance:

"Ao lidar com as operações on-chain em segundo plano, a IA elimina a necessidade de um conhecimento técnico extenso, aprimorando a experiência em DeFi tanto para iniciantes quanto para traders experientes.”

Protocolos como o Griffain (GRIFFAIN), baseado na Solana (SOL), permitem que os usuários executem operações, mintem NFTs (tokens não fungíveis) e gerenciem carteiras por meio de comandos simples de linguagem natural.

O relatório menciona também o HeyAnon (ANON), que é integrado ao protocolo de comunicação Layer Zero (ZRO) para facilitar operações de transferências de fundos entre diferentes blockchains. O HeyAnon também permite a criação de operações automatizadas com base em preço das taxas de gás, cotação e timing do mercado, “tornando ainda mais fácil para os usuários navegar em operações complexas de DeFi com o mínimo esforço.”

A integração com IA também aumenta a segurança em operações de DeFi ao minimizar falhas humanas e vulnerabilidades a explorações, segundo o boletim:

“DeFAI pode reduzir significativamente esses riscos ao automatizar a validação de endereços, garantindo que as transações sejam sempre enviadas para o destino correto. Ao lidar com os aspectos técnicos em segundo plano, DeFAI reduz significativamente as chances de falha humana, permitindo que os usuários se concentrem nos elementos estratégicos de suas interações DeFi sem se preocupar com erros técnicos.”

À medida que se tornam mais sofisticados, os protocolos DeFAI vão ajudar os usuários a tomarem as melhores decisões com base em suas estratégias de investimento. Algumas aplicações são capazes de agregar dados de várias plataformas, oferecendo insights sobre tendências de mercado, desempenho de tokens e sentimento social.

Segundo o boletim, “o agente da Anon consolida métricas on-chain (como valor total bloqueado e volume) e dados off-chain (como o sentimento dos usuários do X e do Telegram) para fornecer insights e alertas personalizados” para os usuários.

Atualmente, o setor de DeFAI soma apenas US$ 1,6 bilhão em capitalização de mercado, com um total de 73 projetos ativos, segundo dados do CoinGecko.

DeSci

Os protocolos do setor emergente de ciências descentralizadas almejam utilizar os recursos da Web3 para criar um novo modelo de pesquisa científica. Segundo um relatório da Binance Research, a tecnologia blockchain oferece “uma maneira confiável de coordenar o financiamento e, ao mesmo tempo, garantir uma maneira transparente e imutável de rastrear e registrar o progresso” dos estudos.

As inovações de DeSci se dão em quatro níveis fundamentais: infraestrutura, pesquisa, serviços de dados e potencial memético.

No nível de infraestrutura, há plataformas de financiamento para levantamento de recursos e organizações autônomas descentralizadas (DAOs) responsáveis pela coordenação do trabalho científico.

O relatório cita a DeSci DAO, que levanta e gerencia recursos para pesquisas específicas e o pump.science para testar e validar compostos medicinais de forma transparente.

Projetos focados em pesquisa científica reúnem especialistas de diversas áreas e instituições em prol de objetivos comuns, como por exemplo aumento da longevidade humana (VitaDAO), tratamentos contra a calvície (HairDAO) e criogenia (CryoDAO).

Os serviços de dados são plataformas alternativas para publicação e revisão de artigos científicos, e gerenciamento de dados, garantindo a integridade das fontes e os controles de acesso adequados ao mesmo tempo em que garantem maior agilidade na divulgação dos desdobramentos das pesquisas em curso.

“Um exemplo é o ResearchHub, no qual os pesquisadores podem ganhar recompensas por revisarem artigos revisados ou colaborarem com outros pesquisadores", diz o relatório. “As contribuições ativas para a comunidade científica podem ser registradas on-chain, criando uma reputação para os cientistas e desbloqueando recursos como moderação e controle de acesso.”

Por fim, os memes são uma ferramenta para atrair o interesse dos cidadãos comuns a um ambiente tradicionalmente fechado. “Algumas memecoins podem contribuir diretamente para o financiamento de experimentos científicos, enquanto outros servem como veículos de investimento direto em projetos DeSci", afirma o relatório.

Embora enfrente obstáculos regulatórios e ainda não sejam utilizados para pesquisas clínicas – e sim para estudos mais simples – DeSci tem potencial para “impactar positivamente a forma como as pesquisas científicas são conduzidas atualmente", conclui o relatório.

A capitalização total de mercado de DeSci é de US$ 1 bilhão, atualmente, com um total de 67 projetos ativos, de acordo com dados da CoinGecko.