Resumo da notícia
Bahia atrai US$ 200 milhões em projeto de mineração de Bitcoin com energia eólica.
Excedente de energia limpa transforma o estado em polo estratégico para cripto.
Empresas globais como Tether, Enegix e Bitmain negociam operações na região.
A Bahia caminha para se tornar o principal polo de mineração de Bitcoin no Brasil, atraindo empresas estrangeiras e nacionais interessadas no uso de energia renovável. O movimento ocorre em um cenário de excesso de oferta de eletricidade limpa no país, que custou às companhias do setor quase US$ 1 bilhão nos últimos dois anos.
Agora, a mineração surge como uma solução para transformar esse excedente em negócio rentável.
A fornecedora de energia Renova confirmou para a Reuters que tem um projeto de US$ 200 milhões para um cliente ainda não divulgado, localizado no estado da Bahia. O empreendimento prevê 100 megawatts de capacidade instalada, distribuídos em seis data centers alimentados por um parque eólico.
O CEO da companhia, Sérgio Brasil, afirmou que a estratégia é expandir a atuação da empresa e oferecer infraestrutura completa para mineradores de criptomoedas.
Diferente de outros países, onde a mineração de Bitcoin sobrecarrega as redes elétricas, o Brasil enfrenta a situação oposta. O avanço acelerado da energia eólica e solar, incentivado por políticas públicas, superou a capacidade de transmissão, levando muitas usinas a desperdiçarem até 70% da produção.
Assim, mineradores enxergam no Brasil um ambiente ideal para operações sustentáveis, já que podem ajustar sua atividade conforme a disponibilidade da rede.
Mineração de Bitcoin no Brasil
Empresas como Tether, que já havia anunciado investimentos no setor, agora abrem espaço para outras companhias de médio e grande porte negociarem contratos. Entre os projetos em análise, há iniciativas que podem chegar a 400 MW de capacidade, o que consolidaria o país entre os maiores polos da América Latina.
O movimento desperta atenção global. A Enegix, mineradora do Cazaquistão, confirmou que avalia projetos no nordeste brasileiro, incluindo data centers móveis conectados diretamente a usinas solares e eólicas.
A Penguin, sediada no Paraguai, também confirmou negociações, embora não tenha revelado detalhes. Já a chinesa Bitmain, uma das maiores fabricantes de equipamentos de mineração, estuda oportunidades com parceiros locais.
Para os advogados que acompanham essas transações, fornecedores de energia tratam mineradores como “diamantes”, pela capacidade de absorver grandes volumes de produção ociosa.
A avaliação é compartilhada por companhias de peso como Casa dos Ventos, Atlas Renewable Energy, Engie Brasil e Auren Energia, que analisam formas de monetizar energia não utilizada.
Projetos pilotos e futuro regulatório
Além dos investidores privados, a própria Eletrobras iniciou um projeto piloto na Bahia. A iniciativa envolve a instalação de máquinas ASIC conectadas a uma microrrede com turbina eólica, painéis solares e baterias. Segundo Juliano Dantas, vice-presidente de inovação da empresa, a ideia é compreender de perto o funcionamento do setor e preparar o terreno para oportunidades no mercado de data centers.
Contudo, ainda existem desafios. A falta de regulamentação específica para mineração de criptomoedas no Brasil gera incertezas, e há preocupações quanto ao uso de água em regiões marcadas por estiagens. Além disso, obstáculos de infraestrutura tornam complexa a implementação de projetos em larga escala.
Mesmo com essas dificuldades, executivos afirmam que o país possui um potencial energético único, capaz de atrair grandes investimentos. Para Bruno Vaccotti, da Penguin, o processo de implantação ainda exige esforço, mas a escala de energia limpa disponível torna o Brasil atraente para o setor.