Resumo da notícia
Crescimento dos ETFs no Brasil indica amadurecimento do investidor local.
Estudo destaca cinco fatores internacionais que podem acelerar a adoção nacional.
B3 amplia diversidade de produtos, incluindo ETFs de criptoativos e modelos híbridos.
Os ETFs, fundos de índices listados em bolsa, vêm crescendo na preferência dos investidores brasileiros e podem contribuir significativamente não apenas para a diversificação de carteiras, mas para o desenvolvimento do mercado de capitais do país.
“Este é um produto que representa uma transformação estrutural, por oferecer acesso a produtos sofisticados com baixo custo, liquidez e transparência. O patrimônio dessa indústria chegou a R$ 75 bilhões e, somente neste ano, tivemos 53 lançamentos de ETFs na B3. Significa dizer que praticamente toda semana as gestoras estão conosco na bolsa, listando um novo ativo que pode ser negociado por todos os tipos de investidores”, afirma Luiz Masagão, vice-presidente de Produtos e Clientes da B3.
O número de pessoas físicas investindo no produto passou de 42 mil para 666 mil nos últimos sete anos. Cerca de 10% dos investidores brasileiros têm ao menos um ETF na carteira, mas esse número está bem abaixo de outros mercados, como os Estados Unidos, onde 50% das pessoas investem nesses fundos, e a Europa, onde esse patamar é de 20%. Recentemente, o número de ETFs listados nos EUA (cerca de 4.000) superou o de ações. No Brasil, há 162 ETFs listados, entre ETFs de Bitcoin e criptomoedas, e ETFs vinculados a ativos do mercado tradicional.
O olhar para esses exemplos internacionais mostra não apenas o potencial do produto, mas caminhos para seu crescimento no Brasil. Um estudo da B3, conduzido de forma independente durante participação no IFC-Milken Institute Capital Markets Program na Georgetown University, analisou esses benchmarks e mapeou cinco fatores principais que ajudaram a impulsionar a adesão de pessoas físicas aos ETFs no mundo.
1) Cultura de investimento em longo prazo
Nos EUA, 77% dos investidores de ETFs visam ganhos para a aposentadoria, e o histórico de taxas de juros mais baixas favorece o uso de ETFs de ativos de renda variável para acumulação de longo prazo.
No Brasil, em que as condições macroeconômicas são diferentes das norte-americanas, os ETFs de renda fixa e de criptoativos vem ganhando espaço. Além de estimular a listagem constante de ETFs de várias classes de ativos, ampliando as opções para diversificação, a B3 também facilita o acesso a dados de performance e comparativos para auxiliar a análise e escolha dos investidores.
A bolsa do Brasil disponibiliza, no site Bora Investir, um comparador completo de ETFs, incluindo opções locais e globais, os BDRs de ETFs, que acompanham o desempenho de índices listados em bolsas estrangeiras.
2) Incentivos a assessores e corretoras
O modelo fee-based, em que os assessores de investimento são remunerados com uma taxa fixa, em vez de receber comissões por produtos financeiros (modelo chamado de commission-based, mais comum no Brasil), incentiva a promoção de ETFs. No mercado norte-americano, cerca de 70% dos profissionais recomendam o produto aos seus clientes.
Em 2023, 71% da receita dos assessores nos EUA veio do fee-based – a projeção é que chegue a 76% em 2025. Entre os motivos que levaram à transição do commission-based para essa modalidade estão a possibilidade de auferir receitas mais estáveis, periódicas e previsíveis; a mudança na dinâmica de relacionamento, com maior alinhamento aos interesses e objetivos do cliente; e um diferencial competitivo no serviço de assessoria.
Nos EUA, o prazo médio entre o início da migração para o fee-based em uma assessoria de investimento e sua consolidação para os clientes levou cerca de seis anos. Nesse processo, três recomendações principais foram adotadas:
Planejar: analisar a carteira dos clientes e projetar impactos em receita e retorno no curto, médio e longo prazo;
Comunicar: explicar a diferença entre os modelos para os clientes;
Migrar: iniciar a migração com um segmento de clientes específicos, de forma gradual, para identificar oportunidades.
No Brasil, a resolução 179 da CVM deve ampliar a transparência sobre a remuneração dos assessores e estimular uma transição para maior adoção do modelo fee-based.
3) Experiência do usuário
Nos EUA e na Europa, a tecnologia das corretoras tem auxiliado na montagem de carteiras diversificadas pelos investidores, com duas diferentes estratégias: “Model Portfolio” e “ETF Savings Plan”.
No “Model Portfolio”, um algoritmo sugere um portfólio de ETFs com base nas respostas do investidor sobre seus ganhos anuais, quanto já tem investido, experiência, objetivos, tolerância a riscos e a necessidade de precisar do dinheiro. A recomendação e o aporte são feitos uma única vez, em uma carteira sugerida no aplicativo da corretora com pesos distribuídos entre renda fixa americana, ações americanas, mercados desenvolvidos e emergentes. As corretoras têm utilizado esse modelo para incentivar investidores iniciantes – inclusive aqueles que baixavam o aplicativo da empresa, mas não faziam nenhum investimento – a dar os primeiros passos no mercado.
No “ETF Savings Plan”, o portfólio é escolhido pelo próprio investidor, com foco no longo prazo. Os aportes, nesse modelo, são mensais e automáticos. Na Europa, o valor médio desses aportes mensais é de 136 euros.
O “Savings Plan” vem ajudando a levar várias pessoas físicas do continente a investir em ETFs. O produto é oferecido por mais de 40 corretoras. Em 2024, havia 10,8 milhões de planos ativos (88% deles na Alemanha), com um volume financeiro de 17,6 bilhões de euros. A expectativa é que, em 2028, haja 32 milhões de planos ativos, com volume de 64,3 bilhões de euros.
4) Diversidade e promoção de ETFs
Em outros mercados, os ETFs são conhecidos pela maioria dos investidores devido à ampla promoção. Eles estão presentes no dia a dia das pessoas, com anúncios no transporte público, aeroportos e eventos esportivos, e a diversidade de classes de ativos favorece a escolha dos investidores.
Em relação à modalidade, os ETFs ativos vêm ganhando destaque: em 2024, 77% das novas listagens de ETFs nos EUA foram de fundos de gestão ativa.
No Brasil, a B3 vem ampliando a diversificação da oferta, com classes de ativos que vão além dos índices de ações locais. A bolsa brasileira foi umas das primeiras do mundo a disponibilizar, em 2021, os ETFs de criptoativos, antes mesmo do mercado norte-americano.
No ano passado, a B3 viabilizou o lançamento de ETFs com distribuição de proventos e, neste ano, dos ETFs híbridos, que combinam elementos de renda fixa e de renda variável. Ainda não existem ETFs ativos no país, mas essa expansão vem sendo discutida entre o mercado e o regulador.
5) Neutralidade tributária
Nos mercados mais maduros, investir em ETFs ou diretamente nos ativos que os compõem têm basicamente o mesmo efeito tributário, o que facilita o processo de escolha. No Brasil, a harmonização da tributação dos ETFs de renda variável está em discussão, mas, no momento, há uma variedade de regras que precisam ser levadas em conta pelo investidor.
Os ETFs de renda variável, por exemplo, são tributados em relação a ganhos de capital e dividendos, independentemente do valor negociado. Outros ativos de renda variável, como ações, têm isenção nas vendas de até R$ 20 mil por mês, e os dividendos são isentos para pessoas físicas.
Já os ETF de renda fixa, no Brasil, oferecem vantagens em relação ao investimento direto em produtos de captação bancária (como CDBs) e fundos de renda fixa. Eles são tributados pelo prazo médio dos ativos que o compõem (com alíquotas regressivas entre 25% e 15%), e não há cobrança de IOF, enquanto os títulos são tributados pelo prazo de aplicação (também de forma regressiva, de 22% a 15%) e têm incidência do Imposto sobre Operações Financeiras nos primeiros 30 dias. E, diferentemente dos fundos de renda fixa, não há come-cotas nos ETFs.
“Os ETFs podem revolucionar o mercado de investimentos por sua simplicidade e possibilidades de diversificação, permitindo que as pessoas físicas experimentem uma infinidade de classes de ativos com poucos cliques no home broker da corretora. A indústria de ETFs no Brasil tem apenas 21 anos. Tivemos bastante evolução nesse período, mas ainda há um potencial enorme para o desenvolvimento desse produto”, completa Luiz Masagão.