Nas primeiras horas da madrugada de quinta-feira, 15, deverá ocorrer a aguardada atualização da Ethereum (ETH) que vai concluir a transição da rede de um modelo de consenso baseado em Prova-de-Trabalho (PoW) para um algoritmo de validação de blocos baseado em Prova-de-Participação (PoS).

Embora espere-se que o The Merge ocorra conforme o planejado, sem grandes problemos técnicos e operacionais, é prudente evitar o uso da rede nos instantes imediatamente anteriores e posteriores à atualização, afirmou Solange Gueiros, desenvolvedora brasileira vinculada ao Chainlink Labs, startup responsável pelo principal oráculo da rede líder de contratos inteligentes, em participação no Cripto+ da última segunda-feira, 12.

Os desenvolvedores da Ethereum Foundation vêm trabalhando para que a atualização não afete os usuários. Assim, se tudo correr bem, ela será imperceptível, mas Gueiros questiona se é válido correr o risco:

"Depende do quanto você gosta de viver perigosamente – e de qual o montante que você pretende transacionar. Se eu tivesse um valor muito grande para transacionar exatamente ali [no instante da atualização], eu faria um pouco antes ou depois. Temos que ser responsáveis e tomar nossos próprios cuidados."

Portanto, usuários que queiram acompanhar ou até testar a eficiência da rede durante o The Merge devem estar alertas e cientes dos riscos que estão correndo. É impossível prever o exato instante em que a atualização ocorrerá. 

O gatilho para o The Merge será disparado pelo TTD (“Terminal Total Difficulty”), que mede o total de trabalho realizado pelos mineradores na rede. Assim que o TDD atingir um valor pré-determinado, os mineradores serão desligados, e o sinal de transição será enviado para a Beacon-Chain (camada de consenso que já está rodando sob o mecanismo de Prova-de-Participação desde dezembro de 2020) assuma o comando da rede e passe a produzir os próximos blocos já como a Ethereum 2.0.

O TTD de valor 58750000000000000000000 foi determinado pelos desenvolvedores da Ethereum para disparar o processo é , mas não é tão simples traduzir isso para um momento exato no tempo, visto que a validação de blocos e o trabalho aplicado na rede pelos mineradores não é constante, como ressalta Gueiros:

"Em média, os blocos são minerados a cada 15 ou 16 segundos. Mas pode acontecer de um bloco ser fechado (ou minerado, ou validado) e incluído na rede de forma um pouco mais rápida ou um pouco mais lenta."

De qualquer forma, estes cuidados são necessários apenas para usuários que venham a interagir diretamente com a rede através de carteiras autocustodiais de aplicativos descentralizados (DApps).

Exchanges e plataformas de negociação de criptomoedas vão interromper os serviços de saques e depósitos na Ethereum e em soluções de camada 2 da rede, como Arbitrum e Optimism (OP), de forma a evitar quaisquer possíveis problemas decorrentes da atualização. Algumas devem inclusive manter operantes os serviços de compra e venda de Ether, uma vez que seus sistemas não dependem de interação direta com a rede.

The Merge

O The Merge consta do roadmap da Ethereum desde 2018, mas houve inúmeros atrasos até que o evento fosse finalmente agendado para ocorrer em setembro deste ano. O grande desafio técnico dos desenvolvedores da Ethereum foi fazer essa transição em um protocolo descentralizado em plena operação, com bilhões de dólares em valor bloqueado e inúmeros DApps (aplicativos descentralizados) em operação.

A solução encontrada pela comunidade foi criar uma rede paralela à original. A Beacon Chain entrou em operação em dezembro de 2020, funcionando sob o algoritmo de Prova-de-Participação. Assim, os desenvolvedores puderam realizar os testes e fazer as implementações necessárias sem alterar ou colocar em risco a rede principal.

O The Merge é o momento no qual as duas redes até então paralelas vão convergir. Todo o histórico de transações da rede principal vai continuar existindo, e o mecanismo de consenso vai ser atualizado. Para os usuários comuns ou os detentores de ETH, não há nada que precise ser feito. Se tudo correr conforme o planejado, espera-se que a mudança aconteça de forma fluida e imperceptível. 

Em linhas gerais, a partir da implementação do The Merge, o mecanismo que permite que as entidades da rede estejam permanentemente de acordo com o estado da Ethereum deixará de depender dos mineradores e a produção de blocos ficará a cargo dos validadores, usuários tecnicamente qualificados e que dispõem de um mínimo de 32 ETH (aproximadamente US$ 54.000 na cotação de hoje) para manter em staking.

Além de reduzir em mais de 99% o consumo de energia da rede imediatamente, no longo prazo o The Merge tem o objetivo de habilitar recursos que favoreçam o aumento da escalabilidade da rede.

Conforme noticiou o Cointelegraph Brasil, eventuais hard forks da Ethereum podem abrir brechas para que agentes maliciosos manipulem o mercado de NFTs (tokens não fungíveis).

LEIA MAIS