À medida que a Argentina enfrenta a disparada da inflação e uma corrida contra o peso que derrubou os preços dos ativos domésticos, os Estados Unidos intervieram com a promessa de uma tábua de salvação financeira, embora os defensores do Bitcoin permaneçam céticos de que isso fará diferença.
O peso caiu cerca de 4,5% na semana passada, à medida que os investidores questionaram a capacidade do presidente Javier Milei de entregar reformas fiscais e estruturais após o fraco desempenho de seu partido nas eleições provinciais de Buenos Aires no início deste mês. A pressão vendedora foi agravada por uma investigação de corrupção envolvendo um familiar de Milei, aprofundando a incerteza política.
A apreensão dos investidores desencadeou fortes saídas dos mercados argentinos. O banco central foi forçado a gastar cerca de US$ 1,1 bilhão em três dias para defender o peso, uma soma elevada considerando que o país possui apenas cerca de US$ 20 bilhões em reservas estrangeiras líquidas, segundo a Bloomberg.
Os preços dos títulos argentinos em dólar também despencaram em meio a preocupações de que o governo de Milei estivesse queimando caixa em um ritmo insustentável.
Em meio à turbulência, o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, disse na segunda-feira que Washington considera a Argentina “um aliado sistemicamente importante” na América Latina, declarando que “todas as opções de estabilização estão sobre a mesa”.
As medidas em discussão incluem linhas de swap, compras diretas de moeda e o uso do Exchange Stabilization Fund do Tesouro para adquirir dívida do governo argentino, disse Bessent.
As declarações de Bessent pareceram restaurar brevemente a confiança dos investidores. De acordo com o Financial Times, o índice Merval da Argentina disparou mais de 9% em dólares na segunda-feira, embora ainda acumule queda de cerca de 49% no ano. Os títulos em dólar também tiveram forte recuperação.
Controvérsias, no entanto, têm acompanhado Milei durante sua presidência. Como o Cointelegraph destacou, seu apoio ao LIBRA, um projeto de criptomoeda amplamente criticado como um esquema de pump-and-dump, desencadeou uma investigação federal, embora Milei posteriormente tenha desfeito a força-tarefa designada para o caso.
Crítica contundente do autor de The Bitcoin Standard
Como presidente, Milei tem enfrentado dificuldades para colocar as finanças da Argentina em ordem. O economista Saifedean Ammous, autor de The Bitcoin Standard, argumentou que Milei na verdade piorou a situação do país com o que chamou de um “esquema Ponzi de dívida e inflação que está chegando ao fim”.
Ammous criticou Milei por não conter a inflação, observando que o Tesouro conseguiu vender sua mais recente emissão de títulos apenas após elevar as taxas de juros anuais para 88%. Ele também acusou o governo de expandir maciçamente a oferta monetária, apesar da retórica libertária de Milei.
Na sexta-feira, Ammous reforçou suas críticas, apontando para o colapso do peso desde que Milei assumiu.
Adoção de cripto na Argentina acelera em meio a pressões econômicas e políticas
Embora o peso opere dentro de uma faixa de câmbio administrada, com o dólar variando entre 948 e 1.475, a incerteza eleitoral está levando os argentinos a buscar refúgio em alternativas mais fortes, particularmente stablecoins lastreadas em dólar.
“A incerteza eleitoral está levando os argentinos a buscar refúgio em moedas mais fortes do que o peso, como o cripto dólar”, disse Ignacio Gimenez, gerente de negócios da Lemon, um app de negociação de cripto, ao Cointelegraph.
Gimenez observou que o dia 14 de setembro marcou o maior volume diário de compras de stablecoins da plataforma desde 2024.
“De meados de agosto até hoje, quando o dólar começou a subir, notamos uma predominância de vendas de stablecoins sobre compras, exceto no pico eleitoral. Isso mostra que, com um dólar mais alto, muitos argentinos hoje preferem vender e obter pesos”, afirmou.
Questionado sobre as reformas econômicas de Milei e seu impacto na adoção de cripto, Gimenez disse que o ajuste fiscal do governo está em andamento e que ainda é cedo para avaliar os resultados. O que permanece claro, no entanto, é que “os argentinos continuam recorrendo às stablecoins como uma proteção em tempo real contra a incerteza política e econômica que caracteriza nosso país”.
As stablecoins na Argentina não são usadas apenas como proteção contra a desvalorização da moeda, mas também para pagamentos internacionais, remessas e acesso à DeFi.
O Bitcoin (BTC) também tem ganhado força como reserva de valor. Desde 2024, quando a estabilidade cambial e a queda da inflação começaram a se consolidar, o Bitcoin se tornou, em alguns casos, mais atraente do que o dólar. “Atualmente, há mais argentinos com Bitcoin do que com cripto dólares na Lemon”, destacou Gimenez.