O Bitcoin (BTC) fechou a vela semanal no domingo, 20, registrando uma desvalorização de 0,3%. Embora tenha se mostrado resiliente diante dos mais recentes desdobramentos do colapso da FTX, a maior criptomoeda do mercado renovou seu pior fechamento semanal em dois anos e, a princípio, os touros parecem não ter força neste momento para conter novas quedas de preço.

Especialmente diante das incertezas sobre o estado das finanças da Genesis Global e de sua controladora, o Digital Currency Group (DCG), conforme destacou o analista e fundador da Crypto Investidor, Diego Consimo, em uma avaliação da situação atual do mercado exclusiva para o Cointelegraph Brasil:

"Infelizmente o efeito cascata da FTX, que por si só já era poderoso, pode ser maior do que éramos capazes de imaginar e está atingindo até mesmo empresas  cripto de reputação até então inquestionável. A Genesis Trading está enfrentando uma crise de liquidez e fala-se que ela necessita de US$ 1 bilhão para honrar seus compromissos com os clientes. Em caso de confirmação desta crise, resultando até mesmo em um novo pedido de falência, o impacto seria enorme e os prejuízos para a indústria como um todo, incalculáveis."

Até mesmo o maior veículo de investimento institucional em Bitcoin do mercado, o Grayscale Bitcoin Trust (GBTC), poderia estar sob risco, segundo rumores que ganharam força neste fim de semana.

As dúvidas sobre o GBTC começaram a surgir porque a Genesis, que atua como provedora de liquidez do GBTC, anunciou em 16 de novembro que interrompeu as retiradas de seus clientes, citando “turbulência sem precedentes no mercado”, resultando em retiradas significativas de sua plataforma que excederam as reservas de liquidez  momentaneamente disponíveis.

Próximos alvos de baixa do preço do BTC

Segundo Consimo, o Bitcoin está na iminência de buscar novos alvos de baixa na região em US$ 13.800 e, posteriormente, em US$ 12.000, independentemente do futuro do DCG, pois o pessimismo é o sentimento dominante no mercado.

Além disso, a flâmula de baixa em destaque no gráfico diário do par BTC/USD apresentado abaixo aponta que a tendência de curto prazo é que o preço do BTC consolide estas novas mínimas nos próximos dias.

Gráfico diário BTC/USDT (Binance) com destaque para flâmula de baixa. Fonte: Crypto Investidor

Segundo Consimo, em termos estritamente técnicos seria razoável supor que o fundo de preço do BTC no atual ciclo de baixa viesse a se consolidar nesta faixa entre US$ 12.000 e US$ 14.000. No entanto, diante dos acontecimentos recentes, é impossível prever o quanto o Bitcoin ainda pode desvalorizar e qual seria o seu suporte derradeiro, diz o analista:

"Prever o fundo do Bitcoin é algo complicado nesse momento. Segundo a análise técnica, o fundo estaria na região de U$14.000 a U$12.000, mas, agora, tudo vai depender do efeito cascata da quebra da FTX. Quantas empresas foram impactadas? Quantas ainda irão decretar falência de fato? Vamos ter um novo colapso nos preços das criptomoedas? Por enquanto, todas estas são perguntas que ninguém tem condições de responder com precisão. Se o tamanho do problema for enorme, podemos ter um despejo jamais visto."

Alívio no cenário macroeconômico

A mais nova crise de proporções épicas a se abater sobre o mercado de criptomoedas em 2022 chegou justamente em um momento em que as condições macroeconômicas que exerceram forte pressão negativa sobre os ativos de risco ao longo do ano dão sinais de arrefecimento.

O Índice S&P 500 e o Índice Nasdaq acumulam altas de 5% e de 1,7% nos últimos 30 dias. Em comparação, o Bitcoin caiu 16% no mesmo período. Nem mesmo o recuo do índice do dólar (DXY) de 113 para 107 pontos foi capaz de influenciar positivamente a ação de preço do BTC.

Historicamente, o preço do BTC e o DXY demonstram ter uma correlação inversa, portanto o enfraquecimento do dólar poderia ter se configurado como um fator adicional para um melhor desempenho do Bitcoin.

Na próxima quarta-feira, 23, um indicador importante da economia dos EUA será divulgado: o número de pedidos de seguro desemprego. Este é um dado importante para guiar a política monetária do Banco Central dos EUA (Fed) que visa equalizar as condições do mercado de trabalho com o controle da inflação

O aumento no número de pedidos de seguro desemprego pode ser um indicador de retração do mercado de trabalho, que por sua vez pode diminuir a pressão por novos aumentos das taxas de juros da economia norte-americana, algo que seria algo bastante positivo para os mercados financeiros.

Por outro lado, números acima das expectativas do Fed e dos mercados podem adicionar fatores adicionais de pressão vendedora sobre o já fragilizado BTC. Em resumo, notícias positivas tendem a ter um efeito neutro, dada a descorrelação momentânea do mercado de criptomoedas em relação ao cenário macroeconômico mais amplo. Notícias negativas, no entanto, tendem a potencializar a atual tendência de baixa do preço do BTC.

Por isso, Consimo acha pouco provável que os touros do Bitcoin tenham força para recuperar o terreno perdido recentemente:

"Um cenário otimista, mas pouco provável, seria uma recuperação em V em caso de rompimento da atual resistência em US$ 17.200 com alvos entre US$ 18.200 a US$ 20.000 a seguir, conforme ilustrado no gráfico abaixo. Como o mais provável é termos mais notícias ruins a qualquer momento por conta do contágio da FTX, acho bem pouco provável a materialização desse cenário."

Gráfico semanal anotado BTC/USDT (Binance). Fonte: Crypto Investidor

Por fim, o colapso da FTX desencadeou um aumento no volume negociado de Bitcoin, como se pode ver no gráfico acima. Historicamente, disparadas no volume de negociação no mercado à vista desencadearam períodos de alta volatilidade, tanto para baixo quanto para cima, como destacou o perfil pseudônimo do Twitter Game of Trades em uma postagem publicada no sábado, 19.

 

Grandes picos de volume marcaram historicamente pontos de inflexão para o Bitcoin

Na semana passada, vimos o maior volume já visto no gráfico semanal

— Game of Trades (@GameofTrades_)

Se o comportamento do Bitcoin nas primeiras horas de negociação desta segunda-feira, 21, servem de parâmetro, a visita aos níveis previstos por Consimo pode já ter começado.

O par BTC/USD opera em baixa de 2,7% nas últimas 24 horas, e está cotado a US$ 16.122 no início da tarde desta segunda-feira, de acordo com dados do CoinMarketCap.

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