Jonathan Levin, CEO da Chainalysis, revelou durante uma entrevista exclusiva ao Cointelegraph, que a empresa está de olho nos desenvolvimentos do Drex e da CBDC do Banco Central do BrasilEm visita a Brasília no ano passado, executivos da Chainalysis se reuniram com representantes do Banco Central para acompanhar os avanços no Drex.

Além do Brasil, a Chainalysis acompanha projetos de moedas digitais de bancos centrais (CBDCs) ao redor do mundo. No entanto, o CEO acredita que poucos países têm a capacidade de implementar com sucesso um sistema como o Drex. O Brasil, com sua expertise no PIX e infraestrutura bancária avançada, desponta como um dos mais preparados, segundo ele.

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    "Na realidade a maior parte do mundo não vai implementar um CBDC, porque não tem capacidade para o fazer e por isso o Brasil é um dos poucos países que penso que existe a possibilidade de ter um CBDC", disse.

    A empresa, que já trabalha com mais de 350 agências governamentais ao redor do mundo, enxerga o Brasil como um mercado estratégico.

    O Drex, projeto de moeda digital do Banco Central, promete revolucionar o sistema financeiro nacional. Com a experiência da Chainalysis em análise de transações e combate a fraudes, a empresa quer oferecer suporte na segurança e transparência das operações.

    Segundo a empresa, o Brasil já se destaca com o PIX, um dos sistemas de pagamentos instantâneos mais eficientes do mundo. O avanço para o Drex representa um passo natural na digitalização financeira.

    O crescimento do setor cripto no Brasil também impulsiona essa aproximação. O país enfrenta desafios como golpes financeiros e esquemas de pirâmide, especialmente no setor de criptomoedas. O CEO da Chainalysis destacou que a empresa investe cada vez mais em tecnologia para identificar transações suspeitas e prevenir crimes financeiros.

    A empresa já adquiriu startups especializadas em detecção de fraudes, como a Altaria, e firmou parcerias com o setor de cibersegurança para aprimorar a rastreabilidade de ativos digitais. A expectativa é que esse conhecimento seja aplicado também na estrutura do Drex, garantindo um ecossistema seguro e eficiente.

    Confira a entrevista completa concedida durante a Plan B Conference, organizada com apoio da SmartPay e Truther.

    CBDCs e golpes

    Cointelegraph Brasil (CTBR): Você acredita que o crescimento do uso de CBDCs os golpes também vão aumentar?

    Jonathan Levin (JL): Do nosso ponto de vista, os pagamentos estão se tornando cada vez mais rápidos. A criptomoeda é uma versão disso, e o PIX é outra excelente versão — eu adoro o PIX, e praticamente todo mundo usa. No Brasil, a taxa de penetração do PIX é extremamente alta em pagamentos interpessoais, pontos de venda e até mesmo alguns pagamentos governamentais, o que é fantástico.

    Entretanto, qualquer sistema de pagamento em tempo real enfrenta um grande desafio em relação a fraudes. Embora o sistema de pagamento em si seja muito seguro, quando alguém é induzido a enviar dinheiro para a pessoa errada, a rapidez do sistema dificulta a recuperação dos fundos.

    Por isso, é crucial haver uma inteligência de ameaças robusta para monitorar como golpistas utilizam não apenas criptomoedas, mas também todos os tipos de pagamentos em tempo real. Na Chainalysis, estamos planejando trabalhar com plataformas de Moeda Digital de Banco Central (CBDC), pois isso está crescendo globalmente, ainda que não tanto nos EUA, mas em outras partes do mundo.

    CTBR: Por falar em CBDC, vocês estão colaborando com o Banco Central do Brasil no Drex?

    JL: Estive em Brasília no ano passado e tenho acompanhado de perto o projeto de CBDC do Banco Central do Brasil. É empolgante ver um país com a capacidade de desenvolver um sistema de pagamentos tão eficiente como o PIX explorando novas possibilidades com moeda digital de banco central.

    Na realidade, a maioria dos países não implementará um CBDC, simplesmente porque não tem a capacidade técnica e estrutural para isso. O Brasil, no entanto, é um dos poucos países onde essa implementação parece viável. Talvez a China também consiga, mas não realizamos negócios nesse mercado.

    Trump e criptomoedas

    CTBR: O que você acha da ordem de Trump para as criptomoedas? Você acha que isso é bom para a indústria e para o crescimento dos criptoativos dentro e fora dos EUA?

    JL: A indústria cripto é global, e o cenário dos EUA tem se diferenciado do internacional. Nos últimos anos, uma forte postura regulatória nos EUA impediu muitas empresas de ingressar na criptoeconomia e lançar produtos tanto no mercado doméstico quanto no exterior. No entanto, à medida que os EUA adotam uma abordagem mais favorável às criptomoedas, espera-se um aumento significativo nos volumes de transações dentro do país.

    Essa mudança também criará novas oportunidades para empresas internacionais que negociam com companhias americanas, além de beneficiar negócios dos EUA que buscam expandir-se para mercados globais.

    O posicionamento do governo é claro: há um desejo de fomentar uma indústria cripto robusta dentro dos EUA, permitindo sua expansão para atender consumidores ao redor do mundo. Isso inclui o fornecimento de sistemas de pagamento para importação e exportação, serviços de remessas e outras soluções baseadas em criptomoedas.

    Agora, o foco estará na evolução da legislação e regulamentação nos próximos meses. Os sinais são promissores, especialmente com a derrubada de algumas regras restritivas, como o SAB 121, que anteriormente impedia instituições financeiras de custodiar criptoativos.

    CTBR: E como esse crescimento afeta o negócio de análise da Chainalysis?

    JL: A indústria cripto está crescendo não apenas em número de transações, mas também na diversidade de ativos que precisam ser analisados em blockchain. Com isso, o ecossistema está se tornando cada vez mais complexo, o que reforça a importância da análise on-chain. Somos a única empresa capaz de oferecer suporte dinâmico para todos os novos tokens lançados em diferentes blockchains, como Solana.

    Por essa razão, investimos significativamente em nossa plataforma de dados, garantindo a escalabilidade necessária para acompanhar a evolução e a diversificação das criptomoedas nesses diferentes ecossistemas. Dessa forma, nos beneficiamos tanto do aumento no volume de transações quanto da crescente complexidade do setor.

    Privacidade

    CTBR: Por falar em privacidade, qual é a dificuldade de obter informações de blockchains focadas na privacidade, como layers 2 do BTC (Lightning Network)?

    JL: Estamos muito satisfeitos por fazer parte da Plano B, pois isso destaca a importância tanto da análise on-chain quanto da privacidade. Ambos são aspectos essenciais para a indústria cripto.

    É fundamental que empresas de serviços financeiros ofereçam privacidade financeira a seus clientes, ao mesmo tempo em que é necessário impedir que criminosos utilizem essas plataformas para lavagem de dinheiro e outras atividades ilícitas. Essas duas necessidades são compatíveis e podem coexistir.

    No caso da Lightning Network, oferecemos exploradores que auxiliam nossos clientes na compreensão das transações dentro dessa rede, além de identificar atividades de risco. Dessa forma, a análise de cadeia também se torna um recurso valioso para essas integrações.

    Com relação aos canais privados da Lightning Network, o rastreamento não é tão simples quanto no Bitcoin, mas ainda é possível analisar certas aberturas e fechamentos de canais. Isso permite uma melhor compreensão dos fluxos financeiros dentro da Lightning Network.

    Crescimento do setor

    CTBR: A Chainalysis está no setor há bastante tempo. Há um crescimento dos governos procurando o setor para entender mais sobre criptomoedas ou os desenvolvimentos estão sendo realizados mais internamente?

    JL: Investimos muito tempo na educação sobre criptoinvestigações. Até o momento, treinamos mais de 20.000 pessoas para conduzir e compreender investigações no setor. Além disso, dedicamos esforços significativos para capacitar funcionários do governo, ensinando-os a rastrear e monitorar transações de criptomoedas.

    Por isso, muitas autoridades nos procuram para entender o que é tecnicamente possível e como devem abordar a regulamentação do setor. Atualmente, trabalhamos com mais de 350 agências governamentais em todo o mundo, ajudando-as a desenvolver abordagens eficazes para esse desafio. Com o tempo, nos especializamos na criação de programas que capacitam essas agências a lidar de forma mais eficiente com as ameaças no ambiente cripto.

    Temos mantido uma colaboração altamente bem-sucedida ao longo dos últimos 10 anos. Diariamente, nossos clientes do setor governamental e privado trabalham juntos em diversos casos para combater fraudes, lavagem de dinheiro, tráfico de drogas, hacks e outras ameaças no ecossistema cripto. Essa parceria continuará a se fortalecer.

    Além disso, desenvolvemos operações especiais para conectar nossos clientes do setor privado com órgãos governamentais no enfrentamento de ameaças específicas. Um exemplo é a Operação Spincaster, na qual reunimos exchanges e autoridades governamentais em uma sala, junto com a Chainalysis, para identificar golpes e fraudes em um determinado país. Essa iniciativa tem sido extremamente eficaz, gerando centenas e até milhares de pistas para investigações conjunta

    CTBR: E estas investigaçõe são pró-ativas, identificando casos antes deles acontecerem ou são reativas, apenas a partir de uma investigação mais ampla?

    JL:  Quando analisamos o papel do governo, percebemos que ele sempre estará um passo atrás dos acontecimentos, pois depende de reclamações dos consumidores para agir. Já na Chainalysis, nosso objetivo é atuar antes que os problemas ocorram.

    Por isso, em 2025, nosso grande foco será a prevenção da perda de fundos. Isso significa identificar golpistas antes que eles encontrem suas vítimas, impedindo fraudes antes mesmo de acontecerem.

    Além disso, do lado da segurança, adquirimos a empresa Hexagate, especializada no monitoramento de contratos inteligentes. Essa tecnologia permite que protocolos, carteiras, gestores de ativos e usuários de DeFi monitorem transações para evitar perdas decorrentes de ataques a contratos inteligentes e outras vulnerabilidades.

    Golpes e scans

    CTBR: A Chainalysis vê um crescimento dos golpes e das transações suspeitas com o crescimento do mercado ou não?

    JL: Sim, temos observado um aumento significativo de atividades fraudulentas, especialmente no Brasil, onde os esquemas Ponzi representam um grande problema. Além disso, há golpes cada vez maiores envolvendo criptomoedas e o sistema de pagamentos PIX, tornando consumidores alvos frequentes dessas fraudes. No entanto, esse não é um problema exclusivo do mercado cripto.

    Para enfrentar essa questão, adquirimos a empresa Alterya, especializada na análise de golpes. Com essa tecnologia, poderemos tornar o Brasil um ambiente mais seguro para os consumidores. Esse trabalho começará a ser implementado em 2025

    CTBR: A Chainalysis trabalha também com as empresas de segurança virtual como Kaspersky ou outras?

    JL: Sim, trabalhamos em estreita colaboração com diversas empresas de inteligência de ameaças. Elas utilizam nossa tecnologia para conduzir pesquisas, assim como nós as utilizamos para identificar atores criminosos, especialmente no ambiente de fraudes.

    Dedicamos muitos esforços para localizar lojas fraudulentas, onde golpistas adquirem materiais e ferramentas para enganar outras pessoas. Essa colaboração estreita com o setor de cibersegurança é fundamental para combater esse tipo de atividade ilícita.

    Ross Ulbricht

    CTBR: Falando em lojas fraudolentas e mercados ilícitos, qual você acredita que é a mensagem enviada por Donald Trump ao mundo ao soltar Ross Ulbricht, que operava o maior mercado de produtos ilícitos da DeepWeb naquele momento?

    JL: Nos EUA, há muitas considerações sobre o sistema de justiça e a correta aplicação da lei. Existe um princípio fundamental de que lavagem de dinheiro e envolvimento na distribuição de narcóticos continuam sendo crimes graves e altamente monitorados pelo governo. As autoridades policiais seguem comprometidas em processar esses casos, pois são preocupações centrais para o país.

    No entanto, também há o conceito de perdão presidencial, que está dentro das atribuições do presidente. Assim, embora o governo continue levando a sério crimes como tráfico de drogas e lavagem de dinheiro, o presidente tem o poder de conceder perdões individuais, conforme sua decisão.