Resumo da notícia
OKX quer transformar o Brasil em polo global das stablecoins
Novo cartão da exchange permite uso internacional sem IOF
Stablecoins podem superar o Bitcoin em valor de mercado, diz executiva
Conforme noticiou o Cointelegraph Brasil, a OKX escolheu o país como ponto de partida de sua estratégia global para integrar stablecoins aos pagamentos do dia a dia. A decisão, segundo Hong Fang, presidente da OKX, reflete o avanço do mercado local e o nível de confiança que a exchange conquistou no país.
Segundo Hong, o Brasil é hoje um dos mercados mais avançados do mundo em stablecoins, com cerca de 90% do volume de transações em criptoativos já denominadas em moedas estáveis. Ela destacou ainda que o Banco Central deve publicar até o fim de 2025 regras específicas para stablecoins, o que deve impulsionar tanto a demanda dos consumidores quanto a confiança regulatória.
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Ao ser questionada sobre o potencial de mercado, Hong afirmou que as stablecoins podem, em determinados momentos, ultrapassar o valor de mercado do Bitcoin, embora veja a principal criptomoeda como a reserva de valor definitiva. Ela comparou o papel das stablecoins a meios de pagamento digitais on-chain, enquanto o Bitcoin seria o “ouro digital”.
“Se pensarmos no Bitcoin como o ouro e nas stablecoins como os pagamentos digitais, é possível que elas o superem temporariamente em valor de mercado”, explicou. Ainda assim, para ela, o Bitcoin continua sendo o principal candidato a se tornar a camada global de reserva de valor no longo prazo.
Regulação e convivência com moedas locais
A executiva defendeu que stablecoins e moedas nacionais podem coexistir de forma saudável e complementar. Para Hong, o sistema financeiro brasileiro é maduro, digital e bem regulado — cenário ideal para que stablecoins reduzam custos, aumentem a inclusão financeira e promovam competitividade, sem enfraquecer o papel do real nem do Banco Central.
Ela também abordou críticas de que stablecoins seriam um “Cavalo de Troia do dólar” e ampliariam a influência dos Estados Unidos. Para Hong, a força do dólar digital está ligada à confiança e liquidez, e as stablecoins apenas tornam esses atributos mais acessíveis e sem fronteiras.
Confira a entrevista completa
OKX Brasil
Cointelegraph Brasil (CTBR): Por que a OKX escolheu o mercado brasileiro como ponto de partida para essa integração entre stablecoins e pagamentos do dia a dia?
Hong Fang (HF): Estamos operando no Brasil há quase dois anos. Nossa equipe local, liderada por Gui Sacamone, tem se concentrado em impulsionar a localização de nossos produtos — com bons resultados.
No Reclame Aqui, a versão brasileira do Trustpilot, a OKX é considerada a exchange global mais querida e está entre as três primeiras, mesmo competindo com plataformas de origem local. Temos muito orgulho da confiança que a comunidade local deposita em nós. Acreditamos que temos uma base sólida no Brasil.
Vemos o Brasil como um mercado estratégico: é um dos mais avançados do mundo em stablecoins, com mais de 90% do volume de transações em cripto já denominados nesse tipo de ativo. E com o Banco Central prestes a introduzir uma regulação clara até o fim de 2025, tanto a demanda dos consumidores quanto a supervisão do governo caminham na mesma direção.
À medida que evoluímos nosso produto para os brasileiros e fortalecemos o engajamento com a comunidade, nossa equipe tem coletado feedback dos usuários. Acreditamos que o OKX Card desperta o interesse da comunidade local.
Ele permite que qualquer brasileiro acesse, mova e use seus fundos dentro e fora do país, sem IOF. Gera rendimento em dólar e oferece controle total sobre os ativos em um ambiente de autocustódia — uma combinação entre inovação e casos de uso reais que esperamos que nossos clientes no Brasil adorem.
Stablecoins superar o Bitcoin
CTBR: O mercado de stablecoins pode crescer a ponto de superar o valor de mercado do Bitcoin? O que isso diria sobre a visão original do Bitcoin como sistema de pagamentos?
HF: Essa é uma pergunta muito interessante. É totalmente possível, mas deixe-me dar um pouco mais de contexto.
O valor de mercado do Bitcoin está em torno de US$ 2 trilhões hoje. O do ouro é de US$ 28 trilhões. O valor global das transações digitais foi de cerca de US$ 19 trilhões em 2024. Se pensarmos no Bitcoin como o “ouro digital” e nas stablecoins como os “pagamentos digitais on-chain”, então é possível que o mercado de stablecoins ultrapasse o do Bitcoin, conforme o uso como meio de pagamento cresce globalmente.
No entanto, alcançar o ouro talvez seja apenas o primeiro marco do Bitcoin. Como melhor reserva de valor em comparação com alternativas existentes, o Bitcoin é um candidato a ser a camada de reserva global. Ele pode competir com imóveis e ser adotado por mais países em suas reservas cambiais.
Assim, no longo prazo, acredito que o Bitcoin continuará dominando em valor de mercado. Mas não me surpreenderia se as stablecoins o alcançassem — ou até o superassem — em certos momentos da evolução do setor.
CTBR: As stablecoins foram criadas para trazer liquidez ao mercado cripto, mas se tornaram o verdadeiro “killer app” do setor. Agora, há quem tema que elas sirvam como um “Cavalo de Troia” para o governo dos EUA, espalhando o dólar e a influência americana. O que você pensa sobre isso?
HF: A dominância global do dólar sempre esteve ligada à confiança e à liquidez — as stablecoins apenas tornam essa confiança sem fronteiras e de acesso instantâneo.
Futuro do mercado
CTBR: Você veio do Goldman Sachs, um ambiente financeiro tradicional, e agora lidera uma das maiores plataformas de ativos digitais do mundo. Como essa experiência molda sua visão sobre stablecoins como instrumentos financeiros legítimos e seguros?
HF: No Goldman, aprendi que a legitimidade nas finanças depende de transparência, gestão de risco e escala. Transparência e gestão de risco geram confiança; escala traz eficiência.
Na OKX, aplicamos a mesma disciplina. Já publicamos 36 relatórios mensais consecutivos de Prova de Reservas, estabelecendo um padrão de transparência. Temos sistemas robustos de gestão de risco, tanto em governança tradicional quanto em infraestrutura tecnológica. Acreditamos que o sistema on-chain oferece melhores ferramentas e incentivos para aprimorar a transparência e o gerenciamento de riscos — em benefício de todos.
As stablecoins e os players do setor que seguirem esses pilares serão os que prosperarão nas finanças digitais.
CTBR: Como a OKX enxerga esse movimento e pretende se posicionar nesse mercado de tokenização? Vocês planejam integrar produtos de RWA (como a Bitget fez com a Ondo) ou produtos estruturados (como Bitfinex Securities e Mercado Bitcoin)?
HF: Neste momento, nosso foco está em tornar a dolarização simples e acessível — não apenas para usuários de cripto, mas para o brasileiro comum, que enfrenta altos spreads e taxas ao usar dólares físicos ou cartões internacionais.
Continuamos explorando oportunidades para expandir nosso portfólio, incluindo ativos do mundo real (RWAs). No entanto, nosso caminho permanece orientado por três princípios centrais: segurança, transparência e clareza regulatória.
CTBR: À medida que as stablecoins se expandem, surgem preocupações sobre soberania monetária e dependência do dólar digital. Elas podem coexistir com moedas locais, como o real e o peso?
Acredito que stablecoins e moedas locais podem coexistir de forma saudável e complementar — especialmente em países como o Brasil, onde o sistema financeiro é sofisticado, regulado e altamente digitalizado. As stablecoins atendem a uma demanda real por eficiência e acesso ao dólar, mas não substituem o papel do real nem do Banco Central.
Com uma regulamentação adequada, as stablecoins podem fortalecer o sistema local — reduzindo custos em transações internacionais, ampliando a inclusão financeira e promovendo a competitividade tecnológica, sem comprometer a soberania e a solidez monetária do país.
