Ao longo de sua curta história, o mercado de criptomoedas mostrou-se um terreno fértil para jovens investidores fazerem fortuna. Uma pesquisa recente do portal CNBC revelou que pelo menos metade dos millenials norteamericanos que acumulam um patrimônio de mais de US$ 1 milhão tem parte do seus investimentos aplicados em ativos digitais.
Em oposição, levando em conta todas as faixas etárias, a proporção cai para 17%. A razão é muito simples: os jovens não só estão mais ligados às novas tendências, mas também têm maior disposição ao risco e à experimentação.
É natural, então, que três jovens empreendedores norteamericanos do mercado cripto agora figurem na lista de 15 bilionários abaixo dos 40 anos recém divulgada pela revista Forbes.
O número um é justamente o mais novo: Sam Bankman-Fried tem apenas 29 anos, e a sua fortuna é estimada em US$ 22,5 bilhões. O crescimento do seu patrimônio foi proporcional ao crescimento da FTX , exchange de criptomoedas que ele fundou há dois anos atrás, a partir de seus próprios investimentos em ativos digitais.
Os outros dois nomes da lista são os fundadores da Coinbase, a maior exchange de criptomoedas dos EUA. Embora a tenha deixado a empresa em 2017, Fred Ehrsam, de 33 anos, manteve 6% de sua participação acionária, os quais são, em grande parte, responsáveis por um patrimônio estimado em US$ 3,5 bilhões.
O atual CEO da exchange, Brian Armstrong, é o mais velho dos três. Tem 38 anos e uma fortuna estimada em US$ 11,8 bilhões.
Por ironia do destino, eles fizeram fortuna com plataformas criadas para facilitar a compra e a venda de ativos digitais cujo propósito original era eliminar intermediários. Isso, no entanto, não diminui seus méritos, pois, por outro lado, eles contribuíram decisivamente para a popularização global do mercado de criptoativos através de suas plataformas.
Vamos conhecer um pouco mais da história dos três cripto bilionários.
Sam Bankman-Fried
Bankman-Fried estudou física no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), mas o grande aprendizado de sua experiência acadêmica não diz respeito à mecânica quântica ou à lei da gravidade. Foi a descoberta do "altruísmo efetivo" que mudou a sua vida. O princípio filosófico criado por dois professores do instituto prega que aos homens cabe fazer o bem da forma mais eficiente possível, indepentemente dos recursos disponíveis.
Daí, o jovem concluiu que para poder exercer a filantropia e ganhar mais dinheiro, o caminho mais curto seria trabalhar no mercado financeiro. E não em alguma organização não-governamental dedicada à caridade.
Seu primeiro estágio foi em uma empresa de trading quântido de Wall Street. Foi através da aproximação com o universo das finanças tradicionais que ele conheceu o Bitcoin (BTC). Imediatamente, ele vislumbrou o potencial do mercado de criptomoedas e realizou o seu primeiro empreendimento na área.
Em 2017, ele fundou a Alameda Research, "uma empresa de trading quantitativo que une a experiência de Wall Street e do Vale do Silício para prover liquidez aos mercados de criptomoedas no mundo todo".
Dois anos depois, ele fundou a corretora FTX, especializada em negociação de derivativos de criptomoedas. Antevendo imbróglios regulatórios, Bankman-Fried preferiu se afastar do mercado para poder oferecer uma diversidade maior de produtos finaceiros aos seus clientes, como ações tokenizadas e margens altas de alavancagem. Primeiramente, a sede da FTX era em Hong-Kong e agora fica no arquipélago de Bahamas.
Hoje, a FTX movimenta um volume de negociações de US$ 19 bilhões por dia, e responde por aproximadamente 10% do valor nominal de US$ 3,4 biliões de derivativos negociados mensalmente em todo o mercado cripto.
Cobrando taxas de 0,02% de cada negociação, a FTX arrecadou cerca de US$ 750 milhões, registrando um lucro de US$ 350 milhões em 2020. Fiel ao "altruísmo efetivo", Bankman-Fried doa 1% do valor líquido das taxas para instituições de caridade ao redor do mundo.
Em julho, Bankman-Fried levantou US$ 900 milhões em uma rodada de investimentos e atualmente a FTX está avaliada em US$ 18 bilhões.
Fred Ehrsam
Antes de fundar a Coinbase e tornar-se o seu primeiro presidente, Ehsram foi trader no mercado de Forex na Goldman Sachs, em Nova York, e analista de portfólio da Black Rock, a maior gestora de fundos de investimento do mundo, que administra um portfólio de US$ 9,5 milhões. Em 2012, Ehsram e Brian Armstrong fundaram a Coinbase, cujo primeiro escritório ficava em um apartamento residencial em São Francisco.
Em 2013, ele fez parte da lista das 30 pessoas abaixo dos 30 anos que estão mudando o mundo. Em janeiro de 2017, antes do ciclo de alta do mercado que teria seu apogeu em dezembro daquele ano, ele decidiu se afastar do dia a dia da empresa para fundar a Paradigm, uma empresa de investimentos com foco no mercado cripto.
Brian Armstrong
O atual CEO da Coinbase tem uma participação de 19% sobre o capital da empresa. Por isso, seu patrimônio chegou aos 11 dígitos em abril deste ano, quando a empresa abriu seu capital na bolsa e o Bitcoin atingiu sua máxima histórica.
Recentemente, destacou-se por assuumir a linha de frente na defesa da indústria de criptoativos diante das investidas dos reguladores norteamericanos, fazendo críticas diretas ao comportamento da Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC).
Os desentendimentos começaram depois que Armstrong foi a público para revelar ameaças de membros da SEC de que a Coinbase poderia ser alvo de processos judiciais caso levasse adiante o lançamento de um produto de empréstimos em criptomoedas. No fim, a exchange desistiu de disponibilizá-lo aos clientes.
Armstrong iniciou sua trajetória profissional como desenvolvedor na IBM. Em seguida, transferiu-se para o Airbnb para trabalhar como engenheiro de software. Ao mesmo tempo que desenvolvia projetos relativos aos sistemas de pagamento da empresa em 190 países, tomou contato com o white paper do Bitcoin e, nas suas horas vagas, começou a projetar uma plataforma para negociação e armazenamento de criptoativos.
Em 2012, foi selecionado para participar da aceleradora de inicialização Y Combinator e recebeu um investimento de US$ 150.000, o qual usou para fundar a Coinbase em parceria com Ehsram.
A história dos jovens bilionários da indústria de criptomoedas insinua um novo terreno para o eterno conflito de gerações. Além do aspecto mais evidente de criação de novas formas de geração e distribuição de riqueza, o potencial disruptivo do Bitcoin sobre as tecnologias financeiras e o controle do dinheiro pelo Estado colocam duas visões de mundo opostas em rota de colisão.
De um lado os jovens empreendedores incorporando as inovações tecnológicas contemporâneas. De outro os reguladores no papel de guadiões do velho poder estatal.