A proposta da Web3 é alterar, para melhor, processos e relações dentro da sociedade. O jornalismo é uma das profissões que pode ser diretamente impactada com a presença de plataformas descentralizadas. Rentabilização de conteúdo, resistência à censura e colaborações internacionais são alguns dos benefícios trazidos pela Web3.

Conteúdo independente na Web3

Não é incomum que, atualmente, jornalistas optem por produzir conteúdo de forma independente. Geralmente, eles produzem newsletters ou fazem matérias profundas sobre determinados temas. Na Web3, um bom local para publicações como estas é o Mirror, uma plataforma focada em conteúdo escrito.

O Mirror se assemelha a plataformas já existentes e que não aplicam o modelo de Web3, como a Substack. As publicações podem ser abertas ou fechadas, e é possível criar um sistema de inscrições para membros, fazendo com que o jornalista consiga rentabilizar suas matérias através de criptomoedas.

Algumas adições importantes, no entanto, foram feitas ao Mirror. A primeira é a possibilidade de obter um artigo na forma de NFT. Desta forma, ainda que a interface da plataforma saia do ar, é possível ter o conteúdo para sempre. É válido ressaltar que o criador do conteúdo recebe pelo NFT emitido.

Além disso, as publicações são registradas na Arweave, um serviço de armazenamento permanente baseado em blockchain. Isso faz com que um trabalho jornalístico não seja perdido caso um site de notícias seja descontinuado ou, no caso dos jornalistas independentes, caso uma plataforma de publicação seja fechada.

O registro em blockchain, além de tornar o acesso ao material eterno, também favorece a resistência à censura. Os jornalistas podem ainda se valer de um pseudônimo, usando uma carteira, para evitar perseguições ao escrever sobre temas sensíveis.

Registrado para sempre

Divulgar documentos sensíveis ao público pode ser uma tarefa perigosa. A prática, historicamente, rende perseguições a jornalistas. Uma saída é publicar documentos de forma anônima, utilizando a tecnologia de registros distribuídos não só para aumentar a segurança, mas garantir que o conteúdo ficará disponível ao público.

Para isso, a blockchain do Bitcoin permite a inserção de arquivos, algo que foi melhorado após a atualização Taproot, realizada no fim de 2021. Existem, contudo, serviços especializados no registro de arquivos. Um deles é o Arweave, que já foi mencionado. Outro serviço semelhante comumente usado é o IPFS.

Além de permitir o armazenamento de dados de forma distribuída, o IPFS permite que páginas sejam mantidas no ar também através da descentralização. Desta forma, torna-se mais difícil a censura de conteúdos publicados através destes serviços.

Apurando fatos remotamente

A Web3 já apresenta formas de apurar fatos remotamente que, antes, exigiriam a presença do jornalista no local. É o caso da VideOracle, um serviço descentralizado que consiste na contratação de freelancers para realizar gravações.

Utilizando a plataforma, um jornalista pode abrir um requerimento envolvendo a gravação de algum fato e especificando detalhes sobre o que precisa ser capturado durante as filmagens. 

O jornalista informa o valor a ser pago pelo serviço, e aloca uma quantia de tokens MATIC em um contrato inteligente. A pessoa responsável por abrir o requerimento então avalia o vídeo e, caso aprovado, o pagamento é feito automaticamente. Caso não haja alguém disposto a realizar a gravação, o valor de MATIC alocado é devolvido ao jornalista.

O fundador do VideOracle, que se identifica como mastrogepp.eth, conta que um sistema para resolução de disputas será implementado na plataforma. Por ainda ser muito recente, contudo, ainda não há volume de usuários suficiente para possibilitar que eles mesmos resolvam conflitos surgidos. “Por enquanto, deixamos o autor da proposta ser justo com o prestador de serviços”, afirma o fundador da plataforma.

No modelo de resolução de disputas, será possível deixar MATIC em staking para fazer parte de um conselho dedicado a casos onde não houve acordo. Como recompensa, usuários receberão um percentual do ‘valor da causa’. “Preferimos seguir essa decisão em vez de centralizar em nós a responsabilidade”, conclui mastrogepp.eth.

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