A dependência da Venezuela de stablecoins atreladas ao dólar americano pode se aprofundar diante de uma nova ameaça de guerra, sanções em andamento e a hiperinflação do bolívar.

No início desta semana, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos enviou seu porta-aviões mais avançado ao Caribe, próximo à Venezuela, enquanto o presidente Donald Trump sinalizou planos de realizar ataques militares contra cartéis de drogas que operam em todo o país sul-americano.

Trump acusou os cartéis venezuelanos de contrabandear substâncias ilícitas para os EUA, alimentando uma epidemia de opioides e narcóticos. O presidente venezuelano Nicolás Maduro rejeitou as acusações, pedindo a Trump que se abstenha de iniciar uma guerra.

Isso pode significar ainda mais instabilidade financeira para os venezuelanos comuns, que dependem de stablecoins como a Tether (USDT) para evitar que suas economias arduamente conquistadas desapareçam em meio à inflação de três dígitos do bolívar.

As stablecoins, ou o que muitos venezuelanos chamam de “dólares da Binance”, também se tornaram amplamente utilizadas em pagamentos do dia a dia, à medida que as reservas de dólares americanos em todo o país diminuíram.

O governo venezuelano também recorreu a stablecoins para facilitar o comércio de petróleo com seus aliados, incluindo a Rússia, com a qual formalizou uma parceria estratégica na segunda-feira.

O New York Times reportou no domingo que Maduro conseguiu “reconfigurar a economia da Venezuela para stablecoins” e, possivelmente, tornou o país a primeira nação a gerenciar uma grande parte de suas finanças públicas em cripto.

Segundo o jornal, as stablecoins “agora representam até metade da moeda forte que entra legalmente na economia venezuelana”.

Venezuela ocupa o quarto lugar na adoção de cripto na América Latina

A inflação de três dígitos e as sanções contribuíram para que a Venezuela se tornasse o quarto maior país da América Latina em adoção de criptomoedas por valor recebido — US$ 44,6 bilhões entre julho de 2024 e junho de 2025 —, de acordo com a plataforma de análise cripto Chainalysis.

O país ficou atrás apenas de Brasil, Argentina e México, que possuem populações maiores que a da Venezuela.

Uma política venezuelana usa cripto para proteger seus ativos

Uma das adotantes mais notáveis de cripto na Venezuela é María Corina Machado, ex-candidata presidencial venezuelana que utiliza Bitcoin (BTC) para proteger seus ativos de apreensão.

Ela foi premiada com o Prêmio Nobel da Paz neste mês por sua luta para restaurar a democracia na Venezuela e por sua resistência pacífica contra o regime autoritário de Maduro.

Quase 8 milhões de venezuelanos fugiram do país devido à hiperinflação, à escassez de alimentos e remédios e à desordem pública desde que Maduro assumiu o poder em 2013.

Muitos perderam o acesso a suas contas bancárias, forçando os cidadãos a recorrerem a criptomoedas e stablecoins como o USDT para preservar valor e transferir o que restava de sua riqueza para fora da Venezuela.