A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) publicou nesta semana a Resolução 772/2025, que aprova o Plano de Atribuição, Destinação e Distribuição de Faixas de Frequências no Brasil (PDFF), no qual estipulou a faixa de 300 MHz para a implementação da TV 3.0 no Brasil. Na publicação, a Anatel definiu três blocos que serão reservados para 11 canais de TV 3.0.
Em outro movimento do avanço da TV 3.0 no Brasil, veio da National Association of Broadcasters (NAB), que divulgou o seu relatório Future of Television Initiative (FOTVI), no qual afirma que o ATSC 3.0 (padrão adotado pelo Brasil) possui recursos de segurança cibernética, incluindo proteção de sinal, autenticação de certificado de aplicativo e proteção de conteúdo; um aumento de 500% na capacidade; mensagens de emergência avançadas e mais opções de acessibilidade.
“Ao atualizar para ATSC 3.0, a indústria está demonstrando seu compromisso em fornecer na TV aberta de alta qualidade serviços para as gerações vindouras”, destaca o relatório.
Já na Câmara dos Deputados, a TV Câmara anunciou uma consulta pública para ouvir ideias e propostas dos cidadãos para a implementação de interatividade nos novos sistemas de TV 3.0. Os interessados em contribuir com ideias e sugestões devem enviar suas mensagens para o email: tv@camara.leg.br.
Apesar dos avanços, segundo declarou no ano passado o secretário de Comunicação Social Eletrônica, Wilson Diniz, não há modelos de TV disponíveis no mercado brasileiro que possam receber o sinal da 'TV 3.0'. Por isso, no primeiro momento de implantação, será preciso usar conversores.
Desse modo, o governo trabalha com duas fases de implementação: tvs com receptores e, depois, novas tvs com suporte para o novo sinal. No entanto, para atender a demanda de mais de 69,6 milhões de lares com TV no Brasil, o governo ainda não definiu se os conversores serão fornecidos de graça (como ocorreu na transição para TV Digital) ou se a população terá que comprar o equipamento.
O que é TV 3.0 e porque ela é importante
A TV 3.0 representa uma evolução na tecnologia televisiva, combinando transmissão digital tradicional com recursos de internet e interatividade avançada. Ela surge como uma resposta às demandas por experiências mais dinâmicas, personalizadas e imersivas, ultrapassando os limites da TV analógica (TV 1.0) e da TV digital básica (TV 2.0).
Isso permite que os usuários acessem simultaneamente programas tradicionais e serviços online, como streaming, jogos, redes sociais e aplicativos interativos, tudo em um único dispositivo. Seu objetivo é unir o melhor dos dois mundos: a estabilidade do broadcast (transmissão via antena) e a versatilidade da internet.
Assim, no novo padrão, os espectadores podem participar ativamente de programas, votando em tempo real em reality shows, escolhendo finais alternativos para filmes ou acessando informações complementares, como estatísticas de jogos ou receitas durante transmissões, tornando o ato de assistir TV mais envolvente e personalizado.
A integração com a internet permite acesso a conteúdos sob demanda, como streaming direto na TV sem dispositivos externos, além de pausar, retroceder ou gravar programas ao vivo e usar múltiplas telas simultaneamente, como acompanhar um jogo enquanto navega em redes sociais.
Além disso, a TV 3.0 integra-se ao ecossistema digital, funcionando como hub para controlar dispositivos de smart home, realizar compras online diretamente pela tela e acessar serviços públicos, como educação e telemedicina.
A mudança vai impactar todo o mercado de produção de conteúdo, sejam eles produzidos por canais abertos como Globo, SBT, Record, Band e outros; canais de televisão paga como CNN, Fox, Globo News e até mesmo produtores de conteúdo independente como influencers, youtubers e tantos outros.
TV 3.0 e blockchain
A TV 3.0, ao combinar transmissão digital, conectividade e interatividade, pode se tornar uma plataforma revolucionária para integrar tecnologias como criptomoedas, contratos inteligentes e o Drex, a moeda digital em desenvolvimento pelo Banco Central do Brasil.
A integração de carteiras digitais na TV 3.0 pode permitir micropagamentos em criptomoedas para acessar conteúdos exclusivos, como filmes ou eventos esportivos, ou até mesmo recompensar espectadores que participam de quizzes interativos em programas de TV.
No Brasil, emissoras poderiam oferecer pacotes de novelas ou jogos de futebol com pagamento via Bitcoin, ou stablecoins, atraindo um público cada vez mais familiarizado com o universo cripto.
Contratos inteligentes, por sua vez, automatizariam processos complexos, como a distribuição de royalties para artistas. Uma plataforma de streaming brasileira poderia usar essa tecnologia para repassar automaticamente ganhos a produtores de conteúdo sempre que um programa for assistido, garantindo transparência e agilidade.
Além disso, anúncios dinâmicos na TV 3.0 poderiam ser vinculados a contratos que liberam pagamentos às emissoras apenas quando o espectador interage com a propaganda, como clicar para obter mais detalhes ou finalizar uma compra. Essa eficiência reduz custos e aumenta o engajamento, beneficiando anunciantes e consumidores.
O Drex, como moeda digital oficial, teria um papel central nesse ecossistema. A TV 3.0 poderia funcionar como uma ferramenta de inclusão financeira, permitindo que usuários paguem contas de luz ou IPTU diretamente pela interface da TV, sem necessidade de intermediários.
Em regiões remotas, onde o acesso a bancos é limitado, a combinação entre Drex e TV 3.0 facilitaria a oferta de serviços básicos, como empréstimos ou recebimento de auxílios governamentais. Imagine assistir a um programa de culinária e comprar ingredientes exibidos na tela usando Pix, com a entrega agendada automaticamente por um contrato inteligente dentro do Drex.