A tão esperada aprovação de um fundo negociado em bolsa (ETF) de Bitcoin (BTC) à vista nos Estados Unidos pode resultar na redução significativa e repentina do suprimento de Bitcoin em ciruculação à medida que os fundos abocanharem o máximo de BTC que puderem, previram alguns especialistas. Com empresas proeminentes como a Ernst & Young esperando que a aprovação Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC) desencadeie uma demanda maciça por parte das instituições, será que os gigantes financeiros por trás desses ETFs deixarão algum Bitcoin no mercado para o resto dos simples mortais?
A aprovação dos ETFs de Bitcoin à vista nos EUA poderia trazer até US$ 30 bilhões de dinheiro novo para o Bitcoin, estimou o empresário e investidor de criptomoedas Lark Davis em setembro de 2023. Em tal cenário, as gestoras de ETFs de Bitcoin à vista teriam que comprar cerca de 50% de todos os Bitcoins disponíveis em exchanges de criptomoedas para lastrear seus ETFs, projetou ele.
Estimates are that a spot Bitcoin ETF would bring 20-30 billion of fresh cash into Bitcoin. That would buy about half of all coins on exchanges at current prices.
— Lark Davis (@TheCryptoLark) September 4, 2023
For reference here is what happened to gold when it got its first ETF approved on US markets.
History repeating? pic.twitter.com/CBNvZgMq18
As estimativas sugerem que um ETF de Bitcoin à vista traria de 20 a 30 bilhões de dinheiro novo para o Bitcoin. Isso equivale a cerca de metade de todas as moedas disponíveis em exchanges a preços atuais.
Como referência, veja o que aconteceu com o ouro quando seu primeiro ETF foi aprovado nos EUA.
A história está se repetindo?
— Lark Davis (@TheCryptoLark)
Mas comprar a maior quantidade possível de Bitcoin provavelmente seria complicado para qualquer pessoa ou instituição, afirmam vários executivos e analistas do setor.
"Teoricamente, uma empresa ou governo poderia tentar comprar uma quantidade significativa de Bitcoin, mas adquirir todo o Bitcoin em circulação é praticamente impraticável, e ainda temos um suprimento significativo não liberado de Bitcoin", disse Leah Wald, CEO da Valkyrie, ao Cointelegraph. Wald observou que o suprimento de Bitcoin está limitado a 21 milhões de unidades, das quais 1,4 milhão de BTC ainda não foram mineradas. Ela acrescentou:
"A natureza descentralizada do Bitcoin e o fato de que muitos detentores podem se recusar a vender a qualquer preço criam uma barreira natural contra monopólios."
Matt Hougan, diretor de investimentos da Bitwise – outra postulante ao lançamento de um ETF de BTC, juntamente com a Valkyrie – também acredita que, teoricamente, ninguém poderia estabelecer um monopólio sobre o Bitcoin.
"O princípio da escassez – um princípio econômico bem estabelecido – nos diz que o preço de um bem escasso aumentará para atender à demanda", disse Hougan. "Em outras palavras, se alguém tentasse 'encurralar o Bitcoin', o preço aumentaria e aumentaria e aumentaria à medida que mais e mais vendedores relutantes fossem encontrados", acrescentou o executivo. No entanto, Hougan admitiu que uma única entidade poderia, de fato, controlar uma quantidade significativa de Bitcoin.
O CEO da Jan3, Samson Mow, concordou com Hougan, expressando a confiança de que seria difícil comprar todo o Bitcoin em circulação devido aos preços extremamente altos alimentados por produtos como um ETF de Bitcoin à vista. "O preço pelo qual as pessoas se tornam dispostas a vender aumenta quando há menos moedas disponíveis para venda", afirmou ele.
De acordo com Mow, os detentores de BTC terão que pensar bem antes de venderem seus Bitcoins, dados os riscos de desvalorização de moedas fiduciárias como o dólar ou o euro. Ele disse:
"Portanto, à medida que os fundos comprarem mais BTC e aumentarem a quantidade do criptoativo ativos sob suas gestões, será cada vez mais difícil encontrar vendedores."
Apesar da alta concorrência entre os potenciais ETFs de Bitcoin à vista, é improvável que esses fundos tentem comprar todo o Bitcoin em circulação, de acordo com David Gerard, autor do livro e do blog de criptomoedas Attack of the 50 Foot Blockchain.
"Os ETFs fazem parte do uso do Bitcoin como um derivativo do dólar. A gestora não se importa nem um pouco com as criptomoedas; ela se importa com os dólares que pode obter delas", disse Gerard ao Cointelegraph. Ele acrescentou:
"Muitos detentores têm muito mais Bitcoin do que há dólares dispostos a comprar – os mercados estão magros."
Embora muitos observadores do setor esperem que os ETFs de Bitcoin à vista alimentem uma demanda maciça e, portanto, afetem positivamente o preço do BTC, alguns executivos, como o cofundador da BitMEX, Arthur Hayes, acreditam que ETFs bem-sucedidos poderiam "destruir completamente" o Bitcoin. De acordo com a CEO da ARK Invest, Cathie Wood, alguns investidores podem "vender a notícia" da aprovação do ETF de Bitcoin no curto prazo.
Enquanto isso, alguns membros da comunidade cripto acreditam que a possível aprovação de um ETF de Bitcoin à vista nos EUA poderia ter pouco ou nenhum impacto sobre os mercados, já que vários ETFs de Bitcoin à vista vêm sendo negociados há anos em outras partes do mundo, como o Canadá e o Brasil.
Entretanto, o tamanho dos mercados de capitais dos EUA é tão grande que essa comparação pode ser irrelevante, de acordo com o analista de ETF da Bloomberg, Eric Balchunas. O mercado de criptomoedas nunca viu uma injeção de capital com esse potencial de magnitude, segundo Balchunas e outros especialistas.
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