Um novo relatório realizado pela Nexa com a Fintrender, divulgado em dezembro, apontou o Brasil como possível líder do mercado global de tokens RWA. Segundo o documento, vários fatores como a inovação das empresas locais, a política favorável dos reguladores e o Drex tendem a impulsionar o país na vanguarda desse movimento.

"Nessa primeira edição do Brazil Tokenization Report, focamos nas razões pelas quais acreditamos que estamos em um ponto transformacional da evolução tecnológica, que já começou. Não estamos falando de algo futurista, apesar de sermos muito otimista com o futuro e ainda ter muito o que se desenvolver. Mas focamos no agora - o nome “the future is now” vem daí", destacou Lucas Danicek, CEO da Nexa Finance.

O relatório aponta que projeções indicam que até 2030, os ativos alternativos tokenizados podem atingir US$ 16 trilhões, valor equivalente ao PIB combinado das maiores economias do mundo, como Alemanha e Reino Unido. Isso posiciona a tokenização como um divisor de águas para a economia global.

O volume de ativos tokenizados está crescendo exponencialmente, impulsionado por stablecoins e crédito privado. Grandes instituições financeiras como BlackRock, JPMorgan e Goldman Sachs já abraçaram a tecnologia. Em um caso de destaque, a BlackRock lançou o BUIDL, fundo tokenizado de títulos do Tesouro dos EUA, que movimentou mais de US$ 500 milhões.
Redes como Ethereum e Polygon estão liderando o desenvolvimento da infraestrutura necessária para suportar esse crescimento. Essas plataformas oferecem características únicas, como custos reduzidos, interoperabilidade e segurança. No entanto, a escolha de blockchain depende de requisitos específicos de velocidade, privacidade e escalabilidade.

Segundo o relatório, Ethereum domina com 35% de participação nos projetos de tokenização, seguido por Polygon e outras redes emergentes. A interoperabilidade e a inovação tecnológica continuam a ser fundamentais para a expansão dessa indústria.

O Impacto nos Setores Econômicos

Imóveis, investimentos sustentáveis e ações privadas estão no topo da lista de categorias mais tokenizadas. Nos Estados Unidos, que lidera os esforços globais, a tokenização já representa uma parcela significativa do mercado. Jurisdições como Alemanha, Suíça e Singapura também estão se destacando como hubs de inovação nesse setor.

No setor imobiliário, por exemplo, a tokenização elimina intermediários e permite que propriedades sejam negociadas de maneira eficiente, enquanto mantém registros claros e auditáveis na blockchain.

Apesar do enorme potencial, a tokenização enfrenta desafios. É necessária uma infraestrutura tecnológica robusta, regulamentação clara e integração com sistemas financeiros tradicionais. Além disso, questões como segurança cibernética e interoperabilidade entre blockchains continuam sendo áreas críticas para o sucesso do setor.

Por outro lado, os benefícios superam os desafios. A tokenização não apenas democratiza o acesso aos mercados, como também promete criar novas oportunidades para investidores institucionais e de varejo. Com a redução de barreiras e custos, o mercado financeiro pode se tornar mais inclusivo e acessível.

Inclusão e Personalização em Escala

A desigualdade no acesso ao capital é um dos maiores desafios globais, segundo aponta o relatório da Nexa. Dados de 2022 mostram que a maioria dos retornos financeiros está concentrada nas mãos de investidores institucionais e indivíduos de alto patrimônio.

A tokenização promete mudar esse panorama, tornando investimentos alternativos acessíveis a um público mais amplo. Embora a tokenização ofereça benefícios claros, desafios regulatórios e de interoperabilidade ainda precisam ser superados.

No Brasil, por exemplo, os ativos tokenizados estão sujeitos a normas rígidas, como a regulamentação da CVM 88, que limita a liquidez no mercado secundário. Contudo, iniciativas regulatórias em países como os EUA, Suíça e Cingapura demonstram que é possível equilibrar inovação e proteção ao investidor.

À medida que os bancos centrais aceleram a implementação de moedas digitais (CBDCs), a tokenização está consolidando sua posição como uma das maiores inovações financeiras do século. Com mais de 134 países explorando CBDCs, incluindo o Brasil, as perspectivas são promissoras.

Brasil

O mercado brasileiro está posicionado como um dos mais promissores no cenário global de tokenização. Combinando inovação tecnológica, regulação avançada e uma população receptiva às novas tecnologias, o Brasil demonstra seu potencial de liderar a revolução digital por meio da tokenização financeira e blockchain.

O relatório destaca que o Brasil reúne características únicas para se tornar um líder global em tokenização. Entre os principais fatores estão:

  • Adoção de tecnologia: 72% da população já está registrada no sistema PIX, sinalizando uma cultura tecnológica avançada.
  • Infraestrutura robusta: Com iniciativas como PIX, Open Finance e o recém-lançado Drex, o país possui uma base sólida para explorar tecnologias financeiras avançadas.
  • Mercado subpenetrado: Menos de 10% da população possui investimentos registrados na B3, apontando um vasto espaço para crescimento em acesso ao mercado financeiro.

Além disso, o Brasil já é o sexto maior país em adoção de criptomoedas globalmente, mostrando o apetite de sua população por inovação financeira.

Drex: Um Catalisador de Transformação

O Drex, iniciativa do Banco Central, surge como peça-chave na consolidação do mercado de tokenização. Seu objetivo é permitir transações financeiras mais complexas, como a transferência programada de ativos tokenizados e maior eficiência em negociações.

O sistema promete transformar operações de crédito, pagamentos e investimentos, trazendo segurança e transparência para todo o ecossistema financeiro.

Desde 2023, o Drex vem sendo testado e aperfeiçoado com grandes players do mercado, como Itaú, Nubank, Microsoft e Santander. Este avanço está fomentando uma nova onda de soluções em blockchain, incluindo a criação de redes privadas e produtos tokenizados para investidores institucionais.

O relatório destaca também que o Banco Central tem sido um ator fundamental nesse avanço, promovendo sandboxes regulatórios, desafios de inovação como o Lift Lab e o desenvolvimento do Real Digital. Essas iniciativas colocam o Brasil em um patamar diferenciado, atraindo investimentos e aumentando a confiança de players institucionais.

O crescimento do ecossistema blockchain

O Brasil já conta com mais de 1.481 fintechs, e mais de 700 são afiliadas à ABFintechs. Empresas como B3 Digitas, Parfin e Núclea Chain lideram o desenvolvimento de soluções de infraestrutura blockchain, expandindo o mercado para além do setor financeiro.

As perspectivas para o futuro incluem a expansão da tokenização para outros setores da economia. A redução de custos, automação de processos e aumento de transparência são algumas das oportunidades vislumbradas pelos players institucionais. Além disso, a popularização de ativos financeiros tokenizados e a integração simplificada prometem revolucionar o acesso ao mercado financeiro por pessoas físicas e jurídicas.

Assim, segundo o relatório, o marco regulatório brasileiro, impulsionado pela Lei Federal 14.478/2022, é um dos diferenciais do país. Essa legislação consolidou a supervisão de ativos digitais, dividindo responsabilidades entre órgãos como o Banco Central do Brasil (Bacen), a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e a Receita Federal Brasileira (RFB).

Esses esforços têm criado um ambiente seguro para investidores e operadores, permitindo que atividades como compra e venda de criptoativos, emissão de tokens e operações de custódia sejam realizadas de maneira transparente e eficiente.

As plataformas brasileiras de tokenização têm se destacado por sua capacidade de conectar investidores a uma ampla gama de ativos antes inacessíveis, como infraestrutura, agricultura e mercado imobiliário. 

Crowdfunding e Novas Fronteiras

A regulamentação da CVM permite que plataformas de crowdfunding emitam tokens de valores mobiliários, abrindo espaço para startups e empresas menores acessarem capital de maneira ágil. Essa flexibilidade, combinada com o programa Sandbox da CVM, está fomentando a criação de produtos financeiros inovadores, alinhados às necessidades do mercado moderno.

Plataformas de tokenização brasileiras têm preferido redes blockchain como Polygon, reconhecida por custos baixos e alta escalabilidade. Já os bancos, impulsionados pelo Drex, optaram por tecnologias como Hyperledger Besu para integrar soluções blockchain em suas operações.

Apesar dos avanços, os desafios permanecem. A aceitação do mercado e a adaptação à regulação foram apontadas como as principais barreiras pelos stakeholders. No entanto, a visão de longo prazo é otimista, com 40% dos fundos de venture capital já investindo em startups de tokenização e identificando áreas como serviços financeiros e infraestrutura como as mais promissoras.

Casos como o da Sympla e da FARM mostram como o blockchain está sendo utilizado para resolver problemas específicos. Enquanto a Sympla transforma ingressos em tokens únicos para combater fraudes, a FARM usa blockchain para registrar designs de moda, protegendo a propriedade intelectual de maneira econômica e ágil.

A conexão com Leis de Moore e Metcalfe

O relatório também destaca a relação entre as Leis de Moore e Metcalfe no avanço da tokenização. Enquanto a Lei de Moore permite a escalabilidade da infraestrutura blockchain, a Lei de Metcalfe potencializa o valor do sistema com o aumento do número de usuários. Essa interseção impulsiona uma mudança tecnológica e econômica que redefine o mercado financeiro.

O Brasil tem características únicas que o posicionam como líder em tokenização. Com uma população ampla, alta digitalização e reguladores comprometidos com a inovação, o país está preparado para abraçar essa transformação. Bancos e players institucionais têm investido em soluções baseadas em blockchain, criando um ambiente de credibilidade e segurança.

O paradigma econômico está mudando. A personalização de produtos financeiros e a eficiência na gestão de portfólios on-chain estão se tornando realidade. A tokenização permite a criação de uma economia global mais interconectada, eficiente e acessível.

Com o avanço das regulamentações, tecnologias e adesão de investidores, o Brasil tem a oportunidade de liderar esse movimento global. Como destaca o relatório, "o foguete já decolou", e o futuro da economia está sendo construído agora.

Confira o relatório completo