Resumo da notícia

  • Pix oferece solução mais eficiente que stablecoins, segundo Gabriel Galípolo.

  • Recorde de 297,4 milhões de transações reforça liderança do sistema brasileiro.

  • BC endurece regras para evitar abusos no uso de stablecoins no país.

O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou que o avanço do Pix colocou o Brasil em posição única no cenário global. Ele disse que o recorde de 297,4 milhões de transações durante a Black Friday mostrou que o país encontrou uma solução eficiente para pagamentos digitais.

Segundo ele, essa eficiência tornou desnecessário recorrer às stablecoins como meio de pagamento no dia a dia. No entanto, apesar do Pix liderar a movimentação de dinheiro no Brasil, durante a Blockchain Conference Brasil, o auditor fiscal da Receita Federal, Flavio Correa Prado, revelou que ao longo dos últimos cinco anos, o volume de negociação de stablecoins superou o Bitcoin e atualmente chegam a representar até 90% das operações reportadas pela exchanges para a Receita Federal.

“O crescimento é tão expressivo que, em uma projeção técnica baseada nos dados abertos, o volume mensal poderia atingir cerca de US$ 9,8 bilhões até o final de 2026, caso o ritmo atual se mantenha”

Para o BC, Pix, ‘matou’ lógica das stablecoins

Porém, Galípolo argumentou que o Pix ‘matou’ a lógica das stablecoins no mercado doméstico, porque entregou ao brasileiro um instrumento rápido, barato e amplamente aceito. Ele destacou que outros países ainda buscam alternativas digitais, enquanto o Brasil consolidou um sistema funcional. Além disso, o presidente do BC lembrou que o Pix nasceu integrado ao sistema financeiro, o que reduziu riscos e ampliou a confiança dos usuários.

O presidente participou do XP Fórum Político & Macro 2025, em São Paulo, e reforçou que a experiência brasileira se tornou referência internacional. Ele disse que na comparação com stablecoins e até com projetos de moedas digitais de bancos centrais, o Pix oferece uma resposta mais completa. Para ele, esses ativos digitais só fazem sentido quando funcionam como meio de pagamento, mas o Pix já cumpre essa função.

Galípolo afirmou que, enquanto as stablecoins não pagarem juros, elas seguem limitadas (embora já existam stablecoins que pagam juros on-chain, sem contar que diversas exchanges oferecem rendimento para hold de stablecoins). Ele questionou o incentivo para que investidores corram riscos com emissores privados quando podem receber juros sem risco no sistema tradicional. Assim, ele avaliou que não existe necessidade de usar stablecoins para resolver uma demanda já atendida.

A posição de Galípolo é oposta a do ex-presidente do BC, Roberto Campos Neto. Para ele, as stablecoin são uma forma do brasileiro ter exposição mais fácil ao dólar e a rendimento atrelados a moeda americana e, por isso, seu uso cresce cada vez mais no país.

Stablecoins em pagamentos

Galípolo comentou ainda que, mesmo com o avanço do Pix, o uso de stablecoins pode crescer em transações internacionais. Ele disse que, para compras entre países, o Pix ainda não opera com a mesma fluidez que oferece dentro do Brasil. Por isso, ele defendeu que as nações com sistemas de pagamento instantâneo deveriam buscar integração.

No campo regulatório, Galípolo alertou que stablecoins podem ser usadas de maneira inadequada. Ele mencionou casos de compra de helicópteros e lanchas, o que desperta desconfiança. Ele disse que o Banco Central adotou medidas recentes para evitar abusos e citou que o setor sério apoia esse endurecimento.

Entre as medidas, o BC classificou as stablecoins como parte do mercado de câmbio no Brasil e estabeleceu um conjunto de regas para sua circulação, emissão e custódia. Além disso, abriu precedente para a Receita Federal impor IOF sobre as operações com este tipo de ativo.

Além disso, Galípolo insistiu que a migração para stablecoins não altera o volume total de depósitos, mas pode influenciar sua distribuição. Ele destacou que valores depositados em bancos brasileiros podem ser deslocados para emissores no exterior, algo que exige atenção.

O presidente também comentou as perspectivas para a taxa Selic, hoje em 15%, e disse que não deixaria sinais antecipados. Ele reforçou que o mercado deve aguardar até a decisão da próxima semana. Apesar da inflação ter caído para 4,68% em doze meses, ela ainda está acima do teto da meta.