Durante o Anbima Summit, realizado nesta quarta-feira (25), no no painel Criptomoeda e stablecoins: o novo dinheiro em movimento, especialistas e executivos de empresas como Hashdex, Circle, Coinbase e Itaú deixaram claro: o dinheiro físico vai desaparecer. Em seu lugar, surgirá um sistema financeiro digital, baseado em três modelos principais
Esse processo, segundo os painelistas do evento, já está em andamento e deverá se consolidar nos próximos anos. Segundo Samir Kerbage, diretor de investimentos da Hashdex, a transformação que estamos vivendo no sistema financeiro é comparável à revolução causada pela internet.
“No passado, você precisava escrever uma carta e esperar dias. Hoje, envia uma mensagem no WhatsApp em segundos. Por que com o dinheiro ainda é diferente?”, provocou. Ele aponta que, com a tokenização, o dinheiro já vem promovendo esta transformação, e permitindo que o dinheiro transite com esta mesma facilidade.
Três modelos estão substituindo o papel-moeda
A digitalização do dinheiro está se dando por três caminhos distintos, conforme explicado por Kerbage e endossado por outros executivos.
O primeiro é o das CBDCs de varejo (moedas digitais emitidas por bancos centrais), que representam o modelo estatal e centralizado, como vem sendo feito pela China com o Yuan Digital.
O segundo é o das CBDCs de atacado, como o Drex, que no Brasil adota uma arquitetura distribuída envolvendo bancos, fintechs e outras instituições reguladas. O terceiro e mais descentralizado é o das stablecoins privadas, como as emitidas por empresas autorizadas, com destaque para o que prevê o Genius Act — novo marco regulatório nos EUA.
De acordo com Kerbage, a coexistência desses três modelos será o que efetivamente aposentará o papel-moeda.
“Todos os governos, em maior ou menor grau, estão trabalhando para eliminar o dinheiro físico. A tokenização é inevitável”, afirmou.
Stablecoins ganham espaço e se consolidam como "killer app" da blockchain
Daniel Mangabeira, vice-presidente da Circle para América Latina, ressaltou o crescimento exponencial das stablecoins, especialmente na região.
“Mais de 80% do uso de ativos digitais na América Latina é em stablecoins. São usadas em remessas, pagamentos internacionais e tesourarias corporativas. Isso já é o ‘killer app’ da blockchain.”
Ele também destacou que a falta de clareza regulatória, como a aplicação do IOF sobre ativos digitais, ainda é um entrave para a adoção em larga escala. No entanto, com marcos legais em construção e iniciativas como o Genius Act, a tendência é que essa segurança jurídica aumente, viabilizando uma expansão muito mais acelerada.
Mangabeira vê como natural que bancos comecem a emitir suas próprias stablecoins, desde que exista uma infraestrutura robusta e regras claras. Ele mencionou que só em 2023 o mercado de stablecoins movimentou mais de US$ 1 trilhão, com US$ 250 bilhões em ativos circulando.
“É normal que mais instituições queiram competir nesse mercado. Isso mostra maturidade e confiança no modelo”, completou.
Coinbase: Stablecoins são chave para escalar o uso global
Fábio Plein, diretor da Coinbase para as Américas, foi enfático: “As stablecoins são a chave para levar o mercado cripto a um bilhão de usuários”. Segundo ele, empresas globais já movimentam grandes volumes de dinheiro com stablecoins, além das transações de varejo nas exchanges.
Dois marcos recentes reforçam essa visão: o IPO da Circle e o próprio Genius Act, que cria parâmetros claros de lastro e auditoria para emissores privados de stablecoins. “Esses avanços trazem confiança ao mercado, estimulam listagens públicas e aumentam a transparência para investidores e usuários”, explicou Plein.
Além disos, Kerbage também destacou que o processo de digitalização do dinheiro não se limita às criptomoedas. Segundo ele, há dois movimentos claros no campo institucional: um voltado ao investimento direto (via fundos e ETFs) e outro ao uso da infraestrutura blockchain para tokenizar ativos tradicionais, como imóveis, crédito e participações em empresas.
No Brasil, a base regulatória já permite a operação de contas de pagamento lastreadas no Banco Central, o que, na prática, viabiliza stablecoins locais com respaldo institucional e segurança jurídica.
“A tokenização democratiza o acesso a investimentos. Ela simplifica processos e aumenta a eficiência para todos os envolvidos”, completou.