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Nada de bear market, fundador da Ripio prevê nova altseason e explica o que vem antes

Sebastián Serrano afirma que o mercado cripto está maduro, que o halving perdeu relevância e que o próximo ciclo será guiado por fundamentos sólidos e tokenização real.

Nada de bear market, fundador da Ripio prevê nova altseason e explica o que vem antes
Análise

Resumo da notícia

  • Ripio prevê altseason impulsionada por liquidez e regulação

  • Tokenização e stablecoins locais ganham destaque no próximo ciclo

  • Mercado cripto amadurece e deixa o bear market para trás

O mercado de criptomoedas vive uma fase de incerteza com o BTC quase perdendo o suporte de US$ 100 mil e levando consigo quase todas as altcoins.

Mas o fundador e CEO da Ripio, Sebastián Serrano, acredita que o momento atual marca o início de uma nova etapa. Em entrevista concedida em preparativo ao Blockchain Conference Brasil, conduzida por Felipe Escudero e o Cointelegraph Brasil, o executivo argentino afastou os temores de um “inverno cripto” no curto prazo e defendeu que estamos às portas de uma nova altseason, impulsionada por liquidez global e amadurecimento regulatório.

Segundo Serrano, não há sinais de bear market. Para ele, o comportamento do Bitcoin e o avanço das stablecoins mostram que o ecossistema cripto amadureceu.

“Os ciclos clássicos de quatro anos já não funcionam como antes”, afirmou.

A análise rompe com a narrativa tradicional que associa cada halving do Bitcoin a um movimento previsível de alta seguido por queda prolongada.

O CEO da Ripio destacou que o impacto do halving diminui a cada ciclo, já que a recompensa dos mineradores representa uma fração cada vez menor da emissão total.

“A influência do halving é cada vez mais baixa, porque o volume da mineração já não move tanto o mercado”, explicou. Para ele, o verdadeiro motor do próximo ciclo vem de outro lugar: da macroeconomia global.

Liquidez global e dívida dos governos como gatilho

Serrano aponta que os governos do mundo estão diante de uma montanha de dívidas e precisam injetar liquidez para sustentar suas economias.

“Os Estados Unidos terão de refinanciar trilhões de dólares em títulos do Tesouro. Isso gera uma onda de dinheiro novo”, disse. Essa injeção, segundo ele, tende a beneficiar diretamente os ativos digitais, pois o capital flui em busca de retorno em ambientes mais dinâmicos.

A lógica, explicou o executivo, é que o investidor começa pelos ativos mais seguros, como o Bitcoin, e depois migra para alternativas mais arriscadas, como o Ethereum e outras altcoins.

“Esse movimento cria a rotação natural que dá início às altseasons”, detalhou. Para ele, o ciclo já começou a se desenhar e pode se intensificar entre o final deste ano e o início de 2026.

Serrano também ressaltou que a tokenização de ativos do mundo real (RWAs) será o próximo grande impulso do setor. O avanço, segundo ele, cria novas fontes de valor dentro das blockchains, aproximando o mercado cripto das finanças tradicionais.

“Tudo que pode ser tokenizado será tokenizado”, disse, citando a frase do secretário do Tesouro dos Estados Unidos.

A tokenização como motor da próxima fase

A Ripio, fundada em 2013, já iniciou sua própria aposta nesse segmento com a tokenização de um título público argentino, o AL30, negociado tradicionalmente no mercado de capitais do país.

A iniciativa nasceu após a Comissão Nacional de Valores da Argentina (CNV) criar um sandbox regulatório para projetos de tokenização. “Fomos os primeiros a tokenizar um título do Tesouro argentino dentro das regras do sandbox”, afirmou.

Serrano explicou que o AL30 é um dos ativos mais negociados da Argentina, usado por empresas para transferências internacionais. Com a versão tokenizada, investidores podem negociar o mesmo título 24 horas por dia, sete dias por semana, sem depender do horário das bolsas.

“É o mesmo ativo, só que com as vantagens da blockchain — liquidez constante e custos menores”, destacou.

O executivo acredita que o modelo deve se expandir rapidamente. Ele lembra que grandes exchanges globais, como Binance e Bitget, já oferecem tokens atrelados a ações e títulos.

“É uma tendência global. As exchanges estão deixando de ser apenas plataformas de compra e venda de cripto. Elas estão virando portais de acesso a ativos financeiros do mundo real”, disse.

Serrano vê essa transição como inevitável. “Com o tempo, todos os ativos — ações, títulos, commodities — estarão representados digitalmente nas blockchains”, afirmou. Esse movimento, segundo ele, tornará o mercado global, acessível e sem fronteiras, permitindo que investidores de países emergentes tenham acesso a produtos antes restritos a grandes mercados como Nova York ou Londres.

A era das stablecoins locais

Outro ponto central da visão de Serrano é o papel das stablecoins. Para ele, as moedas digitais lastreadas em ativos reais já provaram ser essenciais para a estabilidade do mercado. “As stablecoins são a primeira forma de tokenização que deu certo”, afirmou.

A Ripio planeja lançar stablecoins locais para toda a América Latina, incluindo o real, o peso argentino e o peso mexicano.

“Queremos criar moedas estáveis para cada economia da região”, revelou. A ideia é permitir que usuários e empresas realizem transações e operações de crédito em suas moedas locais, evitando a exposição ao dólar.

Ele argumenta que pegar empréstimos em dólar é arriscado para quem tem renda em moeda local.

“Se você ganha em real, deve tomar crédito em real. Caso contrário, corre um risco enorme de variação cambial”, disse.

A proposta da Ripio é usar a tecnologia DeFi para criar mercados monetários descentralizados (money markets) em cada país, permitindo empréstimos e rendimentos em stablecoins locais.

Serrano acredita que isso pode transformar o acesso ao crédito na região e fortalecer as economias latino-americanas. “É um passo decisivo para a integração entre o sistema financeiro tradicional e o mundo cripto”, afirmou.

Regulação e maturidade do setor

Para o executivo, o crescimento sustentável depende de regras claras. Ele destacou o avanço da regulamentação no Brasil e na Argentina, além do projeto de lei Clarity Act nos Estados Unidos, que busca definir o que é um security token. “Com a clareza regulatória, projetos poderão atrelar valor real a seus tokens”, explicou.

Ele citou exemplos de protocolos que já estão recomprando tokens com receita, como Hyperliquid e Aave, criando uma relação direta entre desempenho econômico e valorização do ativo.

“A próxima altseason será guiada por fundamentos, não por especulação”, afirmou. Segundo ele, os tokens que tiverem mecanismos de governança, recompra ou queima sairão na frente.

Serrano acredita que a maturidade do setor vai eliminar os excessos das bull runs anteriores. “Desta vez, não veremos qualquer token disparando sem motivo. Os projetos com propósito e utilidade real serão os que vão liderar”, avaliou.

O futuro próximo: um mercado sem fronteiras

Na visão do fundador da Ripio, o mercado caminha para uma tokenização total, em que ações, dívidas e até imóveis existirão em formato digital. “As empresas menores, que hoje não conseguem listar ações em grandes bolsas, poderão captar recursos globalmente via blockchain”, explicou.

Esse cenário cria o que ele chama de democratização dos mercados de capitais. “O custo para listar na Nasdaq é altíssimo. A tokenização vai permitir que empresas de países emergentes tenham acesso ao mesmo público global, com custos reduzidos”, disse.

Serrano reforçou que o papel das corretoras de cripto deve mudar profundamente.

“As exchanges locais que apostarem apenas na compra e venda tradicional vão perder espaço”, alertou. Para ele, as vencedoras serão aquelas que se adaptarem ao novo paradigma e integrarem produtos financeiros reais às suas ofertas.