Por Caio Jobim

Não se trata de uma pedra preciosa ou de um artefato admirável. Nem mesmo se trata de uma pedra comum. O Ether Rock vendido por 400 Ether, na segunda-feira, é uma imagem em JPEG de uma pedra que parece ter saído de um antigo desenho animado.

A imagem é um exemplar único de uma coleção de 100 "pedras digitais" lançada em 2017, pouco depois da CryptoPunks. A quantidade reduzida de unidades disponíveis e o fato de fazer parte da primeira geração de NFTs (tokens não fungíveis) pode servir de explicação para que alguém a tenha comprado por aproximadamente R$ 7 milhões.

Afinal, restam apenas outras 99 pedras por aí, e exclusividade e escassez parecem ser duas forças poderosas por trás do impressionante crescimento recente deste setor da indústria de criptoativos.

Ether Rocks. Fonte: etherrock.com

"Ether Rocks" podem não ser exatamente o tipo de avatar que gera identificação imediata na maioria das pessoas, como os seus contemporâneos CryptoPunks. Também não são considerados obras de arte pelos seus criadores. São apenas imagens digitais compradas e vendidas na blockchain Ethereum, conforme afirma o texto de apresentação no site do projeto.

""Essas pedras virtuais NÃO têm nenhum PROPÓSITO além de poderem ser compradas e vendidas, e dar a você um forte sentimento de orgulho por ser o dono de 1 das apenas 100 pedras que fazem parte do jogo :)"

Após a transação, o piso de preço dos Ether Rock colecionáveis subiu para R$ 11 milhões. No último sábado era R$ 1.618 milhão, e há duas semanas atrás estava em R$ 518 mil. Ou seja, em menos de um mês a valorização foi de 2123%, superando em muito as principais criptomoedas do mercado.

A título de comparação, em agosto o Bitcoin (BTC) manteve a tendência de alta iniciada em julho e teve uma valorização de "apenas" 17%. O Ether (ETH), a segunda maior moeda em capitalização de mercado, subiu 26%. Mesmo aquelas que tiveram o melhor desempenho entre as top 10 do mercado - Cardano (ADA) e Solana (SOL) - cresceram 109% e 93%, respectivamente.

Depois de uma queda que coincidiu com a tendência geral de baixa do mercado de criptomoedas, o interesse por NFTs voltou a ressurgir no final de junho. Hoje, os principais projetos de NFTs movimentam, sozinhos, somas consideráveis. Um CryptoPunk não sai por menos de R$ 1.325.000. Um Bored Ape custa no mínimo R$ 636.000. Mais modesto, um Pudgy Penguin vale R$ 53.000.

Ao mesmo tempo, o OpenSea, maior marketplace de NFTs do mundo já movimentou mais de R$ 5 bilhões apenas no mês de agosto, de acordo com dados compilados pelo The Block, uma companhia independente de pesquisa e informação focada em ativos digitais e no mercado cripto. Uma alta de 286% em relação ao mês de julho.

Os players institucionais também estão começando a prestar mais atenção no setor. Conforme revelou o Cointelegraph Brasil em entrevista exclusiva com Cuy Sheffield, head da área criptomoedas da Visa, o envolvimento da empresa com o mercado de NFTs vai além da simples compra de um CryptoPunk.

A gigante do setor cartões de créditos pretende criar uma estrutura "para habilitar pagamentos digitais totalmente integrados e seguros para tornar o NFT-commerce acessível e usável para compradores e vendedores", afirmou o executivo. E completou:

"Os NFTs têm tudo para se tornar um poderoso acelerador da economia do criador, facilitando a entrada de criadores individuais e ajudando-os ganhar seu sustento com o comércio digital. Os NFTs estão lançando as bases de uma nova forma de comércio social que dá autonomia a criadores e colecionadores."

Se trata-se de uma bolha ou moda passageira, ainda é cedo para afirmar, mas o setor de tokens não fungíveis parece estar abrindo novos campos de inovação tecnológica e econômica em campos tão diversos quanto o mercado de games, de esportes, de arte, cultura e comportamento, para ficarmos apenas entre os mais evidentes. Mesmo que ainda esteja em sua "idade da pedra".

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