Em 16 de janeiro, a Coinbase relançou um serviço de empréstimo com garantia em Bitcoin, permitindo que usuários dos EUA tomem emprestado USDC (USDC) usando seus Bitcoins (BTC) como colateral.
Coinbase lança empréstimos com garantia em BTC. Fonte: @coinbase no X
O serviço de empréstimos da Coinbase é uma mistura de CeFi e DeFi. A empresa converte BTC em wrapped BTC (cbBTC), que é então transferido para o Morpho, um protocolo DeFi construído na Base. Este último gerencia os termos do empréstimo e as taxas de juros de forma dinâmica.
Embora o conceito não seja novo — empréstimos com garantia em Bitcoin existem pelo menos desde 2017 — esse movimento é significativo e pode refletir uma crescente demanda de mercado.
O interesse em empréstimos com garantia em Bitcoin e criptomoedas parece estar retornando. Em seu relatório de agosto de 2024, a HTF Market Intelligence estimou o tamanho atual do mercado de empréstimos com garantia em Bitcoin em US$ 8,6 bilhões e projetou que esse valor atingirá US$ 45,6 bilhões até 2030.
Fazer o Bitcoin trabalhar para o investidor pode ser uma estratégia inteligente, mas não está isento de riscos (lembre-se do colapso da Celsius). Alguns investidores podem ver a entrada de instituições financeiras tradicionais, com proteções mais rigorosas para os clientes, como um sinal de que os empréstimos com garantia em Bitcoin podem se tornar mais seguros no futuro. Por exemplo, a Cantor Fitzgerald, uma empresa financeira de Nova York, investiu na Tether e lançou um programa de empréstimos com Bitcoin em novembro de 2024.
Após a revogação da infame regra contábil SAB 121 em 23 de janeiro, os bancos de capital aberto agora podem começar a desenvolver seus próprios serviços de empréstimos com garantia em Bitcoin.
Comprar, pegar emprestado, morrer
Empréstimos com garantia em Bitcoin permitem que usuários liberem a liquidez presa em seus BTC sem precisar vender suas moedas, ajudando investidores a evitar eventos tributáveis.
O investidor de Bitcoin Mark Harvey observou que esses empréstimos dão aos investidores a opção de implementar a estratégia “comprar, pegar emprestado, morrer”.
Segundo cálculos de Harvey, ao usar 1 BTC como colateral, com uma relação empréstimo-valor conservadora de 10%, um investidor poderia obter US$ 9.784 em dinheiro no primeiro ano. Se ele continuar pegando emprestado contra o crescimento de seu BTC a cada ano — assumindo uma valorização anual de 50% — seu fluxo de caixa aumentaria para US$ 164.000 em uma década, criando um ciclo para maximizar ganhos e minimizar impostos.
Cálculos de empréstimos com garantia em Bitcoin. Fonte: @thepowerfulHRV no X
Do ponto de vista do credor, usar Bitcoin como colateral pode ajudar a reduzir riscos idiossincráticos. O CEO da Newmarket Capital, Andrew Hohns, disse à CNBC que essa é uma estratégia inovadora de empréstimo usada por sua empresa. A Newmarket Capital emprestou dinheiro a um proprietário de imóveis que usou parte do valor para comprar Bitcoin e, em seguida, adicionou-o como garantia adicional. Esse movimento proporcionou ao credor uma proteção aprimorada e um perfil de risco mais diversificado.
“Ao fundir Bitcoin com crédito e ativos tradicionalmente financiáveis, isso nos dá o luxo de expressar essa visão de médio prazo sobre o Bitcoin.”
Os riscos dos serviços de empréstimo com garantia em Bitcoin
Atualmente, existem cerca de 20 provedores de serviços que permitem que usuários tomem empréstimos em stablecoins e moedas fiduciárias usando Bitcoin como colateral. Empresas de CeFi como Wirex, Nexo e Bitcoin Suisse, além de protocolos DeFi como Aave e Compound, também permitem que investidores utilizem wrapped Bitcoin (wBTC) como garantia.
Os empréstimos cripto oferecidos por empresas de CeFi cresceram rapidamente entre 2019 e 2022 antes que o mau uso e o desvio de fundos de clientes fossem expostos, levando à falência da Celsius, BlockFi e Voyager Digital. Já os empréstimos baseados em DeFi oferecem maior transparência em comparação com outras opções, mas vêm com desafios próprios, como vulnerabilidades em contratos inteligentes, falta de regulamentação e alavancagem oculta por meio de estratégias mal gerenciadas de rehipoteca.
Embora muitas pessoas elogiem os serviços de empréstimos com Bitcoin, outras ainda são céticas.
O investidor de Bitcoin e autoproclamado “maximalista de valor” Brad Mills compartilhou em um post no X que não usou nenhum serviço de empréstimo com Bitcoin, apesar de investir em empresas que os desenvolvem. Ele explicou que valoriza suas participações em Bitcoin mais do que seu patrimônio em empresas de Bitcoin.
“[…] Não vou recomendar um serviço que eu mesmo não usaria... Não peguei empréstimos na BlockFi, Celsius, etc., por causa do risco de rehipoteca. Quando encontrar algo que se encaixe nos meus critérios de risco maximalista de BTC, serei seu maior defensor, independentemente de ser investidor ou não.”
O Bitcoiner @btc_overflow também expressou seu ceticismo:
Bitcoiners expressam ceticismo sobre empréstimos com garantia em BTC. Fonte: @btc_overflow no X
O fim do bloqueio aos empréstimos com Bitcoin
Até 23 de janeiro, a maioria dos grandes bancos não podia oferecer empréstimos com garantia em Bitcoin. Essa limitação decorreu da orientação contábil da SEC, SAB 121, que exigia que empresas listadas divulgassem criptoativos mantidos em nome de clientes como passivos em seus balanços.
Para os bancos, isso complicava a situação, pois os requisitos de capital estão intimamente ligados ao conteúdo do balanço patrimonial. Embora tanto a Câmara quanto o Senado dos EUA tenham votado para revogar a SAB 121, o ex-presidente Biden vetou a decisão, mantendo a regra intacta (embora concedendo algumas exceções ao BNY Mellon).
Em 23 de janeiro, a SEC revogou oficialmente essa diretriz controversa. Isso marca uma mudança significativa e uma possível abertura para que bancos entrem no mercado de empréstimos com garantia em Bitcoin.
Além disso, a equipe jurídica da Coinbase esclareceu que a FDIC foi obrigada a divulgar mais informações sobre as “cartas de pausa” enviadas aos bancos em 2022 e 2023. Em um fio no X, Nic Carter listou 25 documentos da FDIC solicitando que bancos interrompessem várias operações relacionadas ao Bitcoin.
A recente guinada pró-cripto entre legisladores dos EUA provavelmente levará a uma maior exposição ao Bitcoin entre os principais bancos americanos. Isso não apenas aumentará a adoção de cripto, mas também poderá reduzir a pressão de venda sobre o Bitcoin e ajudar a impulsionar seu preço. Do ponto de vista do usuário e do investidor, um mercado maior de empréstimos com Bitcoin pode levar a taxas mais competitivas e condições de empréstimo aprimoradas.
Este artigo não contém aconselhamento ou recomendações de investimento. Toda decisão envolve riscos e os leitores devem conduzir suas próprias pesquisas antes de tomar decisões financeiras.