Nesta quarta-feira 25, durante o Anbima Summit, no painel Criptomoeda e stablecoins: o novo dinheiro em movimento, Eric Altafim, diretor das mesas de câmbio do Itaú, destacou que até 10 anos toda a indústria financeira estará tokenizada.

“Daqui a 5 a 10 anos vamos ver toda a indústria financeira tokenizada, e não vamos falar mais de stablecoins, mas vamos falar de dinheiro digital, porque tudo será dessa forma” disse.

Ele aponta que o Brasil está na dianteira global nesse movimento, graças à atuação coordenada entre Banco Central, CVM e atores privados. “O Drex é um passo importante, mas há uma convergência entre moedas digitais oficiais, stablecoins privadas e novos modelos descentralizados que vão redesenhar a forma como o dinheiro circula.”

Daniel Mangabeira, vice-presidente de Estratégia e Políticas da Circle na América Latina, destacou que as stablecoins já são, hoje, o “killer app” do ecossistema cripto. Segundo ele, mais de 80% do uso de ativos digitais na América Latina está concentrado em stablecoins, superando o próprio Bitcoin em termos de aplicabilidade prática.

“Os maiores casos de uso estão no varejo — remessas, transferências, pagamentos internacionais. Mas cresce cada vez mais a utilização por empresas que precisam movimentar tesourarias entre países”, explicou. Esse movimento ganha força em meio a uma demanda global por eficiência, velocidade e baixo custo nas transferências internacionais.

Para Mangabeira, a ausência de clareza regulatória ainda é um gargalo. “Precisamos de marcos legais sólidos. Sem eles, não há segurança para expansão institucional. O Genius Act nos dá um caminho, mas ainda há pontos em aberto, como a incidência do IOF.”

O papel dos bancos e o salto para a tokenização

A entrada de instituições financeiras tradicionais no setor das stablecoins já é uma realidade — e deve acelerar. “A partir do momento em que há infraestrutura robusta e legitimação legal, é natural que bancos emitam suas próprias stablecoins”, afirma Mangabeira. Com mais de US$ 1 trilhão movimentados apenas em 2023, esse mercado já não pode mais ser ignorado.

Fabio Plein, diretor regional da Coinbase, reforçou o papel das stablecoins como ponte entre o sistema tradicional e o ecossistema cripto. Segundo ele, já há empresas globais movimentando grandes volumes exclusivamente via stablecoins. E dois eventos recentes mostram a institucionalização desse movimento: o IPO da Circle e a aprovação do Genius Act nos EUA.

“A tokenização não é só uma tendência — é uma necessidade. As stablecoins são o canal para chegarmos a um bilhão de usuários no mercado cripto”, declarou Plein. No entanto, ele admite que a dependência atual do sistema bancário ainda limita a escala dessas inovações.

Samir Kerbage, CIO da Hashdex, traçou um paralelo com a internet. “Assim como o WhatsApp tornou a comunicação instantânea, a blockchain permitirá a transferência de valor na mesma velocidade. Estamos diante de uma transformação tão profunda quanto a digitalização das mensagens.”

Para ele, o investimento institucional já se dá de duas formas: via produtos regulados como ETFs e fundos, e pela adoção da infraestrutura blockchain para tokenização de ativos diversos, como imóveis, crédito e equity.

“O sistema financeiro não está apenas mudando. Ele está sendo reconstruído — bloco a bloco, token a token.”