O analista do setor de finanças descentralizadas, ou DeFi, Alex Lielacher, elaborou no Medium uma análise comparativa para tentar compreender se seria possível viver dos rendimentos de protocolos DeFi a partir de um certo capital inicial investido.

Segundo ele, em teoria, seria possível viver inteiramente de rendimentos DeFi se você tiver um investimento inicial suficiente - claro, em um nível de vida mediano, mas especialmente potencializado em mercados emergentes como o caso do Brasil.

No último ano, os retornos expressivos do setor DeFi em farms de rendimento e plataformas de empréstimo ganharam as manchetes e os investidores, que puderam fazer rendimentos substanciais com isso.

"O crescente mercado de DeFi que está criando novos caminhos para os indivíduos ganharem uma renda em criptomoedas. Farms de rendimento e protocolos de empréstimo que geram 100% + APY permitem que os indivíduos depositem ativos digitais para receber fluxos de renda diários em tokens digitais que poderiam - em teoria - até cobrir o custo de vida."

A análise se baseia em protocolos da emergente Binance Smart Chain, considerando o custo de vida de sete cidades diferentes ao redor do mundo.

Porém, como é preciso ressaltar no mercado cripto e especialmente no setor DeFi, é preciso ter em conta algumas informações: (1) os rendimentos têm sempre uma flutuação importante; (2) quanto mais maduro fica este mercado e mais investidores entram nos protocolos, os rendimentos tendem a diminuir; (3) e o preço dos tokens também sofrem oscilações relevantes.

Rendimento em protocolos DeFi da BSC

A análise considerou protocolos das três maiores plataformas DeFi da Binance Smart Chain: PancakeSwap, Beefy e Cream Finance. O analista também considerou um aporte único anual para o retorno sobre o investimento.

Na PancakeSwap, o pool de liquidez considerado foi o TWT-BNB, que rendeu 90% ao ano na época da análise. Já na Beefy, o par TWT-BNB retornou 139% de lucros no LP Vault. E finalmente na Cream, o rendimento em empréstimos foi de 19,29%.

Para basear a análise, foram considerados os rendimentos médios de moradores nas cidades de Berlim (ALE), Hong Kong, Lagos (NIG), Manila (FIL), Nairobi (KEN), Nova York (EUA) e Sidney (AUS). Os custos de vida foram coletados do portal Nubeo e convertidos em dólares americanos.

"Nossa suposição final é que alguém que tentasse viver dos ganhos do DeFi diversificaria seus fundos em todos os nossos três protocolos escolhidos igualmente. Assim, usaremos um “retorno sobre investimento diversificado” para calcular quanto capital em risco seria necessário para viver do DeFi."

O retorno de 83,19% nos revela que os investidores precisam de um investimento inicial suficiente para conseguir dobrar seu capital e ainda lucrar algum dinheiro a mais. Cidades com custo de vida mais caro como Hong Kong, Nova York ou Sydney reforçam a necessidade de um aporte inicial mais alto e os riscos envolvidos na concepção de quem quer "viver de rendimentos DeFi".

Por outro lado, para moradores de cidades de países emergentes como Nairóbi, Quênia e Manila, nas Filipinas, o investimento inicial pode ser mais acessível a "meros mortais". Vejamos os exemplos abaixo:

"Para cobrir o custo de vida anual de US$ 8.225,88 em Nairóbi, você teria que depositar US$ 9.888 e dividir este valor igualmente nos três pools de rendimento escolhidos, baseando-se nas taxas de retorno atuais. Um valor alto para quem vive no Quênia, mas mais acessível para quem vive em países com economias mais desenvolvidas. O mesmo vale para Manila, onde o investimento inicial necessário seria de US$ 13.401. Esse investimento proporcionaria retorno igual ao custo de vida médio anual."

Transportando para a realidade brasileira, um morador de São Paulo, a capital mais cara do país, tem custo médio mensal de cerca de R$ 3.500 por pessoa, segundo um estudo do IBGE de 2020. Com isso, o custo anual, em dólares - e investimento mínimo proposto pelo estudo, desconsiderando a flutuação cambial - seria de US$ 7.835, menor do que as cidades escolhidas no texto do Medium.

Para compensar o investimento inicial e dobrar o rendimento - garantindo o hipotético rendimento mensal, considerando os rendimentos de 83%, um paulistano teria de investir inicialmente cerca de US$ 9.461.

Claro, as variantes envolvidas são muitas: o setor DeFi, como todo o setor cripto, está atrelado a um risco alto nos investimentos. O câmbio entre real e dólar tem flutuado muito nos últimos 12 meses - com prejuízo para a moeda brasileira.

"Tentar “viver de DeFi” é algo que - embora tecnicamente possível no ambiente de mercado atual de DeFi - envolve um risco muito alto para a maioria dos indivíduos. Há casos famosos que levaram a perda de fundos devido a vulnerabilidades de códigos de protocolos, esquemas de phishing e até mudanças regulatórias que afetam todos os mercados DeFi. Indivíduos que procuram ganhar uma renda (adicional) nos mercados DeFi são, portanto, aconselhados a arriscar apenas o quanto de dinheiro podem perder."

Portanto, apesar dos protocolos e pools de rendimento serem uma novidade recente, como todo o setor DeFi, eles são um caminho arriscado - mas possível - para quem quer ampliar seus rendimentos dentro do mercado cripto. As finanças descentralizadas ainda não são capazes de bancarizar a multidão de desbancarizados no mundo, mas oferecem uma alternativa descentralizada e acessível a muita gente para quem se interessa por este mercado.

LEIA MAIS