Primavera De Filippi, pesquisadora do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França (CNRS) e professora associada do Berkman Klein Center for Internet & Society da Universidade de Harvard, publicou um artigo no qual analisa a descentralização nas decisões da rede Bitcoin - e afirmou que a rede não é tão descentralizada quanto se propaga.

Enquanto muitos especialistas defendem que o Bitcoin é a rede menos centralizada no mundo das criptomoedas, o novo relatório de Filippi afirma que existem limitações à governança descentralizada a autonomia na rede Bitcoin.

No documento, a pesquisadora, que também é membro do Conselho Futuro Global sobre Tecnologia Blockchain no Fórum Econômico Mundial, disse que a tecnologia blockchain tem o potencial de causar uma disruptura em muitos setores que atualmente dependem de uma autoridade confiável, eliminando a necessidade de intermediários.

Apesar de falar sobre o potencial desta tecnologia, Filippi afirmou que a governança da maioria das redes ou aplicativos baseados em blockchain é altamente centralizada e que é difícil discernir o grau real de descentralização que caracteriza essas redes devido às suas naturezas pseudônimas:

"Uma investigação mais aprofundada pode revelar que a governança dessas redes é muitas vezes mais centralizada do que parece à primeira vista. Quando analisamos mais de perto a maneira como o Bitcoin opera, não demora muito para perceber que sua governança é realmente bastante centralizada”.

Filippi acredita que existem apenas alguns desenvolvedores que têm o conhecimento, a experiência e o poder necessários para decidir na evolução do protocolo Bitcoin. 

Segundo ela, o protocolo para validar transações hoje se tornou altamente concentrado em alguns grandes pools de mineração, que atualmente controlam a grande maioria da rede.

A pesquisadora criticou o sistema de consenso que rege a rede Bitcoin - Proof of Work (PoW) -  e afirmou que ele é o responsável pela "centralização da rede".

Apesar do tom crítico do texto de Fillipe, outros especialistas discordam da pesquisadora. A mesma polêmica surgiu na rede Bitcoin na época da implementação da tecnologia Segwit em agosto de 2017.

Durante o processo, a rede Bitcoin foi acusada de centralização pois - segundo alguns membros da comunidade acadêmica - quem decidiria se o novo código iria ser implementado ou não eram os mineradores.

Na época, Andreas Antonopoulos - um dos maiores especialistas em Bitcoin do mundo - afirmou que quem valida as alterações no código do Bitcoin são os nós, não os mineradores.

Antonopoulos explicou que um sistema chamado UASF (User Activation Soft Fork) foi criado por Satoshi Nakamoto justamente para eliminar o risco de os mineradores terem mais controle sobre a rede que os usuários.

Embora Filippi tenha críticas ao sistema de consenso Proof of Work, como mostrou o Cointelegraph, Samsom Mow acredita que somente os projetos que utilizam o PoW deveriam ser chamados de criptomoedas.