O ouro, um dos ativos mais antigos e confiáveis como reserva de valor, sofreu uma liquidação brutal em apenas 24 horas, eliminando trilhões de dólares em valor de mercado, mais do que todo o valor do Bitcoin.
O mercado de ouro estendeu a forte correção de terça-feira, com US$ 2,5 trilhões sendo apagados de sua capitalização de mercado na quarta-feira, segundo a publicação de análise financeira The Kobeissi Letter.
Com uma queda de 8%, o movimento colocou o ouro a caminho de seu maior recuo de dois dias desde 2013, gerando pânico entre investidores que recorreram ao metal como proteção contra a inflação e a volatilidade do mercado, após sua alta de 60% no início de 2022.
Embora o Bitcoin (BTC), frequentemente chamado de “ouro digital” por causa de sua oferta limitada, seja conhecido por correções diárias muito mais acentuadas, com quedas de dois dígitos, a recente derrocada do ouro mostra que até mesmo os ativos considerados “porto seguro” não estão imunes a fortes liquidações.
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A magnitude da correção é altamente incomum e, em teoria, só ocorreria “uma vez a cada 240 mil dias de negociação”, observou Alexander Stahel, investidor do setor de recursos na Suíça, em uma publicação no X na terça-feira.
“O ouro está nos dando uma lição de estatística”, disse ele, acrescentando que o ativo já enfrentou quedas ainda maiores desde 1971, totalizando 21 correções dessa magnitude.
Ao abordar as razões por trás da queda, Stahel apontou o crescente medo de ficar de fora (FOMO), já que o “furor do ouro” ganhou força entre investidores que buscavam exposição a ações de mineração, barras físicas e ouro tokenizado.
“Foi o FOMO que impulsionou a última alta. Agora, o movimento de realização de lucros e as ‘mãos fracas’ foram eliminados”, disse Stahel, acrescentando que, estatisticamente, há chances de “dias mais calmos pela frente”.
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Com a queda de US$ 2,5 trilhões do ouro superando toda a capitalização de mercado do Bitcoin, de US$ 2,2 trilhões, alguns analistas destacaram a magnitude da correção em comparação ao mercado de criptomoedas.
“Em termos de capitalização de mercado, o declínio do ouro hoje equivale a 55% do valor de todas as criptomoedas existentes”, escreveu o trader Peter Brandt em uma publicação no X na terça-feira.
O Bitcoin, frequentemente criticado por sua volatilidade, um dos principais argumentos contra sua legitimidade como reserva de valor, caiu 5,2% a partir da máxima intradiária de US$ 114 mil, embora as perdas diárias fossem de cerca de 0,8% no momento da redação, segundo dados da Coinbase.
Enquanto os fundos negociados em bolsa (ETFs) de Bitcoin spot registraram fluxos de entrada de US$ 142 milhões ontem, o sentimento do mercado cripto mais amplo mergulhou em “medo extremo”, com o Índice de Medo e Ganância das Criptomoedas atingindo níveis não vistos desde dezembro de 2022.
A recente volatilidade do ouro ocorre semanas após Marion Laboure, estrategista macro do Deutsche Bank, ter apontado semelhanças entre o ouro e o Bitcoin, que poderiam tornar o ativo digital uma reserva de valor atraente.
Os analistas do Deutsche Bank também enfatizaram que, apesar de o ouro ter atingido novas máximas em dólares, ele só superou suas máximas históricas ajustadas em termos reais no início de outubro.