A histórica Lei GENIUS dos EUA pode servir como um importante catalisador para a adoção de stablecoins, tanto no mercado interno quanto no externo. Mas, em vez de apenas aumentar a demanda por moedas digitais lastreadas em dólar, ela pode, de forma não intencional, direcionar capital para o mercado de tokenização, à medida que investidores buscam rendimento sobre seus ativos.
Essa foi uma das principais conclusões de uma recente entrevista com Will Beeson, ex-executivo do Standard Chartered e atual fundador e CEO da Uniform Labs, desenvolvedora de soluções de liquidez institucional para mercados financeiros tokenizados.
Uma das disposições centrais da lei GENIUS é a proibição geral de stablecoins com rendimento, o que impede que detentores recebam juros sobre seus saldos em dólares digitais. Segundo Beeson, essa restrição acelerará o fluxo de capital para ativos do mundo real (RWAs) tokenizados.
“Com as stablecoins com rendimento fora de cogitação, as instituições precisam de uma forma compatível para obter rendimento mantendo a liquidez”, disse Beeson ao Cointelegraph. “O capital já está mudando de direção.”
Ele observou que trilhões de dólares em stablecoins sem rendimento estão prontos para entrar nas finanças digitais. “Detentores institucionais não vão deixar ativos ociosos e em depreciação parados. Eles vão exigir rendimento e infraestrutura que permita acessá-lo de forma compatível”, afirmou, acrescentando:
“A próxima fase não é sobre manter stablecoins paradas. É sobre acesso programático a rendimento livre de risco e a capacidade de alternar entre dinheiro e ativos de alta qualidade quando quiser.”
A visão de Beeson é compartilhada por Solomon Tesfaye, da Aptos Labs, que disse ao Cointelegraph que a lei GENIUS beneficiará a tokenização tanto quanto as stablecoins.
Para atender a essa demanda, a Uniform Labs de Beeson está desenvolvendo o Multiliquid, uma camada de liquidez institucional para mercados tokenizados que permite conversão programável e em tempo real entre ativos tokenizados, como títulos do Tesouro dos EUA e fundos do mercado monetário, e stablecoins.
O design de arquitetura aberta do Multiliquid permite que emissores compatíveis se integrem sem acordos comerciais.
Sem citar nomes, Beeson confirmou que a Uniform Labs está “trabalhando com diversas instituições líderes, fintechs e emissores de stablecoins” antes de seu lançamento em produção ainda este ano.
Antes de fundar a Uniform Labs, Beeson atuou como diretor de produtos na Libeara, uma plataforma de tokenização incubada pela SC Ventures, do Standard Chartered.
O avanço da tokenização deve se expandir além do crédito privado e dos títulos públicos
Embora a lei GENIUS dê nova legitimidade às stablecoins e às moedas digitais em geral, “a próxima fase dos ativos digitais está focada na tokenização de ativos”, escreveu Sandra Waliczek, integrante da divisão de blockchain e ativos digitais do Fórum Econômico Mundial.
Waliczek destacou o potencial da tokenização para democratizar o acesso a classes de ativos como imóveis e private equity, historicamente restritos a investidores mais ricos.
“A tokenização muda isso ao possibilitar a fracionalização de ativos, dividindo-os em unidades menores e mais acessíveis”, escreveu.
Até agora, o mercado de tokenização de quase US$ 26 bilhões se concentrou principalmente em crédito privado e títulos públicos. Mas, como observou Beeson, a disrupção vai se estender muito além desses segmentos, abrangendo “títulos corporativos, crédito e fundos de crédito, commodities, ações, fundos imobiliários, fundos de private equity e, por fim, o próprio private equity e os ativos imobiliários”.