Resumo da notícia

  • Méliuz converteu R$ 370 milhões em Bitcoin, tornando-se líder na América Latina.

  • Cada ação agora equivale a 536 satoshis, ampliando o valor por ação.

  • Estratégia busca integrar mercado de capitais e economia digital via ativos tokenizados.

A Méliuz, empresa conhecida pelo seu programa de cashback e serviços financeiros digitais, decidiu dar um passo ousado e inédito no Brasil: transformar o Bitcoin em sua principal reserva de tesouraria.

Durante sua participação no podcast para a Blockchain Conference Brasil, Diego Kolling, diretor da Méliuz, destacou para Felipe Escudero e ao Cointelegraph Brasil, que a decisão surgiu em um momento de desvalorização extrema das ações da empresa.

“O mercado estava nos precificando a R$ 0. Tínhamos R$ 250 milhões em caixa e valíamos o mesmo na bolsa. Isso era irracional”, explicou.

Foi nesse contexto que o fundador Israel Salmen decidiu reposicionar o negócio. Ao deixar o cargo de CEO para se dedicar à estratégia de longo prazo, ele apostou em uma reestruturação financeira ancorada no Bitcoin como reserva de valor.

Do caixa em reais ao cofre em satoshis

A virada começou em novembro de 2024, quando a Méliuz optou por converter a maior parte de seu caixa, R$ 190 milhões, em Bitcoin. A decisão foi aprovada pelos acionistas em assembleia no dia 15 de maio de 2025, formalizando o início de uma nova fase: a transformação da Méliuz em uma Bitcoin Treasury Company, ou seja, uma empresa cujo objetivo é aumentar a quantidade de bitcoins por ação.

De acordo com Kolling, o racional econômico foi simples.

“O CDI não cobre a desvalorização da moeda, e a tributação de 34% sobre os rendimentos corroía o ganho real. Estávamos enxugando gelo”, afirmou. Diante desse cenário, o Bitcoin apareceu como uma alternativa mais eficiente para preservar valor e rentabilidade.

Hoje, a Méliuz já possui cerca de 604 bitcoins e superou gigantes regionais como o Mercado Livre. Desde o início da estratégia, a empresa gerou mais de US$ 1 milhão de lucro apenas com o caixa convertido em BTC. Todo o resultado operacional é novamente reinvestido em Bitcoin.

Um novo modelo para o mercado de capitais brasileiro

A iniciativa da Méliuz não se limita à compra direta. A empresa busca integrar o mercado de capitais tradicional à economia do Bitcoin, criando instrumentos financeiros lastreados em BTC.

“Nosso papel é ‘envelopar’ o Bitcoin, oferecer produtos de renda fixa e variável com lastro em criptomoedas, atendendo tanto investidores conservadores quanto arrojados”, explicou Kolling.

O plano é inspirar-se em empresas como a Strategy, liderada por Michael Saylor, que construiu um modelo de captação baseado em dívidas e emissões de ações para financiar compras de Bitcoin.

“Essas companhias funcionam como cavalos mecânicos que bombeiam Bitcoin do mercado. Em um braço emitem dívida para comprar BTC, no outro emitem ações para se desalavancar. É um ciclo virtuoso que faz o tesouro crescer”, disse Kolling.

Para acelerar esse processo, a Méliuz realizou um follow-on de R$ 160 milhões, emitindo 25 milhões de novas ações. Todo o valor captado foi convertido em Bitcoin, consolidando o perfil híbrido da companhia, parte empresa operacional lucrativa, parte reserva digital de valor.

Atualmente, cada ação da Méliuz representa 536 satoshis, um número dez vezes maior do que no início de 2025. O objetivo, segundo Kolling, é “crescer esse número agressivamente” e permitir que o investidor enxergue as ações da Méliuz como um token de Bitcoin com três pernas: operação, tesouraria e securitização.

A nova fronteira da adoção corporativa de Bitcoin

A Méliuz abriu caminho para o que pode se tornar uma tendência no mercado brasileiro. Segundo Kolling, outras empresas já demonstram interesse em seguir o mesmo modelo. Uma delas é a Orange, fundada por nomes conhecidos do ecossistema cripto nacional, como Fernando Ulrich e Guilherme Rennó. No entanto, a Méliuz se diferencia por ter uma operação consolidada, com mais de 40 milhões de usuários cadastrados e presença ativa no varejo digital.

Essa combinação de negócio tradicional com inovação financeira dá à empresa uma vantagem estratégica. Enquanto competidoras nascem apenas como tesourarias cripto, a Méliuz possui infraestrutura, base de clientes e experiência em produtos financeiros. “Podemos oferecer serviços de compra e venda de Bitcoin direto no aplicativo, integrando cashback e investimento digital”, destacou Kolling.

O executivo também ressaltou que o modelo de “Bitcoin Treasury Company” é sustentável apenas para empresas sólidas e com disciplina financeira. “Nem todas vão conseguir manter limites responsáveis de endividamento. As que se alavancarem demais vão sofrer nos ciclos de baixa do mercado”, alertou.

Segundo ele, o grande risco é o mesmo que acompanha todo o setor: a volatilidade e a natureza cíclica do Bitcoin. Empresas que entenderem esse comportamento e atuarem com prudência, no entanto, podem superar o próprio ativo em rentabilidade. “Assim como na bolha da internet, muitas companhias vão quebrar, mas as diligentes sobreviverão e se tornarão gigantes.”