O tempo em que o Bitcoin floresceu nos fóruns cypherpunks como uma 'guerra'; uma alternativa ao sistema financeiro tradicional ficaram 'de lado' na medida em que o crescimento do valor, adoção e popularidade do Bitcoin, levou o criptoativo a alta de 1.000%, cada vez mais se 'integrando' ao sistema que um dia ele buscou 'combater'.
E, nas últimas semanas, ficou ainda mais evidente que o mercado de criptomoedas está cada vez mais interligado aos mercados tradicionais e também mais institucionalizado, com ETFs, gestoras e bancos tradicionais, inclusive boa parte dos mesmos que estiveram envolvidos com a crise bancária que está gravada para sempre no bloco Genesis do BTC para lembrar o motivo de sua criação.
Durante a crise, a BlackRock, hoje aclamada como um grande 'bitcoiner', foi contratada pelo governo dos EUA e outras instituições financeiras para ajudar na administração de ativos tóxicos e na reestruturação de carteiras que continham esses ativos de risco. Por exemplo, a BlackRock foi escolhida para administrar os ativos dos programas de resgate do governo dos EUA, como o Maiden Lane, criado para ajudar a estabilizar o mercado financeiro.
Sebastián Serrano, fundador da Ripio, destacou ao Cointelegraph Brasil, este novo 'momento do Bitcoin e como os recentes movimentos no mercado cripto e fatores globais têm influenciado este setor, que um dia foi aclamado por ser descorrelacionado com o sistema financeiro.
Segundo Serrano, as quedas significativas de preços observadas entre a sexta-feira passada e a segunda-feira atual fazem parte de um contexto macroeconômico complexo.
"Estamos vendo tensões geopolíticas, processos eleitorais, movimentos de taxas de juros em diferentes continentes, liquidações institucionais pesadas e dinâmicas financeiras e comerciais internacionais em torno do dólar e do iene", explica.
Ele ressalta que, embora o mercado cripto tenha seu próprio ritmo e regras, a integração global com o mundo financeiro tradicional torna inevitável que eventos externos impactem criptomoedas como Bitcoin, Ethereum, Solana, entre outras.
Taxa de juros e Bitcoin
Um exemplo recente destacado por Serrano foi o aumento da taxa de juros pelo Banco Central do Japão (BCJ) na sexta-feira, 02 de agosto. "A taxa de juros do BCJ estava em zero por muitos anos, facilitando o carry trade. Quando o BCJ aumentou a taxa em 0,25%, muitos fundos tiveram que vender suas posições, o que afetou também as criptomoedas", detalha.
A saída de fundos de carry trade resultou em uma venda significativa de criptoativos, tornando o mercado mais vulnerável.
Serrano também comentou sobre a situação econômica dos Estados Unidos. "Dados econômicos recentes não muito favoráveis levaram muitos a pensar que poderíamos estar caminhando para uma recessão global. No entanto, acredito que esses dados devem ser lidos com cautela. A economia dos EUA não está tão mal no momento, embora esteja pressionando pela redução das taxas, o que poderia beneficiar o mercado cripto."
Além disso, as eleições nos EUA trazem incertezas adicionais. "Donald Trump, agora pró-cripto, poderia influenciar significativamente o mercado caso seja eleito, com propostas de estocar reservas de BTC e mudanças na liderança da SEC", acrescenta.
A crescente instabilidade geopolítica é outro fator de preocupação. "Temos duas guerras em andamento, na Rússia e Ucrânia e no Irã e Israel. Os mercados não gostam de guerras, e isso está sendo precificado de forma negativa", comenta Serrano.
Institucionalizado, mas em tendência de alta
Apesar dos desafios atuais, Serrano mantém uma visão otimista para o futuro do mercado cripto. "Minha impressão é que todas essas reviravoltas econômicas são apenas ruído. A longo prazo, podemos ver uma correção acentuada, como em março de 2020, antes de um grande impulso de alta."
Ele destaca a rápida recuperação de parte do mercado cripto como um sinal positivo. "Ethereum rompeu a resistência de 2.500 USD, e Bitcoin rompeu a resistência de 55.230 USD, podendo buscar novas altas. Solana também mostra sinais promissores."
Sebastián Serrano conclui que o mercado cripto não está enfrentando uma crise isolada, mas sim um cenário global complexo. "O que podemos fazer é analisar os últimos 20 meses desde o início de 2023. Bitcoin começou 2023 em 16.600 USD e, apesar das quedas, está 34% acima do preço de abertura do ano."
Ele acredita que estamos próximos de novos marcos históricos para o mercado cripto. "Há uma grande parte do ecossistema que acha que acabamos de passar pelo 'último grande dip' antes de um movimento de alta espetacular, semelhante ao de 2020. Se isso acontecer, veremos novos marcos históricos nos próximos meses", conclui Serrano.