Os preços dos criptoativos saltaram nos últimos 30 dias. No acumulado mensal, o Bitcoin (BTC) exibe 26% de crescimento no momento da escrita desta matéria. Altcoins mostraram crescimentos ainda mais expressivos nesse período, como Solana (SOL), que valorizou 128,6%, e Chainlink (LINK), que disparou 76,5%.

A disparada repentina e expressiva nos preços costuma induzir os investidores ao sentimento de FOMO, sigla em inglês para o termo “medo de perder a oportunidade”. Como o nome sugere, esse sentimento faz com que investidores tomem decisões de investimento apressadas, influenciados pelo medo.

Investimentos feitos sob FOMO, por isso, costumam gerar prejuízos aos investidores. O Cointelegraph Brasil conversou com investidores veteranos sobre quais técnicas podem ser aplicadas em momentos como esse.

Estudar e traçar um plano

Investidores lidam constantemente com diferentes vieses cognitivos. Esses vieses, dos quais o FOMO faz parte, são padrões que alteram a percepção de um indivíduo em um momento específico e assumem diferentes formas. 

Henrique Paiva, analista CNPI do coletivo Cripto Select, afirma que esses vieses surgem pois os seres humanos não são preparados para investir. “Em outras palavras, o ser humano é, por natureza, um péssimo investidor”, acrescenta.

Por isso, estudar e revisar os diferentes vieses pode ser uma forma de se tornar consciente dos erros que podem ser cometidos e tentar evitá-los. Como recomendação, Paiva menciona o livro “Psicologia Financeira”, de Morgan Housel.

O próximo passo, destaca o analista, é prático: criar planos prévios e definir uma forma sistemática de investir. Desta forma, o investidor cria uma ‘âncora’ de resistência ao FOMO, resistindo à força dos diversos outros investidores ao seu redor que estão realizando aportes em um ativo.

“Nesse momento, o investidor precisa parar, analisar e ponderar, respondendo a algumas perguntas. Por que eu não investi no ativo antes? O que mudou nos fundamentos que agora o tornou interessante e antes não? Estou sendo induzido pela manada ou agora é realmente um bom momento? Se é um bom momento, como vou realizar a entrada? Quando pretendo sair da posição?”, explica Paiva.

O investidor que se identifica como CarteiroNFT também destaca a importância de criar parâmetros de investimento que, quando somados, resultam em planos para navegar pelo mercado de criptomoedas

Uma boa adição nesses planos, diz o investidor, é criar um diário com todos os investimentos feitos, especialmente aqueles que não tiveram bons resultados. Torna-se mais fácil, então, identificar quando o FOMO ocasionou perdas, deixando viva a memória do quão prejudicial pode ser ceder a esse viés cognitivo.

“Também gosto de falar com outras pessoas sobre o mercado e colher geedback do que eles pensam também, por fazer parte de uma comunidade que já está a um tempo no mercado, facilita para que a gente não caia nessas pequenas armadilhas invisíveis. Não é nada fácil, mas com uma boa gestão, o FOMO vai ser incapaz de te arrastar”, conta CarteiroNFT.

Rodrigo Miranda, investidor e fundador da Universidade do Bitcoin, diz que o FOMO está ligado a um sentimento comum no mercado financeiro: a ganância. Ele destaca que é normal ver investidores pretendendo investir em ativos que valorizam dois dígitos rapidamente.

Miranda destaca, no entanto, que há um problema maior no FOMO. O que ocorre, geralmente, não é a compra impulsiva do ativo, mas o contrário. O investidor observa a valorização, fica receoso e não realiza aportes. Nesse processo, o indivíduo acumula um profundo sentimento de arrependimento. E é esse arrependimento que pode fazer com que o investidor cometa deslizes.

“O problema é que, quando o mercado já subiu muito, e depois de ouvir tanta gente falando que tal criptomoeda vai para a lua, este mesmo investidor quer encher a mão e comprar tudo de uma vez só. E, na grande maioria dos casos, ele é o azarão que compra o topo e agora terá que amargar uma grande correção, e ter muito estômago para recuperar o prejuízo no próximo ciclo”, avalia Miranda.

E se for necessário entrar?

Embora seja arriscado entrar em um ativo que já expressou uma forte valorização em um curto espaço de tempo, não é possível prever quão explosivo será o avanço. Por isso, investidores podem abraçar o risco e tentar investir nessas condições.

Henrique Paiva, do Cripto Select, afirma que o recuo nos preços de alguns criptoativos, como Bitcoin e Ethereum (ETH), podem não acontecer tão cedo após uma valorização expressiva. “O ativo pode subir abruptamente e te deixar de fora, o que pode ser não apenas ruim financeiramente, mas devastador psicologicamente”, acrescenta.

Ao decidir acumular um ativo, portanto, Paiva afirma que pequenos aportes periódicos são a melhor opção, estratégia conhecida pela sigla em inglês DCA.

“Pequenos aportes regulares permitem que você não fique de fora do ativo caso ele tenha um forte aumento, e se houver um recuo, o aporte contribuirá para melhorar seu preço médio. Em recuos próximos da média de 200 dias, ou qualquer valor abaixo desta, é quando podemos entrar com uma ‘mão um pouco mais pesada’, intensificando os aportes”, avalia.

O analista alerta, porém, que essa estratégia é para investidores focados em uma valorização no longo prazo. É importante ressaltar que essa estratégia é voltada para o ‘holder’, aquele que deseja comprar e manter o ativo a longo prazo.

CarteiroNFT também avalia que realizar DCA em ativos com valor de mercado maior pode ser a melhor estratégia de investimento para o longo prazo. Agora, para as operações focadas nos lucros em um curto prazo de tempo, o investidor comenta sobre diferentes práticas.

“Aguarde correções no preço do ativo; melhor ver a valorização do que tentar entrar no meio do movimento e capotar na queda; tenha confirmações do que você pensa, observando outros investidores que são confiáveis e realmente utilizam dinheiro para operar; mesmo com essas confirmações, sua própria tese deve valer mais do que outra opinião, pois só você sabe como vai botar a cabeça no travesseiro se perder 20% do capital”, elenca CarteiroNFT.

Rodrigo Miranda, da Universidade do Bitcoin, também acredita que o DCA é a melhor maneira de se posicionar em ativos como BTC e ETH, mesmo após altas expressivas. Ele enfatiza que, nesse caso, a primeira compra é a menos importante. O único propósito é tirar o medo do investidor e impulsioná-lo a criar uma estratégia, quebrando o cenário de medo mencionado por ele ao falar do FOMO.

“Falando do Bitcoin, por exemplo, dados onchain e análises gráficas apontam para o retorno de uma fase de alta antes do previsto se passarmos definitivamente da zona entre US$ 34 mil e US$ 35 mil”, comenta Miranda. “Por isso, o risco de estar fora é muito maior que o risco de estar dentro. Então, eu entraria agora, seja fazendo a primeira compra ou acumulando mais um pouco, no caso de quem já estava posicionado”, conclui.