Para o economista e fundador da gestora GMO, Jeremy Grantham, o mercado de investimentos, incluindo o Bitcoin e criptomoedas, vive uma bolha causada pela alta liquidez proveniente dos diversos pacotes de estímulo econômico editado pelos governos em todo o mundo

No entanto Grantham que já previu duas grandes bolhas, a das empresas pontocom, no início dos anos 2000, e a do subprime, em 2008, destaca que esta nova bolha é "atípica", mas como todas as outras, ela vai estourar e levar consigo uma leva de investidores que acreditam que os preços dos ativos vai subir eternamente.

Em entrevista ao Valor, Grantham afirma que o comportamento das pessoas físicas no mercado de investimentos se tornou inconsequente devido a esta alta liquidez nos mercados e que este comportamento pode fazer a bolha perdurar por mais um tempo, contudo, um dia tudo vai ruir e a vacina contra o Covid pode ser o grande catalizador.

"A bolha atual tem sido inflada pelo comportamento inconsequente dos indivíduos, com os institucionais pegando carona”, diz o gestor.

Excesso de liquidez

Na entrevista Jeremy argumenta que a atual bolha no mercado é causada por três características, um Federal Reserve [Fed, o BC americano] muito amigável, variação extrema de preços e um comportamento louco de investidores.

"O BC americano tem deixado claro que será amigável com os investidores, e que vai deixar as taxas tão baixas quanto puder e por tanto tempo quanto quiser, em um processo de manter dinheiro disponível para a especulação.", disse.

Segundo, cerca de 30% do PIB dos EUA foi gerado por meio de pacotes de estímulo econômico e acabou nas mãos de investidores individuais que estão alocando este dinheiro em ativos de risco e especulativos.

Porém, ele argumenta que em determinado momento este pacotes de estímulo serão encerrados e o dinheiro que está fluindo para o mercado como uma torneira aberta vai começar a pingar e os mercados vão se ajustar.

"Ou seja, quanto mais alto, mais doloroso será voltar ao normal", argumenta.

Vacina

Segundo argumenta Grantham, o principal gatilho para o estouro da atual bolha econômica pode ser a vacinação em massa contra a Covid-19 que, segundo ele, vai trazer as pessoas de volta à realidade.

"Quando o último dos investidores for vacinado e, talvez, dar uma festa, viajar e resgatar tudo o que planejava de sua vida [antes da covid-19], então ele vai sentar e perceber que o mundo está cheio de problemas, como era em 2019 antes da pandemia, e que o mercado acionário está muito mais caro, ainda que o mundo basicamente tenha voltado ao que era dois anos atrás", disse.

No entanto, segundo ele, quando isso vai acontecer ainda é incerto, porém no segundo semestre do ano o 'ar' da bolha já vai começar a vazar e afetar este excesso de liquidez dos mercados.

"A pergunta é: quanto tempo vai levar para isso acontecer? Acho que agora pelo verão [do hemisfério norte], à medida que as últimas pessoas vão receber as vacinas seria um momento para a bolha começar a esvaziar. Mas talvez o tamanho do programa de estímulo do governo prorrogue [a bolha] por mais algum tempo. US$ 1,9 trilhão é muito dinheiro. Mas não ficaria surpreso se o S&P 500 cair 15% em dois anos ou dois anos e meio", pontuou.

Bitcoin não é ouro digital

O gestor também pontuou que não acredita no potencial do Bitcoin e que a principal criptomoeda do mercado ainda deve ver seu valor subir e atingir novos patamares.

Ele pontua que a tecnologia blockchain é uma revolução e será cada vez mais usada, porém o BTC não gera qualquer valor, segundo ele, é um ativo especulativo em sua essência e, portanto, também vai sofrer as consequências do estouro da bolha.

"O Bitcoin é um tema muito complexo e interessante. A tecnologia subjacente é, claramente, uma poderosa evolução e será usada cada vez mais. Se você está preocupado em manter uma reserva de valor, pode ter um pouco de ouro. O ouro tem sido testado há 10 mil anos ou mais. É indestrutível e único em seus atributos. Então é uma boa escolha, se quiser ter uma moeda com valor baseado em fé. Agora, obviamente, o bitcoin não tem valor intrínseco.', disse.

Segundo ele, o Bitcoin não faz crescer nada e não produz nada e portanto, não há retorno real.

"Acho que o bitcoin ainda vai atingir valorizações mais elevadas até que os governos comecem a bloqueá-lo. Quem quiser aplicar nesse tipo de ativo, vá em frente e se divirta, mas meu palpite é que, um dia, vai acabar essencialmente sem valor. Isso é uma loucura para alimentar uma desnecessária máquina de especulação", finalizou.

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