O CTO da Tether, Paolo Ardoino, compartilhou com o Cointelegraph Brasil, em uma entrevista exclusiva, sua visão sobre o futuro das criptomoedas e stablecoins no Brasil e os planos da Tether para o país.

A entrevista abrangeu uma variedade de tópicos, desde as ambições da Tether na América Latina até como a empresa está navegando no ambiente regulatório global. A Tether, empresa cujos tokens são amplamente utilizados em regiões como América Latina, Ásia e Europa, vê o Brasil como um mercado importante.

No primeiro trimestre de 2023, as transações de stablecoin e criptomoedas dominadas por USDT no Brasil totalizaram R$ 37,1 bilhões, o que representa 81% do valor total negociado. Segundo ele, a Tether planeja expandir seu alcance e contribuir para um futuro melhor para os cidadãos latino-americanos, oferecendo acesso a fontes alternativas de financiamento.

Na entrevista, Ardoino destacou que as stablecoins experimentaram um crescimento significativo em capitalização de mercado e volume on-chain, chegando a US$ 79,5 bilhões no mês passado. Isso representa 60% de todas as stablecoins em circulação. Ardoino atribui o crescimento a capacidade das stablecoins de fornecer inclusão e democratização do acesso financeiro.

Para países latino-americanos que sofrem com alta instabilidade cambial, como Argentina, Venezuela e Brasil, o CTO da Tether disse que a empresa está posicionado como uma solução eficiente. A região tem um próspero ecossistema de criptomoedas, e o Tether é popular para enviar remessas e para negociações ponto a ponto.

Brasil e stablecoins

Ardoino afirma que a Tether tem como objetivo operar com segurança e transparência, engajando-se ativamente com reguladores globais. Ele destaca que os regulamentos sobre cripto devem equilibrar a proteção aos consumidores enquanto promovem a inovação.

Quanto ao futuro das stablecoins com o surgimento de moedas digitais do banco central (CBDCs), Ardoino acredita que ambas podem coexistir. As stablecoins e os CBDCs servem a propósitos diferentes, com as stablecoins operando em um ecossistema descentralizado ponto a ponto e os CBDCs sendo controlados por autoridades governamentais.

Com o plano do Brasil de permitir que bancos emitam stablecoins em reais, Ardoino acredita que esses tokens poderiam coexistir com stablecoins como o Tether. No entanto, ele enfatiza que o futuro ainda é incerto e dependerá de como as coisas se desenvolverão.

Confira a entrevista completa.

Cointelegraph Brasil: O que o Tether espera do Brasil?

Paolo Ardoino: a Tether visa construir globalmente cidades movidas a criptomoedas, com foco na América Latina. Os tokens Tether já são amplamente utilizados na região como um meio estável e eficiente de transmissão de dólares, proporcionando uma fuga da volatilidade da moeda. O Tether facilita o comércio e a arbitragem, tornando-o popular entre os clientes da América Latina, bem como da Ásia e da Europa, para acessar o sistema financeiro global.

No primeiro trimestre de 2023, o USDT dominou as transações de criptomoedas e stablecoins no Brasil, com um total de 37,1 bilhões de reais, o que representa 81% do valor total negociado em criptomoedas e stablecoins até o primeiro trimestre.

Enquanto os bancos brasileiros ainda desfrutam da confiança como portos seguros para o dinheiro, há um mercado crescente de residentes usando USDT para acesso rápido e fácil ao sistema financeiro. É por isso que parcerias, como a do SmartPay com o Tether, que permite o acesso em USDT em mais de 24.000 caixas eletrônicos em todo o país, são tão importantes para os residentes que preferem usar os tokens Tether via Pix para pagar suas contas ou bens e serviços.

CTBR: Quais são as ações do Tether para o mercado brasileiro?

PA: à medida que mais pessoas em todo o Brasil buscam estabilidade e inclusão financeira, a popularidade do Tether está crescendo. Stablecoins como USD e BTC estão sendo usados ​​para comércio internacional e remessas, o que está beneficiando mercados emergentes como o Brasil.

A Tether visa expandir seu alcance e ajudar a criar um futuro melhor para os cidadãos latino-americanos, oferecendo acesso a fontes alternativas de financiamento. O USD oferece taxas mais baixas, transações mais rápidas e serve como método de pagamento. Essa inovação tem o potencial de atender às restrições de financiamento em países que enfrentam taxas de juros mais altas, marcando um desenvolvimento significativo no financiamento brasileiro e global.

Mercado global

CTBR: A que podemos atribuir o crescimento explosivo das stablecoins?

PA: stablecoins, incluindo Tether, experimentaram um crescimento significativo em capitalização de mercado e volume on-chain, atingindo US$ 79,5 bilhões no mês passado, o que representa 60% de todas as stablecoins em circulação. O Tether é particularmente popular em países emergentes onde as moedas nacionais estão se desvalorizando, proporcionando inclusão e democratização do acesso financeiro.

Ele serve como uma solução segura e econômica para remessas, oferecendo estabilidade, disponibilidade e transações rápidas. Os pagamentos transfronteiriços da Tether contornam taxas excessivas cobradas por bancos e empresas de remessa, e os tokens Tether fornecem retornos e segurança não oferecidos pelos bancos latino-americanos.

CTBR: Como o Tether se posiciona em mercados que sofrem com alta instabilidade cambial, como Argentina, Venezuela e talvez o Brasil no governo Lula? Existem particularidades em termos de mecanismos de distribuição, acesso e gestão dirigidos a estes utilizadores?

PA: a América Latina tem um próspero ecossistema de criptomoedas, com ampla adoção impulsionada pela busca das pessoas por liberdade financeira em meio à desvalorização da moeda. Tether, particularmente USDT, é muito popular para enviar remessas, evitando altas taxas bancárias. Também é usado em negociações ponto a ponto e aceito como método de pagamento. Muitos latino-americanos vivem fora de seu país, de modo que o mercado de remessas entrando e saindo do país teve um crescimento exponencial.

O Brasil, em particular, mostra-se muito promissor como mercado para o Tether atender à demanda por ferramentas de liberdade financeira. No Brasil, o USD é usado como forma de evitar as taxas de 10-12% aplicadas pelos bancos.

Os casos de uso do Tether na região continuam além disso, assim como o uso bem-sucedido do USD nos mercados de negociação ponto a ponto (P2P). Parcerias, como a SmartPay, possibilitam a conversão de USDT para reais e dão acesso aos residentes. Acreditamos que os tokens Tether devem ultrapassar as soluções tradicionais de cartões de crédito e débito porque são mais baratos, rápidos e transparentes.

Regulamentação

CTBR: A regulamentação veio para ficar. Veja como o Tether está lidando com isso?

PA: bem, primeiro, a Tether se orgulha de ser uma das únicas empresas que não foi exposta a problemas de mercado que causaram estragos no ecossistema criptográfico, mas isso não aconteceu por acaso.

Levamos o gerenciamento de riscos extremamente a sério e tomamos várias medidas para garantir que as reservas do Tether permaneçam extremamente líquidas. Eliminamos todas as nossas reservas de papel comercial e passamos para ativos mais líquidos, e nossos empréstimos garantidos são extremamente sobrecolateralizados e até mesmo respaldados pelo patrimônio adicional do Tether. Até o final de 2023, nossa meta é reduzir a zero os empréstimos garantidos nas reservas do Tether.

No que diz respeito à conversa mais ampla sobre regulamentos, priorizamos regulamentos sensatos e nos envolvemos ativamente com reguladores globais para operar com segurança e transparência dentro da lei. Cooperamos com reguladores e agências de aplicação da lei em todo o mundo em suas investigações. No entanto, existe o risco de excesso de regulamentação devido à crise de confiança causada por maus atores no ecossistema.

A essência da criptografia é a descentralização e a liberdade financeira, tornando desnecessários os regulamentos onerosos e injustos sobre as reservas. Stablecoins como o Tether servem como uma saída necessária para os comerciantes e fornecem estabilidade para liquidar pagamentos criptográficos. Os regulamentos sobre cripto devem atingir o equilíbrio entre proteger os consumidores e, ao mesmo tempo, promover a inovação.

CTBR: Qual é o futuro das stablecoins como o Tether quando os CBDCs ganharem força?

PA: Primeiro, é importante observar que as stablecoins e as moedas digitais do banco central (CBDCs) operam de maneira diferente em termos de seus sistemas monetários. Stablecoins funcionam dentro de um ecossistema ponto a ponto descentralizado, enquanto os CBDCs são controlados por autoridades governamentais.

Em segundo lugar, também é importante notar que os CBDCs já existem na forma de moeda digital fiduciária mantida em contas bancárias. O Banco Central do Brasil até iniciou um programa piloto de CBDC que permite que indivíduos negociem títulos públicos federais.

Mas argumentamos que as stablecoins, como o Tether, na verdade abriram o caminho para os CBDCs, portanto, é provável que as stablecoins emitidas de forma privada continuem. Mas o que as stablecoins e DeFi trazem para a mesa é uma mudança de paradigma com inovação financeira acelerada, descentralização, anonimato em alguns casos e verdadeira inclusão financeira. Como já vimos, stablecoins e CBDCs podem coexistir porque servem a propósitos diferentes.

CTBR: No Brasil, o projeto do real digital prevê que os bancos poderão emitir stablecoins em reais como forma de captar recursos de terceiros e oferecer tokens para os clientes utilizarem em operações e serviços com a tecnologia blockchain. Qual é o impacto desse tipo de token para o mercado de stablecoin como um todo? Eles competirão com stablecoins como Tether?

PA: Como a primeira stablecoin, a Tether se orgulha de seu status de pioneira e pioneira no mundo das moedas digitais. Embora achemos um pouco divertido ver corporações e bancos agora prestando atenção à força inovadora que são as criptomoedas, como as stablecoins, é difícil prever o que o futuro acarretará em relação às stablecoins emitidas por bancos. Em última análise, acho que eles poderiam coexistir.

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