O evento mais aguardado do mercado de criptomoedas em 2022 está se aproximando e a transição da Ethereum (ETH) de um mecanismo de consenso baseado em Prova-de-Trabalho (PoW) para um algoritmo baseado em Prova-de-Participação (PoS) sugere que toda uma era pode estar chegando ao fim.

Em agosto de 2013, nove entre as 10 maiores criptomoedas em termos de capitalização de mercado utilizavam a Prova-de-Trabalho como algoritmo de consenso. Após 15 de setembro deste ano, restarão apenas o Bitcoin (BTC) e o Dogecoin (DOGE) dependentes deste mecanismo energeticamente intensivo, mas, ao mesmo tempo, advogam seus defensores, mais seguro.

Mas há um número ainda mais significativo: pela primeira vez na história, a capitalização de mercado dos ativos do top 10 baseados em Prova-de-Participação irá superar a dos ativos baseados em Prova-de-Trabalho. Quem sabe em uma antecipação ao famigerado flippening, evento que marcaria a superação do Bitcoin pela Ethereum em termos de capitalização de mercado, que divide o espaço cripto: alguns julgam ser o caminho natural de uma indústria na qual o Bitcoin é o incumbente; outros defendem que o BTC não pode e não deve perder a majestade, pois seria a única rede verdadeiramente descentralizada – e, portanto mais segura, justamente por causa da Prova-de-Trabalho.

Há nove anos, esta discussão não existia e o retrato do top 10 era bastante diverso. Hoje, três stablecoins ocupam as primeiras posições desse ranking, logo atrás dos líderes Bitcoin e Ethereum, configurando-se como uma classe de ativos de extrema relevância, através da qual a liquidez flui para o mercado. Excluído o Dogecoin, cuja presença no top 10 tem sido constantemente ameaçada, todas as outras são criptomoedas baseadas em redes que operam sobre Prova-de-Participação.

Em 18 de agosto de 2013, o para BTC/USD era negociado a US$ 113 e a Ethereum só seria lançado mais de dois anos depois. A segunda maior criptomoeda do mercado era o Litecoin (LTC), também conhecida como "prata digital" em contraponto ao "ouro digital" representado pelo Bitcoin.

Foi justamente nessa época que surgiram os primeiros tokens baseados em Prova-de-Participação, mas, inicialmente, a maioria deles operava de forma híbrida, parte PoW parte PoS. Criado pelo desenvolvedor pseudônimo Sunny King, o Peercoin (PPC) foi a primeira blockchain híbrida a ganhar tração entre a comunidade cripto.

Em agosto de 2013, criptomoedas baseadas em Prova-de-Trabalho ou híbridas presentes no top 10 incluíam Bitcoin, Litecoin, Namecoin (NMC), Peercoin (PPC), Feathercoin (FTC), Novacoin (NVC), Primecoin (XPM), Terracoin (TRC) e Infinitecoin (IFC). Na ocasião, a única moeda não dependente da Prova-de-Trabalho nas dez primeiras posições do ranking era o XRP. Curiosamente – e talvez não por acaso – o token da Ripple ainda faz parte do top 10 do mercado de criptomoedas em 2022.

Dois anos depois, em agosto de 2015, o número de moedas PoW no top 10 já havia declinado, mesmo com o Ethereum figurando no ranking pela primeira vez. Naquela época, seis moedas PoW ocupavam o top 10. Além de Bitcoin, Litecoin e Ethereum, o Dash (DASH), o Dogecoin e o Bytecoin (BCN).

Na época, as moedas híbridas foram perdendo espaço para tokens de redes baseadas exclusivamente em Prova-de-Participação. Banx (BANX) e Bitshares (BTS) eram os ativos de PoS mais valiosos do mercado. O BTS ainda existe e vale US$ 0,010, hoje – 98% menos do que os US$ 0,92 de sua máxima histórica, registrada em janeiro de 2018.

Já o BANX foi extinto após uma polêmica envolvendo dados forjados que sugeriam que a rede crescia em uma velocidade muito maior do que as métricas reais. Tratava-se de uma estratégia do seu criador, Mark Lyford, para atrair investidores para o BANX. Embora hoje esquecido, o caso guarda algumas semelhanças com o desastre do Terra Classic (LUNC) deste ano.

Em agosto de 2017, ainda eram seis as moedas baseadas em Prova-de-Trabalho nas primeiras posições do ranking, embora não exatamente as mesmas de dois anos antes. Bitcoin Cash (BCH) e Ethereum Classic (ETC) substituíram o DOGE e o BCN. As quatro baseadas em Prova-de-Participação eram XRP, Iota (MIOTA), Nem (XEM) e NEO. Tirando o token da Ripple, os demais hoje estão relegados à insignificância.

Dois anos depois, ainda eram seis as moedas de Prova-de-Trabalho no top 10, embora novamente com algumas alterações. A privacy coin Monero (XMR) e o Bitcoin Satoshi Version (BSV) entraram no lugar do Ethereum Classic e do DASH.

Já entre aquelas baseadas em Prova-de-Participação figuram pela primeira vez o Tether (USDT), a stablecoin dominante do mercado, a Binance Coin (BNB), token da maior exchange de criptomoedas do mundo, que ainda hoje mantêm lugar cativo nas primeiras posições do ranking, e o EOS.

Às vésperas do The Merge, em agosto de 2022, tudo indica que a Prova-de-Trabalho ficará restrita unicamente ao Bitcoin em um futuro próximo, visto que há anos o Dogecoin tem um comportamento errático e sazonal. O fato de que se trata da criptomoeda dominante do mercado apenas mostra que o mecanismo de consenso não pode ser descartado como coisa do passado.

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